sábado, outubro 20, 2007

Virgolino Carrapato, árbitro honestíssimo!...


UM ÁRBITRO MUITO ATENTO AO "NEGÓCIO"...
(Conto - Pura Ficção)
Desde pequenino que ele queria ser árbitro de futebol. Na escola primária a sua baixa estatura era um complexo permanente. Chamavam-lhe o "garrano", com ar depreciativo...
A Psicologia explica muito bem esta ânsia de notoriedade das pessoas de baixa estatura: alguns procuram impôr-se pelo dinheiro, outros pela sabedoria, outros ainda por cargos em associações ou em partidos políticos. É a mania da compensação. É uma forma de driblar a natureza que nesse aspecto foi madrasta. Alguns conseguem superar esse trauma com dignidade e inteligência. Outros tornam-se excessivamente ambiciosos e capazes das maiores loucuras!...
O "Virgolininho" tinha ânsias de atingir altos patamares. A sua ascensão social começou nos estudos, onde, apesar de nunca ter sido brilhante, foi sempre muito aplicado.
Depois a arbitragem tornou-o conhecido e até invejado. Aparecia nos jornais, na rádio, na TV.
Começou a trepar hierarquicamente. Apercebeu-se que naquele mundo havia algo de subterrâneo que importava conhecer e aprofundar. Meteu-se em esquemas pouco abonatórios mas nunca se queimou sobremaneira. Arriscava pouco.
Um belo dia, teve uma surpresa. Tomou uma opção. Foi apanhado nas malhas da justiça...
Já era conhecido no meio pelo "meio-mil". Este epíteto adviera do facto de cobrar quinhentos contos por cada "jeito". Ele deixava o vidro do carro um pouco aberto e já sabia que o clube da casa iria lá colocar a respectiva importância em cheque. Mandava o filho ao intervalo, ao carro, para confirmar o "óbulo" na "caixa das esmolas". Este confirmava, ou infirmava, pelo telemóvel (para o balneário) e depois ele agia em conformidade...
Nesse tal dia, o filho teve uma surpresa. Em vez do tal cheque de quinhentos contos havia dois cheques: um de duzentos e cinquenta contos (da parte da equipa caseira)... e um de mil (da parte da forasteira)!
O que se havia passado?
Ele facilitou a vida ao da casa, de tal forma que ao intervalo já vencia por 3-0!!!, a equipa visitante, em desespero de causa, e precisando de uma vitória para permanecer na primeira divisão, resolveu jogar forte! Apostou a dobrar na convicção de que o "meio mil" estaria subornado! já se ouvira falar nos hábitos do Virgolino e portanto era previsível que algo de errado estivesse a funcionar, para uma vitória tão folgada, obtida à custa de dois penalties fantasmas e de um livre à entrada da área muito duvidoso...
Ao ver a oferta tão aliciante da equipa forasteira e contrafeito pela falta de respeito pela "tarifa" (os da casa resolveram dar só metade da bitola habitual... confiantes na vitória final...) Virgolino entrou na segunda parte completamente "dopado" pelo vil metal!!!
E foi um ver-se-te-avias: expulsou dois jogadores da casa e de seguida inventou pura e simplesmente dois penalties para a equipa forasteira...
Aquilo era demais! Se na primeira parte havia roubado para um lado, agora era para o outro! O presidente da equipa caseira, vendo a tramóia e suspeitando do que estaria a acontecer, chamou dois amigos que eram agentes da judiciária e rapidamente desenhou uma estratégia para apanhar o Virgolino em flagrante!
De facto o resultado final foi de 4-3 favorável aos forasteiros!
Contudo a parte final desta estória é hilariante e digna de meditação... o filho do árbitro foi ao camarote do presidente entregar o cheque de duzentos e cinquenta contos, rosnando uma ameaça:
__O meu pai é honesto e não se deixa subornar! Tenha cuidado que para a próxima ele denuncia-o como corruptor!Tome lá esse cheque nojento!!!
Disse isto com ar arrogante e recebeu uma sonora gargalhada em troca! Os agentes já tinham filmado tudo e já tinham ido ao balneário dar voz de prisão ao árbitro apanhado em flgrante com o envelope de mil contos que o filho já havia deixado no interior de um jornal desportivo pensando que ninguém se aperceberia...

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