sexta-feira, maio 15, 2009

Ao lado de uma grande carreira...

Dois episódios me marcaram ao longo da existência. Em ambos dei um pontapé na sorte e não arrisquei o que devia. Ou talvez não...


Primeiro episódio

O primeiro foi quando recusei ir jogar futebol para o Beleneneses. Tinha feito um jogo particular em Alenquer, onde, a defesa-central brilhara a grande altura. Orlando de Melo e Trindade, dois directores do clube dos «pastéis de Belém», pediram-me para prestar provas. Era mestre Peres Bandeira o técnico. Havia lá o Artur Jorge, o Quaresma, o Freitas, o Paco Gonzalez, o Godinho, enfim era uma constelação de estrelas. Era de facto o «quarto grande» como se dizia então.

Quaresma, olhou para a minha estampa atlética (1,80m com 70 kg bem distribuídos...) e exclamou:

__Aqui está o meu sucessor. Finalmente chegou.

Eu tinha recebido um passe dele, amorteci com a coxa direita e deixando subir ligeiramente a bola fiz uma entrega perfeita para a sua cabeça com o calcanhar... acontece uma vez em cem... mas todos ficaram boquiabertos. Ao fim de uma semana de treinos intensos fui convidado a assinar contrato: 20 contos por mês como profissional B, como me disseram então...

Pensei, pensei e recusei. Tinha obtido um emprego (na Aliança Madeirense, companhia de seguros) e seria uma traição ao meu amigo Janelas. Recusei o convite. Talvez tenha passado ao lado de uma carreira fulgurante...

Segundo episódio...
Telefonaram-me do Porto. Era um advogado de prestígio. Perguntou-me se era eu o J.M. que escrevia no jornal «Voz do Ave». Confirmei, com uma pontinha de orgulho.

__Você é um Lucas Pires em potência. Precisamos de si no parlamento.

__Olhe, sei que tem a minha estatura__repliquei-lhe eu, com certa dose de humor__tal como o goleador Fernando Gomes, pois disse-o ainda há dias no Jornal de Notícias...

No entanto, paralelamente fez-me uma exigência pouco simpática. Recusei liminarmente.

Ainda insistiu, uma vez que o encontrei no Tribunal da Póvoa deVarzim, onde veio a um julgamento. Voltei a recusar. Indiquei-lhe outro nome. Disse-lhe que eu era benfiquista e não alinhava muito bem com certa Igreja caduca e promíscua. O candidato que lhe apontei era portista e muito bem relacionado com a IC. Chegou a secretário de Estado... eu fiquei sempre pelo caminho...

2 comentários:

Teresa Durães disse...

há sempre opções e a aceitação das suas consequências. existe sempre um motivo forte que nos leva a escolher mesmo que depois possa-nos parecer que foi errado

José Leite disse...

Cara Teresa:

A vida é um desafio permanente, uma via com bifurcações e temos que fazer opções...

Tantas vezes optei pela simplicidade, pelo caminho mais estreito em detrimento da estrada larga e bem asfaltada...

Resta-me uma pequena consolação:

dizem que o caminho do céu também é estreito, pedregoso, cheio de obstáculos... talvez para lá caminhe... talvez a santidade seja uma meta, algures, quando tiver percorrido na íntegra esta maratona que é a vida...