
Camões tinha razão. Tanta injustiça temos,
Os maus, à tripa forra vão gozando a vida,
Protegidos da sorte, Deus lhes dá guarida.
Os bons? Ostracizados, perseguidos, vemos.
Não há lei que proteja os bons, os justos, não!
Só protege os vilões, os salafrários, vis;
Sina de Portugal, mal desta grei, que quis
Dar ao mundo lições, sem ter moral, razão...
Ser justo é, à partida, ter destino feio,
Condenado a sofrer perseguições;
Tinha razão o bardo, tinha mil razões,
Era assim no seu tempo, como é hoje, creio.
«Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E, para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, fui castigado,
Assim que, só para mim,
Anda o mundo concertado.»
Camões, se hoje estivesse por cá, ao ver as mordomias de alguns nababos, ao assistir a autênticos esbulhos ao erário público, a coberto de uma lei iníqua, permissiva, e ela própria indutora de corrupção, que diria? Que comentários faria àqueles que constantemente apoiam esta cleptocracia «legalizada» e também vampirizam o sistema? que diria do lambebotismo reinante? que nomes chamaria aos «padrinhos» e aos «afilhados»?
Enfim, iria parar a tribunal e escrever uns sonetos para a prisão. Quinhentos anos depois a trampa é pior. As moscas não mudaram nada. A choldra continua. Quem disser a verdade, nua e crua, é «invejoso», «maledicente», quiçá «esquizofrénico», talvez «inadaptado», quem sabe se «anti-social», «marginal» ou coisa similar?!...
Será que a Resignação, a Fatalidade, a Subserviência são as deusas causadoras de tudo isto?
Se são, temos que chamar o fero Marte para as pôr na ordem.
Ai Camões, Camões, este país de ladrões pune os bons e lambe botas aos cabrões!
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