«Ó Pedro diz lá aqui à gente: sempre comeste a Torlloni?!»
«Eu?! Se é isso que pensam de mim, estão muito enganados!»
A opção de Manuela F. Leite por Santana Lopes para a câmara de Lisboa causou alguma perplexidade pois ele era tido (por ela e não só...) como pessoa pouco abonada para o cargo.
Um bon-vivant, um D. Juan, um Casanova de feição lusa, eram os mimos mais frequentemente ouvidos no milieu. Porquê esta viragem?
Qualquer pessoa minimamente inteligente sabe que vai ser difícil derrotar António Costa, sobretudo agora que parece vislumbrar-se uma aliança tácita com o Bloco de Esquerda. Manuela Ferreira Leite sentiu na pele uma feroz oposição interna (sobretudo vinda de Menezes e de Santana), logo faz todo o sentido esvaziar essa força demolidora convidando (estilo presente envenenado...) Santana para um cargo que poderá ser o seu estertor final como político que vai andando por aí!...
Isto dos D. Juans a fazer política sempre me causou certa náusea; eles andam atrelados a fêmeas (não digo mulheres pelo respeito que elas me merecem) em tudo o que é evento social e aparecem sorridentes com elas a tiracolo como que a dizer: «Vede como sou sortudo, vede como sou feliz, tende inveja de mim, ficai verdes como lagartixas!...»
Consideram os adversários políticos uns «invejosos» por causa disso. Gabam-se de serem narcisos e terem motivos para isso! Dizem-se belos como Apolo, julgam possuír um íman para atraír fêmeas, mas se calhar essa força magnética é a mesma que faz atraír as moscas ao lixo!... Há similitudes inquestionáveis!
É isto que vai na mente destes pobres coitados, é este o discurso que eles têm com os seus botões, não erro. Já li algumas obras literárias em que o D. Juan, o Casanova, é satirizado precisamente pela sua forma narcísica de estar na vida, o seu egocentrismo marialvista é hipertrofiado até aos limites do anedótico.
Santana Lopes o «sempiterno presidente de câmara alfacinha» é este mito que passeia a alma por tudo quanto é evento cor-de-rosa na ânsia de ser captado pelos paparazzi e aparecer nas revistas, sempre sorridente, com a taça de champagne sempre à mão, o sorriso mostrando disponibilidade total para o dolcefarniente, a dolce vitta!
É este populismo cor-de-rosa que levou Herman José a perguntar-lhe de chofre num programa de TV: «Pedro, sempre é verdade que comeste a Torloni?»
Ele era secretário de Estado da cultura e ela fora convidada (e bem paga para os preços da época!...) para um espectáculo. Dizia-se à boca cheia que tinha havido algo mais, de tal sorte que Herman fez-se eco da vox populli...
É este homem sempre ostentando um viver farto e pomposo (contrastando com o apertar do cinto da grande maioria dos portugueses, sobretudo agora), com fama de tirar partido dos cargos por onde passa para extraír dividendos (onde a líbido não anda longe) pouco consentâneos com a dignidade que se impõe a quem exerce cargos públicos, que mereceu as preferências da austera e rígida Ferreira Leite. Onde estará a oculta lógica desta preferência?
Porquê? Para quê esta genuflexão da virtude ao vício?!
Ela quer transformar uma carraça (opositor ferrenho e pertinaz) numa borboleta (lambebotas sempre sorrindo à sua passagem e cirandando cheio de salamaleques); quer matar a fome à oposição interna para poder ter um pouco de sossego.
Se ele perder (o mais provável, mas não totalmente certo, tudo depende da conjuntura económica do próximo ano...) terá livre o caminho e só lhe restará um já mais isolado Menezes para esmagar...a não ser que Jardim...
Santana o primus inter pares, o nec pluribus impar (tal qual Luis XIV), continua a andar por aí! Se Jorge Amado cá vivesse, tê-lo-ia , estou certo, como modelo para suceder aos seus «coronéis». Este «coronel» é mesmo o que faz falta para dar gozo à malta!
Enfim , Manuela Ferreira Leite nada ingénua, aderiu ao pragmatismo e matou dois coelhos de uma cajadada! É de Homem!
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