sábado, março 01, 2008

Meu Deus, que grande pecador!...

ORAÇÃO




Meu Deus, que grande pecador eu sou!

Às vezes sinto-me devorado por esse monstro aterrador que me angustia e faz pensar: a dúvida.
Será ela dádiva divina ou produto de satã?! Aquela fé cega e a credulidade infantil fui-as perdendo aos poucos. A vida abriu-me as janelas da alma de par em par!

Longe vão os tempos da credulidade excessiva, da aceitação passiva e amorfa de tudo e de todos. Chego a pensar que a própria fé é o joio e a dúvida o trigo mais puro! que blasfémia, que ousadia!
Tenho sérias dúvidas sobre a infalibilidade papal, sobre as motivações profundas da própria Igreja.

Por vezes pnho-me a pensar se Portugal não teria nascido sob o signo do ouro. D. Afonso Henriques ao doar aquelas onças de ouro ao papa, para mostrar a sua vassalagem e receber dele a bênção para a independência, não o estaria a subornar? Longe vá o mau pensamento, talvez consequência nefasta deste «apito doirado» que nunca mais termina...

E a questão das indulgências que tanto escandalizou Lutero e seus apoiantes (estando na génese da Reforma) não é que está constantemente a atormentar o meu espírito inquieto?

Sinto que o céu pode nem sequer existir e ser apenas mais uma doirada versão do «conto do vigário», uma metáfora bem elaborada com intuitos inconfessáveis, um expediente subtil para alimentar uma gigantesca máquina caça-níqueis!...

Quando em Fátima vejo as pessoas a deitarem dinheiro nas caixas das esmolas, penso se não o farão com intenção dolosa, interesseira, esperando o tal «jackpot» do Além chamado céu, ou então estarão a «investir» na sua saúde, no seu bem estar.... como quem joga numa «bolsa», «bolsa de indulgências», produtos de rendibilidade assegurada, como se diz na gíria bancária...

Pergunto a mim próprio se a «clonagem» de Senhores que por aí prolifera (Senhor dos Benguiados, Senhor dos Malguiados, dos Passos, do Bom Conselho...) não será fruto da voragem dessa gigantesca máquina caça-níqueis? Será que ainda vou ver nalgum restaurante o nome de «Senhor dos Bem Comidos e dos Bem Bebidos»?!

E a «desmultiplicação» de Senhoras não será algo do mesmo teor?

E os santos e santinhos, cada qual com a sua «especialidade» (mais fazendo lembrar médicos ou advogados...) não será uma «oferta» respondendo à «procura» de pessoas carentes e angustiadas? Versão «sacra» da lei da oferta e da procura?

Enfim, solução para todos os males, remédio para todas as maleitas do corpo e do espírito, bastando «apostar» neste ou naquele taumaturgo da sua predilecção?!

Meu Deus, estes maus pensamentos fazem-me recordar Santo Agostinho e as suas Tentações!

Será que as minhas dúvidas são razoáveis e a própria Igreja as irá perfilhar, talvez daqui a algumas dezenas de anos?

Será que estou demasiado à frente no tempo? Ou, pelo contrário, é o tempo presente que está atrasado em relação ao meu pensar?

Meu Deus perdoai-me se peco. Sou um inadaptado, um desfasado, um meteorito fora do tempo.

Às vezes, suprema ironia, ponho-me a pensar se esta dúvida que me atormenta, em vez de ser satã, não será a própria lucidez!?

Será a lucidez filha de Deus?

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