terça-feira, outubro 07, 2008

Eduardo Lourenço, o Senhor Cultura!


Ainda me lembro dos conturbados tempos de Abril em que este Mestre fazia jus ao título. Escrevia no semanário «O Jornal» e nem sempre dizia «amen!» ao que se cá fazia ou dizia. Era um não-alinhado, um livre-pensador que dava gosto acompanhar naquelas avenidas arejadas que só a inteligência fecunda pode criar na mente dos leitores. Tal como Augusto Abelaira e Fernando Namora (que por duas vezes teve a amabilidade de responder pelo seu próprio punho a observações minhas...), foi um dos pilares em que alicercei o meu pensamento, uma das balizas onde procurei estribar a minha formação intelectual.
O seu francófilo pensar, a sua cosmovisão tão genuína, sempre me deram aquele élan tão necessário a quem dá os primeiros passos na arte de cogitar. Ele pensa, logo existe, logo merece o nosso louvor, a nossa atenção. Mas tem presença, tem fascínio, tem aquele aroma espiritual que define os artistas da palavra, os cinzeladores da língua. Com ironia e sarcasmo foi dizendo por eufemismos eruditos aquilo que lhe dava pouco entusiasmo naquela revolução tão escaldante.
E fê-lo com mestria. Burilou com elegância e esmero as sátiras e as chalaças. Com savoire-faire, como dirão os gauleses, também eles embriagados pela sua sapiência.
Só me pergunto o que pensará deste poder que o cultua e que ele tantas vezes critica?
Será a homenagem do vício à virtude?!

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