O verão está a terminar para os emigrantes, sobretudo aqueles que só gozam o mês de Agosto na terra natal. Um mar de saudade alaga o olhar, aquele aperto no coração ao dizer adeus, quantos nem sabendo se será a última vez que o farão, é o espelho fiel de uma realidade dura, sofrida, tipicamente lusitana.
Quantos nem sonham que poderá estar iminente o adeus à vida nalguma estrada traiçoeira, nalgum avião amaldiçoado pelo destino, nalguma doença fatal que se vai aproximando como ladrão sem alma. Quantos podem saír do torrão natal pela última vez e só regressar para a marcha lacrimejante da última morada terrena, dando o último adeus à natureza, aos amigos, ao quotidiano fervilhante que nos inebria e faz sonhar.
É bem dura e penosa a vida de quase todos os emigrantes. O ter que enfrentar situações hostis, climas agrestes, idiomas complicados, burocracias que são autênticos calvários, só por si já é doloroso, quanto mais a ausência dos familiares, a nostalgia da terra amada, são factores agravantes desta tristeza que só acaba com o regresso definitivo.
O país nem sempre reconhece os seus emigrantes. Nem todos sabem dar valor aos sacrifícios desta gente que é digna de uma epopeia camoneana. Estes escrevem os «Lusíadas» da era moderna com o seu suor, as suas ansiedades, os seus sonhos, as suas tragédias. Mas eles também «se vão da lei da morte libertando» como diria o Épico, pois a sua memória será enaltecida pela comunidade. Um país é uma memória colectiva que presta permanente homenagem aos que já cumpriram a sua etapa e vão passando o testemunho aos filhos e netos na suposição de que estes saberão honrar dignamente os que começaram a dura maratona...
O podium para todos os emigrantes: ricos ou pobres, velhos ou novos, homens ou mulheres, todos merecem que a bandeira nacional suba ao mastro, que o hino por eles toque, que todos nos curvemos perante o seu trabalho, o seu suor, o seu permanente desempenho de funções de autênticos embaixadores espirituais da pátria. Honra a todos eles!
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