terça-feira, maio 05, 2009

Um homem sem medo!...


Se não estivéssemos na união europeia talvez já tivesse ocorrido um golpe de estado em Portugal...
Esta afirmação já foi proferida há alguns meses. Ainda não tinham ocorrido cenas eventualmente chocantes na banca, o desemprego ainda não tinha disparado, mas os sintomas alarmantes já se divisavam no horizonte.
Neste país há injustiças e esbulhos flagrantes. Há quem carregue o fardo com estoicismo mas há quem não resista e recorra aos métodos mais expeditos para se orientar. O regabofe nalgumas câmaras municipais é estonteante. «Fulano queria dois apartamentos mas só lhe ofereci um, e ele então vingou-se...»
Isto é o pão nosso de cada dia. E aceita-se como facto consumado. Alguns dizem: «É assim em todo o lado, nada há a fazer!»
A resiganção instalou-se. O medo também. Haverá motivos para ter medo? O sub-mundo da política é medonho e quem já o enfrentou sabe que tudo é possível. Um autarca no alentejo foi queimado na sua própria viatura e até mesmo a sua cabeça foi desviada quando foi necessário proceder a análises periciais. Outro, em Gondomar, foi agredido e houve quem comentasse: «foi pena ainda ter ficado a falar!»
Já fui ameaçado de morte várias vezes. Minha esposa já recebeu cartas ameaçadoras e até um telefonema ameaçando-me. Quando me dirigi à PJ para dar conta da situação (ainda era em S. Bento da Vitória no Porto) olharam-me de soslaio e disseram: «Isso tem que entrar primeiro pelo ministério público!» No ministério público nem sequer consegui ser recebido...
E tudo porquê?!
Porque julguei que estava em democracia. Porque acreditei que se vivia o regime da liberdade de Abril. Porque julguei que havia de facto igualdade de oportunidades.
Mas agora bem sabemos que não há. Di-lo com todas as letras o presidente do sindicato dos magistrados do ministério público__ e o pior é que nós todos sentimos que é VERDADE!
Que fiz de mal? Denunciei o Alto Comissário Contra a Corrupção ao Senhor Presidente da República acusando-o de permitir a violação do segredo de justiça e de não investigar o que lhe pedi!!!
Acusei ao provedor de justiça o Dr Silva Peneda por ter despachado um loteamento a uma entidade juridicamente inexistente (Associação Cultural e Desportiva Rio Ave... não confundir com Rio Ave FC, que é pessoa de bem...) permitindo um amontoado de construções em área do domínio agrícola, em Modivas. Passados uns dias, essa entidade inexistente passou todos os seus direitos para uma firma privada bem conhecida que auferiu todos os proventos inerentes a esse despacho de favor...
Denunciei o Dr Vasco Valdez por me ter enviado uma correspondência para uma morada fictícia (onde nunca referi ter morado...), só para que eu não tivesse acesso, em tempo útil, a um documento altamente comprometedor para alguém ligado ao poder local. O então chefe de gabinete de Alípio Dias (secretário de estado do orçamento) cumpriu a ordem do seu superior hierárquico enviando o documento para um local onde sabia eu nao morar de maneira a ser devolvido (como de facto o foi) e não procurando reexpedir o tal documento para a morada correcta que sabia e não podia ignorar. Teve ao menos um gesto simpático: deu-me o tal envelope (corpo do delito...) em que havia sido inscrita a tal morada fictícia com a indicação no verso de que era «desconhecido na morada indicada»!!!
Enfim, fui perseguido por interpostas pessoas, algumas até, certamente por isso __ e não foi pouco...__subiram na vida... prestando-se a papéis persecutórios de baixo jaez. Eu continuei cá em baixo, olhando os palhaços circenses subirem no arame e exibindo os seus dotes de alpinismo corruptocrático... Vejo-os com desprezo, com pena, com nojo!... A troco de um cargo (sinecura) prostituem-se da forma mais vil, velhaca, cínica. Há tantos Penedas por esse país fora!... Conheço um , que já foi governador civil de Braga, visitei-o em Santo Tirso e apresentei-lhe alguns factos altamente gravosos. Disse-me o piorio dessas pessoas ligadas ao futebol. Mas manifestou a sua impotência face ao avolumar da corrupção nos meandros da bola. «Há medo de atacar essas pessoas, são perigosas, tenha cuidado!», disse-me temeroso e quase de cócoras perante esses figurões...Soube que era intimo de algumas dessas pessoas. Comia em suas casas. Jogava cartas à mesma mesa. Era mais um dos que criticavam, nas costas, mas que sorria e bajulava quando na presença dessas criaturas que dizia abominar! Que nojo! Que cobardia! Que hipocrisia chapada! Que oportunismo mais velhaco! Ainda pensei nele como potencial candidato a Presidente da República! Não passava de um verme...sem coluna vertebral, rastejante e bajulador aos corruptos que dizia detestar...
Demiti-me do partido em que militava pois alguns corruptos faziam o jogo dos adversários só para grangearem proventos à custa dessa traição ao partido. Traíam o partido mas o partido promovia-os porque eram capazes de captar fundos com facilidade graças a essas promiscuidades em que se envolviam. Não acho nada estranho alguns autarcas dizerem-se muito amigos mesmo sendo de partidos opostos porque há situações em que o vil metal fala mais alto do que a solidariedade partidária... Escravos do dinheiro há-os cada vez mais!...
Enfim, Mário Soares sabe do que fala. A democracia está entre parêntesis, tal como o socialismo, tal como a verdade política. O povo, resignado, abúlico, continua sob o jugo de um regime ominoso que caminha a passos largos para o abismo!... Abril, o verdadeiro Abril, nunca chegou a algumas localidades...

13 comentários:

Rafeiro Perfumado disse...

Não admiro o Mário Soares (episódios como o da tartaruga não se esquecem facilmente) mas neste ponto é bem capaz de ter razão, as coisas estão num estado que só uma mudança radical poderá surtir algum efeito.

Abraço.

José Leite disse...

Meu caro.

Isto nem com golpes de Estado lá vai. A vinha democrática foi afectada pelo míldio corruptocrático e, qual pandemia infrene, vai atacando a Europa inteira... até ao colapso fatal.

amsf disse...

Apesar de tudo vejo-o a participar civicamente através deste blog...apesar de tudo ainda acredita que é possível mudar! Eu que sou mais novo já começo a não acreditar...
De qualquer forma força!

Anônimo disse...

O mais deprimente dessa história de democracia é que ela é assim, torta, em tantos países, que a gente fica a duvidar que se um dia ela realmente existiu como ideal.

José Leite disse...

Meu caro amsf:

Acreditar a gente acredita. Mas isto está cada vez mais a «choldra» de que falava Eça...

Passaram-se muitas décadas, mas o clima dominante continua!

O salazarismo instalou-se no regime de Abril!... só que agora os amantes da Nova Situação são principescamente remunerados!...

José Leite disse...

Minha Senhora:

É verdade que a democracia é melhor que a ditadura. Só o julgamento da História é que dirá, com distanciamento e isenção, quão corrupto é o regime.

Salazar queria uma «democrcia orgânica», não se considerava um ditador, tal como alguns «salazares» que agora vão poluindo o regime...

O Micróbio II disse...

Graças a este senhor ficámos sem anéis nos dedos... abandonámos Timor e as províncias ultramarinas de mãos beijadas. Já sei que as mentalidades que vêm "colónias" onde progridem "regiões autónomas" olham para este género de opiniões com ar de escândalo. Coloquem os olhos nas regiões que abandonámos e vejam o que resta delas actualmente...

douro disse...

Força, caro rouxinol! Não há que ter papas na língua (neste caso, na escrita).

Laura disse...

Ah, e nem sabemos por onde começar!... Num País onde tudo e todos querem mamar, somos uma minoria e assim...ficamos de fora a mendigar... escrevi este poemas há dois anos, está no meu livro, Restias de Sol...


Povo meu!.. (de Portugal)



Povo meu, que travas a luta inglória,
Que nada podes fazer.
Contra a escória que nos venceu
Através do medo e da dor,
Que apregoa a liberdade,
Mas que te enfia atrás das grades
Se lhes quiseres fazer frente...

Porque é aí que os homens que temos
Para nos defenderem,
Fazem jus ao que têm de pior
E soltam a besta que vive dentro deles
E se vingam em quem não lhes fez mal...

Povo meu, Povo meu,
Onde está tudo em que acreditamos
E em que todos votamos?
Aquilo por que tantos anos esperamos
E nunca tivemos...

Onde estão os homens em quem votamos
Que diziam que haveria
Igualdade, fraternidade entre todos?
Oh, vã utopia
Oh, vã filosofia
Que nos enfiam pelos olhos dentro
Para que acreditemos
Que têm promessas viáveis
E que neles devemos confiar...

Povo meu, sai à rua
Atravessa a estrada com coragem
Não pegues em armas,
Que as armas são dos cobardes,
Que se escondem nas sombras da madrugada...

Povo meu,
Saiamos para a rua todos juntos a protestar,
Contra o poder que não nos sabe governar.
Contra o poder que nos anda a enganar,
E quando dermos conta já nada haverá para contar...

Acorda, povo meu, antes que seja tarde
Não te deixes dormir, podes nem acordar,
E quem sabe, acordando, já nem terás
A tua bandeira para hastear…

Um beijinho da laura. Por dentro tenho coração do Povo, mas, uma não faz a guerra e sou contra a guerra...Haja faladura, consenso, endireitem a terra ó Homens de pouca Fé!...

Teresa Durães disse...

concordo que é mesmo necessária uma mudanç radical

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

acho que sim!

só mesmo uma mudança radical.

obrigada pela visita lá no maresias, és semrpe muito bem vindo.

beij

Manuel CD Figueiredo disse...

Caro Rouxinol,
Este texto faz-me voltar muitos anos atrás e trazer-me à lembrança os sonhos que acalentei durante uma vida, e que acreditei ver finalmente realizados.
Sofri muitas agruras na vida, mas venci-as! Por isso me dou por feliz.
Prestigiei, comprovadamente, o meu País. Disso estou orgulhoso.
Impuseram-me o desmerecimento. Mas não me venceram.
Hoje, confesso, sinto mais que tristeza. Sinto nojo da nossa sociedade podre.
Não posso continuar ausente do que me rodeia, mas não sei como fazer para lavar a face enxovalhada do meu País.
Não posso continuar a conviver com tanta degradação. Mas, como muitos outros, sinto que tenho o dever de agir.
Obrigado pelo seu texto.

José Leite disse...

A todos vós, que comungais deste sentimento de náusea para com certos «sanguessugas» que vampirizam a Pátria, o meu sincero reconhecimento pelo vosso testemunho. Julgo que esta «amostra» é bem representativa de um universo global que começa a emergir neste país em que meia dúzia se governa à custa de uma guarda pretoriana que engloba muitos oportunistas que cirandam quotidianamente na comunicação social. Os críticos, os atentos e insubmissos, são ostracizados, considerados «inadaptados» ao «sistema».

A «procissão» dos «sanguessugas» tem sempre à frente, no pálio das vaidades, os «capos» desta «choldra», como diria o sempre actual Eça de Queiroz...