quinta-feira, setembro 25, 2008

A CORRUPÇÃO É QUEM MAIS ORDENA!

Ó rouxinol, a transparência em excesso também não é bom. É preciso dar algum espaço à imaginação! A nudez não é tão artística, às vezes!
Em verdade em verdade te digo, ó meu caro rouxinol, tu estás no caminho recto, mas lembra-te de que as curvas também existem, as derrapagens são próprias da natureza humana! Cultiva mais a tolerância e então o reino dos céus será teu!!!


Sempre procurei fazer introspecção para aprofundar a minha intervenção cívica. Sempre olhei com olhos de ver para dentro de mim. E sempre ouvi a voz da consciência. Sempre procurei dar-lhe ouvidos... na medida do possível.
Esse o meu azar. Nos tempos do liceu, era considerado um «urso» (daqueles alunos do chamado «Quadro de Honra» que os outros invejavam...) e para meu mal tinha um olfacto apurado para as coisas corruptas. Num regime corrupto, como era o de ante-25 de Abril eu estava sempre a respirar putrefacção. Veio Abril e a coisa piorou, nalguns casos. Fui vítima de algumas putrefactas criaturas que se julgavam acima de tudo e de todos por se dizerem de Abril!
Um dia, fui até interpelado pela minha própria Mãe (talvez discurso encomendado...) que me perguntou: «que ganhas tu com isso?»
Disse-lhe que não me norteava pelo lucro, só pela defesa do bem comum, pela cidadania. Afirmei-lhe que só tinha prejuízos com a minha conduta. «Vais ter problemas toda a vida», garantiu-me ela. E tinha razão.
No dia 11 de Março de 1975, aquando da tentativa do golpe de Estado spinolista, presenciei uma cena que me revoltou. O brigadeiro Lemos Ferreira (depois general CEMGFA) foi a Tancos e falou com os revoltosos. Não os mandou prender nem tomou medidas para isso. Assistiu a factos deveras pouco lisonjeiros. Sabe-se que Spínola procurou contactar Salgueiro Maia então na Escola Prática de Cavalaria (que nunca atendeu o telefone) e face à sua não adesão ao golpe abandonou a BA 3 (Base Aérea nº 3) em helicópteros da própria Força Aérea e foi para Espanha (Talavera La Real) aparentemente sem que ninguém na referida unidade lhe estorvasse os movimentos. Antes pelo contrário!
Como oficial miliciano confrontei o brigadeiro com a sua omissão grave neste caso. Ele nunca mais esqueceu esta minha atitude. Sei que lhe foi instaurado um processo mas ele tinha ligações importantes e protecção americana. Lá se safou. Mas sei que nunca me esqueceu.
Nunca obtive lucros com os meus actos de cidadania, mas muitos dissabores, muitas perseguições.
A minha santa Mãe tinha razão: «toda a vida terás problemas!»
Mas prefiro viver «com problemas» do que assistir impávido e sereno ao derrube da vinha por quem só quer lucros, ambições desmedidas, encher-se de vil metal. «O povo é quem mais ordena», que mentira tão pouco original. Hoje em dia «a corrupção é quem mais ordena!»
Continuarei a ser um simples servo sem direito a vindima, mas contribuindo para a poda e tratamento cívico geral dela...Que ganho com isso? Nada!!!
O povo simples e ingénuo limita-se às «vinhas da ira!» enquanto lhe derem esse direito, pois qualquer dia nem isso!

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