quinta-feira, março 12, 2009

ANGOLA É NOSSA!

A vinda da comitiva angolana a Portugal enfrentou alguns comentários desencontrados e dignos de meditação profunda.

Fui, como piloto aviador, para Angola, convicto de que estaria numa guerra com fim à vista e com objectivos determinados no tempo e balizados por um desiderato final exequível e bem alicerçado numa visão histórica realista.

Enganei-me. Constatei uma filosofia de saque e vampirização totais sem parâmetros teleológicos. Não havia um fim em si, aquela guerra era um meio para defender a exploração e as grandes ambições de uma clique anichada no poder em Lisboa. Desde muito cedo defendi uma situação de realismo histórico. O general Norton de Matos era o patrono dessa ideia que muitos pefilhávamos. Era preciso criar condições (sociais, económicas e políticas ) para a autodeterminação. A guerra seria um dos meios mas teria de haver (em paralelo) um substrato político conducente ao objectivo final: a autodeterminação. Lutar só para defender um status quo caduco e retrógrado era tempo perdido... pensava eu e pensavam muitos de nós, sobretudo os com formação universitária.

Fui vexado, sobretudo numa reunião havida em casa do professor Santos Júnior (professor universitário então em Luanda- morador na rua cidade de Lisboa), em que defendi esta convicção. Julgo que houve dedo do poder político para me ser feita uma deslocalização: queriam que fosse para Moçambique. Que eu teria um problema de adaptação local. Recusei ir para Moçambique e fui evacuado para a então Metrópole. Passei as passas do Algarve. Enfim, perseguições de um tempo ominoso e mesquinho em que quem não era totalmente a favor de tudo era ostracizado.


Hoje, ainda se passa algo similar nalguns partidos. Não admitem a contestação por mais clarividente e lógica que seja. Ou se é totalmente (estilo cão de guarda) ou se não é!

A vinda do presidente angolano é uma porta aberta para uma saída à nossa crise. Que há violação de direitos humanos, dizem alguns, com alguma razão. Cá também os há (em menor escala). Há que ser realista e enfrentar esta oportunidade com olhos de futuro. Angola pode ser um novo Brasil, tem potencialidades e virtualidades inexploradas. É preciso acreditar e partilhar com os angolanos a aventura do enriquecimento colectivo.

A guerra é um desperdício, uma doença, um fardo. O desafio do desenvolvimento é urgente para tirar do subdesenvolvimento muitas populações. Dar as mãos, sem o malfadado binómio explorador-explorado que foi a causa-mor da nossa tragédia ultramarina, é o que se impõe.

O governo e o presidente da República fizeram bem em receber com a dignidade e com o prestígio necessário um aliado que pode ser parceiro comercial privilegiado. Bem hajam! Sejam bem-vindos os angolanos se vierem por bem!

Agora, Angola e Portugal, definitivamente livres, sem peias neocolonizadoras, devem remar em conjunto rumo ao mar-prosperidade!

E que Deus nos ajude a todos.

5 comentários:

amsf disse...

Parece que a colónia vai "salvar" a metrópole! No entanto se os preços do crude se mantiverem por estes preços ou o mundo conseguir adoptar um outro tipo de tecnologia energética este dinheiro angolano fará falta ao futuro da própria Angola!

José Leite disse...

Meu caro amsf:

Eles estão a criar um fundo para fazer face a eventualidades futuras, como as que sensatamente admite. Mas nem só de petróleo vive Angola.O turismo, a construção civil, a medicina, a distribuição, o comércio, enfim, toda uma vasta gama de oportunidades.

A ausência de guerra pode ser o tal doping que faltava para o incremento económico! Eu adoro aquele clima, aquela gente, aquela terra. Tive pena de lá ter sido tão mal tratado por motivos ideológicos camuflados de forma subreptícia...

Era bom que Portugal e Angola estreitassem ainda mais as relações comerciais, políticas e administrativas. A retoma pode começar por aqui.

IN VERITAS disse...

Angola nunca foi vossa...

José Leite disse...

IN VERITAS

Em verdade, em verdade lhe digo, o meu conceito de «posse» refere-se só à alma, à idiossincrasia, não ao domínio telúrico como era objectivo obsessivo de alguns...há duas ópticas distintas: uns querem a posse de terras, única e simplesmente, outros, basta-lhes apenas os corações, sensibilidades, as afinidades multiculturais, única e simplesmente...

Há e sempre haverá missionários e... mercenários...

IN VERITAS disse...

no aspecto da alma...angola será sempre lusa...assim como o brasil profundo...

...quem for ao brasil e deixar-se embrenhar no brasil verdadeiro---
-- como diz um poveiro "voador" ...o brasil é muito fácil de coompreender...primeiro espandiu-se para o interior ou seja para o ocidente mata adentro..depois veio acrise e regressou ao mar...e ficou à beira mar...e naquele interior está muito do Portugal Profundo.. que já não existe na Metrópole...
..Mas perdura em Timor, em Cabo Verde... e em Angola do interior..