O céu existe. Finalmente há a prova cabal. Deu-ma Bocage, hoje mesmo.
Eu conto:
Vi-o entrar com aspecto pouco vulgar para aquele tipo de café. Era na «Casa do Largo», em Vila do Conde. Ali só entra o povo, o verdadeiro povo. Agora que no «Nicola» só entra a burguesia endinheirada, ele optou por este espaço, reduzido em tamanho mas grande no seu ego acolhedor...
Trazia umas roupas velhas e mal tratadas. Aquele nariz adunco era inconfundível. Os pés grandes, a estatura meã, era ele mesmo!Vinha com o Matias, de Arcos, aquele baixinho que também frequenta este reduto de sabor popular. Não pude deixar de o entrevistar.
_Então Bocage, regressou do Além?
__Sim do verdadeiro Além, não desse lugar onde mora o Quim! Vim do céu, do lugar geométrico onde se encontram os espíritos sem mácula... As almas que atingiram o patamar da perfeição!...O conclave dos santos por excelência!
__Esteve muito tempo no purgatório?
_Sim, uns anitos.Mas como tive um comportamento exemplar, trabalhei até numas obras de reparação que lá se fizeram, deram-me oportunidade de seguir para o céu com certa antecedência! tive que pedir um indulto ao Juiz Supremo, como foi deferido, saltei logo para o Céu...
__A que se deve a sua permanência aqui?!
__Encontrei o Dinis Machado, que conseguiu uma entrada directa lá no Paraíso. Boa pessoa. Está muito bem relacionado na ala intelectual da estrutura celestial. Então, ao falar com ele sobre Portugal, deu-me conta deste jogo que iria acontecer entre Portugal e a Albânia, em Braga.
__Como é que arranjou o bilhete?
__Disfarcei-me de Gilberto Madaíl e entrei de borla... mas como ele tem um ar assim meio alienígena, foi fácil...
__E o que achou do jogo?
__Muito mal, muito abaixo das minhas expectativas! De tal sorte que saí um quarto de hora antes e fui à casa de banho!...
__Então não era o Gilberto Madaíl com ar descontente e aborrecido... aquele que saíu do seu lugar e...
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