domingo, julho 05, 2009

Carta-Aberta ao Presidente da República


Cavaco Silva, Presidente da República, a propósito da cena feita pelo ministro Manuel Pinho:
«O respeito pelas instituições é sagrado!»


Senhor Presidente da República:

Excelência,

Os meus respeitosos cumprimentos.
Ao ouvir a sua afirmação sobre o carácter «sagrado» das instituições não posso deixar de sorrir e de ironizar. É que V. Excelência tem dois pesos e duas medidas. Será que a INSTITUIÇÃO Assembleia Regional da Madeira não merece respeito?
Será que a afirmação de Alberto Jardim («um bando de loucos!») não merecia ser alvo de uma intervenção por parte de V. Excelência? Um reparo firme e recriminatório.

Reconheço que a atitude do ministro Pinho foi pouco ética, pouco feliz, pouco convencional.
E a de Jardim? E as que Jardim vai protagonizando ao longo dos tempos?
Pinho usou uma metáfora para dizer que o povo de Aljustrel trinha «atraiçoado» o PCP e não que o deputado do PCP seria «corno»...Pior disse o deputado Martins do PSD quando chamou aquele nome feio a Candal do PS...

Onde estava V. Excelência quando ele fez aquelas ( Jardim, claro) afirmações? Limitou-se a um púdico e pouco corajoso «dever de reserva»... E optou pelo silêncio de Conrado...

Não creio que V. Excelência seja o Presidente da República que nós precisamos. Veja:

Foi contristado com a sua postura face ao que se desenrolava no país em que V. Excelência fazia afirmações populistas do género «o povo português não é corrupto»,__ como se alguma vez estivesse em causa o povo, esse honrado povo que paga impostos e cumpre rigorosamente as leis mas que é vilipendiado pela Justiça__ que me demiti do partido em que ambos militávamos.

Na minha carta de demissão (acima, clicar para ver...) aludi a situações que proliferavam (e haveriam de proliferar...) e não eram de molde a augurar bom futuro para o pasís e para o governo que V. Excelência superiormente conduzia.

O país viria a castigar o PSD um pouco depois, de forma categórica. V. Excelência, após algum tempo de «travessia no deserto», surgiu, com ar imaculado, pronto a regenerar a imagem. O povo (que não eu) deu-lhe o seu voto e alçapremou-o à suprema Magistratura da Nação.

Agora, quando a justiça é olhada com desdém pelo comum dos cidadãos (por mim também, por motivos bem explícitados neste blog...), quando os políticos (lato sensu) são apodados de tudo e mais alguma coisa, quando a economia é um reflexo de todo um conglomerado de variáveis todas confluindo num laxismo cúmplice, numa falta de sensibilidade para a ética e para o escrúpulo, receio bem que V. Excelência comece a entrar também em «derrapagem»...

Todo o piloto deve ter um bom pendura para o alertar dos perigos. Sei-o por experiência própria.

Daí este meu desabafo que, espero, o vá alertando para as malhas que a corrupção tece... e é causa de derrapagens a vários níveis: moral, cívico, ético, económico-financeiro...

Respeitosamente:


O militante da Democracia
José Manuel Figueiredo Leite de Sá

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