sexta-feira, outubro 17, 2008

A divina comédia!


Dinis Machado já está no céu. Encontrou Bocage e... várias peripécias aconteceram.



O céu existe. Finalmente há a prova cabal. Deu-ma Bocage, hoje mesmo.


Eu conto:



Vi-o entrar com aspecto pouco vulgar para aquele tipo de café. Era na «Casa do Largo», em Vila do Conde. Ali só entra o povo, o verdadeiro povo. Agora que no «Nicola» só entra a burguesia endinheirada, ele optou por este espaço, reduzido em tamanho mas grande no seu ego acolhedor...



Trazia umas roupas velhas e mal tratadas. Aquele nariz adunco era inconfundível. Os pés grandes, a estatura meã, era ele mesmo!Vinha com o Matias, de Arcos, aquele baixinho que também frequenta este reduto de sabor popular. Não pude deixar de o entrevistar.



_Então Bocage, regressou do Além?


__Sim do verdadeiro Além, não desse lugar onde mora o Quim! Vim do céu, do lugar geométrico onde se encontram os espíritos sem mácula... As almas que atingiram o patamar da perfeição!...O conclave dos santos por excelência!


__Esteve muito tempo no purgatório?


_Sim, uns anitos.Mas como tive um comportamento exemplar, trabalhei até numas obras de reparação que lá se fizeram, deram-me oportunidade de seguir para o céu com certa antecedência! tive que pedir um indulto ao Juiz Supremo, como foi deferido, saltei logo para o Céu...



__A que se deve a sua permanência aqui?!


__Encontrei o Dinis Machado, que conseguiu uma entrada directa lá no Paraíso. Boa pessoa. Está muito bem relacionado na ala intelectual da estrutura celestial. Então, ao falar com ele sobre Portugal, deu-me conta deste jogo que iria acontecer entre Portugal e a Albânia, em Braga.


__Como é que arranjou o bilhete?



__Disfarcei-me de Gilberto Madaíl e entrei de borla... mas como ele tem um ar assim meio alienígena, foi fácil...


__E o que achou do jogo?


__Muito mal, muito abaixo das minhas expectativas! De tal sorte que saí um quarto de hora antes e fui à casa de banho!...


__Então não era o Gilberto Madaíl com ar descontente e aborrecido... aquele que saíu do seu lugar e...


__Não, não, o Gilberto está inocente. Ele não é como os ratos que abandonam o barco, não, nada disso. Fui eu.

__E a que se deveu tal saída antecipada?

__Olha rouxinol, sabes como é, a veia poética surgiu-me naquela altura e fui à casa de banho para registar num rolo de papel higiénico tudo o que sentia!...

__Mas então porquê no papel higiénico?!

__O Queiroz não disse, ao saír da última vez, que era preciso acabar com a «porcaria » na Federação? Nada melhor que um papel higiénico para «sanear» a dita cuja?!

__Ainda tem consigo o resultado desses devaneios poéticos que a casa de banho

abrigou? Não os deitou fora pois não?

__Claro que não. Terei que fazer um relato circunstanciado de todos os meus passos e de todos os meus pensamentos ao Criador. Por isso aqui estão, se quiseres dar-lhe uma vista de olhos é só ler...




O PORTUGAL DE HOJE



Portugal é campeão

De expectativas goradas

O império da ilusão

E o... das contas furadas!



Pomos sempre alta a fasquia

Mil cerejas lá no bolo

Na fogueira da euforia

Ainda cai muito tolo!



Calculadora na mão

Os sonhos se multiplicam

Divide-se pela nação

O azar!... se as coisas complicam!



A culpa morre solteira

O fracasso é diluído

O sol tem sempre a peneira

Que esconde o... sonho traído!...



Limpar as mãos à parede

É a lusitana sina

Destes peneiras sem rede

Cavalos de brinco e crina...



Vacas sagradas sem alma

De podres, já muito ricas...

Fazem apelos à calma

Pândoras...medonhas cricas!!!

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