segunda-feira, março 09, 2009

Salgado Zenha, saudosa recordação


Mário Soares disse : __Salgado Zenha é a consciência moral do partido socialista!
Parece que ainda estou a ouvi-lo dizer isto. A situação era grave. Uma cegueira totalitária ia-se espalhando tentando reduzir a «democracia burguesa» a um simples ornamento. Caminhava-se para a ditadura do proletariado. O «República», a Rádio Renascença, a Fonte Luminosa (manifestação gigantesca contra o clima político dominante). O Diário de Notícias expulsando os «esquerdistas» como Mário Contumélias e outros. Tudo para a concretização de um projecto tendente a eliminar essa «democracia burguesa» que era a causa de todos os males.
Mário Soares fazia valer o seu passado, rodeava-se dos antifascistas mais medalhados na luta anti-salazarismo: Alegre, Raúl Rego, Edmundo Pedro, enfim, todo um exército de intelectuais de prestígio tentando calcar a besta totalitária emergente. Então, Salgado Zenha foi citado como sendo a «consciência moral» do PS. Mais tarde, após a ruptura, sentindo que era uma bandeira à sombra da qual muitos enriqueciam e se esqueciam dos valores pelos quais se deveriam nortear, Zenha passou a ser «traidor», «renegado»...
Vale a pena recordar esse tempo e fazer um paralelismo com o que se passa com Sócrates e Manuel Alegre. Tenho por ambos o máximo respeito e consideração. Mas sei - e não posso fazer ouvidos de mercador..._ o que representam neste momento. Manuel Alegre é a «consciência moral» do socialismo autêntico, de rosto humano, de defesa dos explorados e oprimidos, dos trabalhadores, das pequenas e médias empresas. O socialismo que não se casa com golpadas e falcatruas geradores de pequenos Midas, fruto da ganância desmedida, subproduto deste socialismo de encher a pança a meia-dúzia de oportunistas.
Sócrates é aliado dos donos das «grandes superfícies», dos latifundiários da nova vaga, dos capitães da indústria, dos barões da alta finança.
Manuel Alegre cansou-se de ser bandeira para uso eleitoral à sombra da qual muitos engordam e enchem o papo. Cansou-se de ser símbolo sem poder de decisão, bandeira a desfraldar ao vento servindo de alibi moral para quem usa o leme, tantas vezes rumando para azimutes nada consentâneos com promessas e idiossincrasias profundamente enraizadas na consciência colectiva, no imaginário do povo português.
Quem é o «traidor»? quem é o «atraiçoado»?
Há que meter a mão na consciência e ponderar bem os pratos da balança. A hora é de reflexão para todos os socialistas e simpatizantes de um novo porvir onde sejam erradicadas as mordomias e as sinecuras, cheirando a fausto e a prebenda e não possuindo nunca o aroma de Abril. Esse Abril tão afastado dos horizontes mentais e civilizacionais de alguns caudilhos de trazer por casa mais vocacionados para o chico- espertismo arrivista do que para a concretização de anseios profundos de todo um povo carente e sofredor.
Há que repensar Portugal! há que seguir um rumo mais austero, mais espartano, mais apropriado aos momentos que se vivem. Os mordomos, os tachistas, os que vivem à babugem dos poderes (centrais ou locais...) precisam de saber que tudo tem limites. Até para o «fartar vilanagem»!!!

4 comentários:

Dimas Maio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Dimas Maio disse...

Caro Rouxinol:

Quem diria,hem?

A ave da grimpa costuma ser um galo ou até um pavão, nunca,por nunca, esta linda ave que eu estimaria sem fífias, tão desagradáveis, nos seus belos gorjeios.`

Mal vai quem muda de pensamentos com a viragem dos falsos ventos.

José Leite disse...

Há uma coisa que nos distingue: eu não uso gravata partidária!

Depois, eu não estou na posição de juiz a dar sentenças! Estou na pele do médico a fazer diagnósticos!

Continuo no mesmo rumo: a independência, a sobriedade, o voar acima da mediocridade reinante.

Se pensava que eu era um cão à sua trela, enganou-se. Eu sou ave.

Anônimo disse...

Gran Hombre