Abril surgiu com todo o seu esplendor democrático em 1974. Mas foi sol de pouca dura. As tentativas de assalto ao poder por métodos pouco democráticos deram no que deram.
Agora, resta de Abril uma memória difusa. É preciso avivá-la e transmiti-la pura e cristalina aos novos, aos que surgem a perguntar pela liberdade plena, pela democracia autêntica. Vemos uma situação de estrangulamento óbvio, em que os valores democráticos são ultrapassados por «cunhas», «compadrios», chantagem de grupos de pressão que se assumem como tutores da própria democracia. Há que corrigir este desbragamento, há que restaurar o espírito de Abril, há que dar luminosidade ao sol de Abril. O autêntico!
Abril foi um sol-nascente
Cheiinho de liberdade
Sol no coração da gente
Orgasmo de claridade.
Como era forte e brilhante:
Milho-rei, milho vermelho,
Papoila rubra, cantante,
Vinho bom, puro verdelho!
Milho-rei, papoila ou vinho,
Ou outra coisa qualquer
Abril deu ao Zé Povinho
Uma ilusão de poder...
Povo feliz e sortudo,
Liberdade abençoada
Pensando ter ... quase tudo
Afinal não resta nada!
Agora temos zurrapa
O défice, amargo travo,
Abril já saíu do mapa
Um cacto... em vez do cravo!
O cantar amargurado
Deste povo já sem esperança
É como um cravo arrancado
Dentre as mãos de uma criança!
Abril há-de renascer,
Um sol para toda a gente
Milho-rei há-de crescer
O povo tem fé, é crente!
É que a História nos ensina
Que há marés, como no mar...
Damos a volta por cima
Quando o puro Abril voltar!...
Do templo de Abril vão ser
Corridos os vendilhões
Gente que se está a encher
Vendendo ao povo... ilusões!
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