O diálogo de civilizações ainda é possível? Qual o horizonte ?
A recente ameaça de Bin Laden ao papa Bento XVI é o reflexo de uma certa patologia social e civilizacional que medra neste dealbar do sec xxi e que se julgava já extinta na Idade Média.
As caricaturas ao profeta Maomé e o alegado envolvimento do papa são algo de doentio e definidor de uma mentalidade aberrante e medieval. O hegemonismo religioso, o afã difusor da fé (existente em todas as religiões, reconheça-se...), tem algo de similar ao colonialismo, é o colonialismo religioso... O expansionismo belicista (com ambição universalista) que teve os seus paradigmas em Roma (impérios romanos), Moscovo e Washington (sobretudo no período da guerra-fria...), ganha paralelo com a metodologia seguida pela Al-Qaeda (muito embora esta assuma contornos mais selvagens, mais terroristas); Bin Laden é à sua maneira um Hitler ou um Napoleão de feição teocrática, um Saladino ou Alexandre Magno em miniatura; aqui o chamado arianismo (de Hitler) é cultivado sob a roupagem religiosa muçulmana, o ódio aos judeus de Hitler tem aqui um sucedâneo que é o ódio aos infiéis americanos, filhos de satã...
A linguagem do terror é o veículo propulsor, o archote iluminante, a imagem de marca deste imperialismo muçulmano...
Perante isto como actuar? Como deverá reagir o mundo civilizado?
O Diálogo de Civilizações surge como uma forma de saneamente mental e cívico, uma injecção de anticorpos contra esta pandemia que subjaz a uma visão patológica da religião e a usa (abusando de algumas passagens do Corão...) como arma de arremesso, como bomba suicida. Quando é que os verdadeiros muçulmanos, pacifistas e devotos, destrinçarão esta artimanha?
Bin Laden é o profeta da luta armada, o condottieri dos descamisados muçulmanos contra os infiéis e ricos opressores americanos. Tal como Hitler odiava os judeus pela sua riqueza e cultura
(muito embora dissesse que era por causa de ser uma raça inferior...) também Bin Laden odeia americanos e seus amigos pela sua cultura, pelo seu desenvolvimento tecnológico e não pela religião em si mesma (embora queira fazer realçar o aspecto religioso como o leitmotiv da sua luta). Da luta de classes de Karl Marx Bin Laden extraíu algo de catalizador para certo voluntarismo suicida: o ódio aos mais ricos e mais poderosos...
Enfim, esta doentia abordagem das religiões, este pretexto belicista é a parte visível do icebergue que vai gerando cada vez mais mal-estar entre as civilizações. É isso que é preciso destrinçar e diagnosticar para uma terapêutica mais adequada. É isso que os Jorge Sampaios
(laicos mas tolerantes, não crentes mas respeitadores da realidade religiosa) do mundo inteiro devem interiorizar para que possamos coexistir com respeito, usando uma linguagem de elevação ética e cultivando uma mundividência sã e não exclusivista ou monolítica.
Ateus e crentes, de mãos dadas, usando o cadinho da cultura para fundir os metais nobres da justiça social, da igualdade, da liberdade, da fraternidade.
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