Esta sociedade de consumo cria mecanismos e vícios para se perpetuar.
Há dias para tudo, para todos os gostos: há o dia em que se respeitam os animais, outro para respeitar as árvores, o dia para a mãe, o dia do pai, o dia dos avós, o dia da mulher, o dia da criança, enfim, há que preencher o calendário; qualquer dia teremos o dia do bacalhau, dia da sardinha, dia do gato, dia do pardal, dia do rouxinol...
Hoje, dia mundial da poesia, os «bonzos» saem à rua, os ungidos pelo poder (local ou central) botam faladura, tecem discursatas emproadas, só presunção e água benta, ostentando muitas vezes uma carga de hipocrisia que tresanda...
A poesia é todos os dias. No quotidiano de cada um, no comportamento perante os outros, na actuação face às adversidades, no respeito pelo semelhante, repudiando o abuso de poder, a intolerância, a discriminação, a prepotência; se calhar, aqueles que nos oprimem, que nos perseguem, os que nos ofendem, aparecem agora, com o manto diáfano da hipocrisia, a cantar hossanas, perorar loas sem fim, louvaminhar os mesmos que foram vilipendiados... esses mesmos, que fazem da poesia uma arma contra a hipocrisia, um arsenal contra todos os fundamentalismos (de multifacetados matizes...) que tolhem o nosso viver, que infernizam o quotidiano...
Aos fundamentalismos (e fundamentalistas) dedico este soneto. Que enfiem a carapuça aqueles que sabemos bem quem são... e que por vezes nem sabem que o são, ou não querem admiti-lo!...
O fundamentalismo intolerante
Não passa de cegueira medieval;
Há-o no professor, no governante,
No cacique retrógrado, venal!
Fariseus, cultivando a hipocrisia,
Almas tão possessivas, tão dogmáticas,
Julgando-se «a verdade» ou «a poesia»
Figuras patológicas, fanáticas.
Oráculos de Deus, donos da fé,
Julgam ser lá do céu embaixadores,
Da bolsa de indulgências... correctores...
Cegueira doutrinária isto é
Abuso de poder, diria até,
Excessos de «pastores-predadores»...
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