quinta-feira, maio 28, 2009

O Verdadeiro, o Genuíno segredo de Fátima!!!


Chamusca, terra de gente laboriosa
(Texto P.F.)

Quando se fazem as Histórias dos povos, os historiadores nem sempre são justos. Há pequenas estórias que, de tão marcantes, deveriam figurar na Grande História. Contudo, por ligeireza ou leviandade, não figuram. Mas há honrosas excepções à regra: a padeira de Aljubarrota, Deu-la-Deu Martins, o Zé do Telhado, Martim Moniz... Pessoas comuns, que, por um gesto heróico ou fruto de inteligência fulgurante, contribuiram para galvanizar a alma de um povo, servindo de paradigma moral, de acicate, de galvanizante, de alma da própria alma!

Vou falar-vos de uma cidadã da Chamusca, Fátima Sobral Cid. Ainda parente afastada do cantor José Cid. Viúva e com muitos filhos, trabalhava na lavoura. Tinha umas territas pouco produtivas, mas ela, com o suor do rosto, e explorando amiudadas vezes o trabalho infantil até à exaustão, conseguia grangear o sustento do agregado familiar. Se fosse hoje, talvez fosse beneficiária do Rendimento Mínimo. Vivia no limiar da pobreza. Contudo, e nestas coisas aparece sempre um «contudo» que explica tanta coisa, ela tinha um «segredo»...

Vou revelá-lo urbi et orbi para que ela possa figurar nos anais da nossa História moderna. Tinha criado um cavalo, um lusitano puro, negro, bem dotado física e animicamente (os cavalos têm alma também!), chamava-lhe o Vicente (em homenagem ao irmão do Matateu, por ser o único jogador de futebol que marcava o Pelé na perfeição). Naquela altura chamavam «Vicente» aos corvos, como sinal de gratidão ao famoso craque... hoje, por analogia e similitude, talvez lhe chamassem «Mantorras», a «alegria do povo»... Há muitos animais de estimação com esse nome por esse país fora; isso diz tudo sobre a popularidade do ser humano em causa...

O cavalo, lindo de morrer, era uma espécie de ouro negro para ela. Ganhou fama como garanhão. As éguas, quando lá iam, vinham com a certeza de que o produto final era de qualidade, marca registada. Era «trigo limpo farinha Amparo!»

O Vicente caprichava no serviço. Fazia-o com gosto, com «amor à camisola» como se diz no jargão desportivo... Enfim, dava o litro na sua missão reprodutora, fazia jus ao ditado popular «quem corre por gosto não cansa»...
O livro de reclamações estava virgem, não consta que alguma égua o tivesse recusado ou se tivesse queixado de maus tratos como acontece hoje em dia com muitos figurões que armam ao fino... Vejam-se as crónicas diárias no programa da SIC... o da Maya e do Malheiro... um programa importantíssimo para o conhecimento da alma de um povo. Nunca acedi ao pedido do dr Balsemão, digmº director da revista Mais Alto no meu tempo de tropa, com receio de que só a minha presença baixasse o nível de audiências dado o carácter polémico das minhas intervenções!... Mas um dia, quem sabe...

O certo é que, a fama foi alastrando como fogo em mata resinosa no verão escaldante. Chegou aos ouvidos do fisco! Não se sabe se houve denúncia. O certo é que apareceu lá um tipo das finanças (dizia-se «técnico verificador» ou coisa parecida...). Era um tal Bernardo, gordo, mal encarado, especialista em sacar aos pobres e lamber as botas aos ricos. Um Possidónio, na versão mais retrógrada e viciosa do termo. Queria à viva força cobrar imposto pelos rendimentos auferidos pela D. Fátima, com o seu animal de estimação. O garanhão Vicente!


Recusou liminarmente! Consta que a conselho do próprio cantor, seu parente, que não gostava do governo de então. Nem de questões fiscais...

Palavra puxa palavra, despacho puxa despacho e eis que o cavalo é «confiscado» por ordem do próprio ministro das finanças de então! Se não paga o imposto, confisca-se! dura lex sed lex! (podia ler-se no teor do despacho do Dr Cadilhe...)Ela deu uma sonora gargalhada, deu umas palmadinhas no lombo do Vicente e sorriu. O cavalo parece que também entendeu tudo! Pelo menos o seu comportamento futuro o deu a perceber. Uma telepatia benigna os unia desde a mais tenra idade. Havia total sintonia com a dona! Ela, viúva há já alguns anos, via naquele animal tão querido, uma espécie de sucedâneo ... no espírito platónico do termo, sublinhe-se em abono da verdade mais pura! D. Fátima, nem em pensamentos tinha apetites libidinosos. Era a castidade em pessoa!...

Levado para a cavalariça que as finanças fizeram de propósito, com pompa e circunstância inaugurada pelo ministro, que, obcecado com a obtenção de receitas, até condecorou (e promoveu a técnico verificador principal!) o fiscal que teve a genialidade de fazer aquilo...

__Isto sim, é que é um funcionário eficiente, determinado, com ambição. Com espírito inovador e empreendedor. Daqui para o futuro, o Vicente, este garanhão de fino recorte, vai ser o «caça níqueis» da repartição de finanças, vai ser o abono de família do Estado, que bem precisa de receitas para satisfazer os graves compromissos que se aproximam...

Era o ministro a discursar na inaugureação da cavalariça. A D. Fátima sorria, sorria, e ninguém percebia o seu ar de gozo... Achavam que deveria estar louca com a perda do animal de tanta estimação!... é que não havia motivos para sorrir daquela forma quase grotesca. Loucura de certeza!...

Perceberam depois. Tarde demais.

Quando levaram a primeira égua ao cavalo, este deu «nega»! Era a primeira vez que o fazia. Pensaram que ela não fosse suficientemente atractiva. Trouxeram outra, linda, brilhante, de pelo lustroso. Até já tinha posado para a Revista americana Playhorse!!! O chefe da repartição à falta de água de colónia, benzeu-a com um pouco de after shave nas partes íntimas a ver se o efeito afrodisíaco se faria sentir na capacidade erectora do garanhão... mas debalde. Ele não correspondia aos apelos. Ele recusava-se a satisfazer a ânsia acasaladora da linda égua!Até a égua, baixinho, lhe chamou «maricas»...

Qual quê, «trem em baixo», não descolava o aparelho genital, não respondia minimamente que fosse, ao estímulo sexual que lhe era apresentado. A coisa deu para o torto. O funcionário corria o risco de ser despedido. O ministro começou a ser gozado nos jornais. O «Tal e Qual», então, parodiou com o caso até à exaustão. Na primeira página titulava assim: «O cavalo que não quer ser escravo sexual do fisco!» E em subtítulo: «É de homem!»
. A foto do Vicente , em ponto gigantesco, cobria quase toda a primeira página. Como nos tablóides ingleses, era o chamariz daquela semana! foi um êxito de vendas. Ainda maior do que a bronca da «Dona Branca» ou a perfomance sexual do Reinaldo, aquele negro guineense que tinha, segundo o referido jornal, «um forte e férreo poder de persuasão»!... Tal como o Paulo Rangel, candidato ao PE.

O país ria a bandeiras despregadas. O pobre Bernardo, cabisbaixo, rabinho entre as pernas, lá foi a casa da D. Fátima Sobral saber o segredo da coisa...


Ela deu duas sonoras gargalhadas. O vizinho, o Ti Manel Sete Cus, já sabendo da petite histoire também não se conteve que não se antecipasse à dona e dissessse a verdade:

__É simples, seu palerma! ele não faz nada por uma razão bem óbvia: agora sente-se funcionário público!!!

Nota: P.F. - Pura ficção

Um comentário:

Manuel CD Figueiredo disse...

História deliciosa!
Se não fosse "funcionário público" - e para não desrespeitar a hierarquia - o Vicente devia era ter pregado dois coices, um no ministro e outro no zeloso lambedor.
Ficará para uma próxima!