Neste país mudou-se o regime mas a mentalidade continuou. Há tiques que teimam em manter-se e a eternizar-se. É o caso típico da «cunha», essa instituição nacional a merecer estátuas nalgumas autarquias. Há também os compadrios, os jeitos, as sinecuras, as mordomias, tudo da mesma família...
Há tempos ouvia um telefonema para um presidente de câmara. Mesmo na minha presença o sujeito não se inibiu. Era assim:
_Meu caro presidente o tipo é de confiança. Não tem as habilitações necessárias mas é um ferrenho nas campanhas. Vai fazer propaganda às tantas da madrugada, combate nos cafés, na paróquia é muito interveniente, dá uma ajuda no rancho. É um trunfo que devemos agarrar.
O presidente lá objectou qualquer coisa e...
__Você sabe que quando eles vão com todas as habilitações, por concurso, não ficam a dever nada a ninguém, nas campanhas nada fazem, ou até podem estar contra, sabe-se lá...Assim, ficando a dever um favor... curvam-se com mais facilidade.
Julgo que a «coisa» deve ser assim em todo o lado. Nas câmaras, na banca, nas seguradoras, nos tribunais, nas finanças, nas empresas municipais então o caso fia mais fino...
Para que fique para a posteridade (é pedagógico, sobretudo...) quero manifestar a minha contestação ao «sistema». Vivi por dentro estas situações e quero que sirvam de exemplo (mau) para serem corrigidas quando surgir o novo regime...
Vejo eufemismos a eito
E conversas de ginjeira
Visando sempre um efeito:
Tapar o sol co'a peneira!....
«Falhou a supervisão»
Diz-se com muita frequência
Às vezes, é corrupção
A dar sinal de existência.
«Ele está vocacionado»
Diz o avaliador
Promovendo um afilhado
De botas... vil lambedor!...
«Não tem perfil desejado»
Diz o cacique rasteiro...
Sobre um seu subordinado
Que não lhe lambe o traseiro...
«Enquadra-se no lugar»
O director faz saber,
Quando alguém quer colocar
Sem o concurso fazer...
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