domingo, outubro 14, 2007

FÁTIMA: um mar de Fé, um oceano de galvanização!

O milagre de Fátima! A dança do sol! A luz e a sombra...




Fátima sempre me apaixonou desde criança. O milagre do sol, a adesão popular. Os sacrifícios de tanta gente para lá ir, mesmo a pé, mesmo contra a fúria dos factores atmosféricos...

Quando lá estou se cruzam em mim dois sentimentos: aquele entusiasmo, aquele frenesim, aquela paixão sagrada... mas também há algo em mim que me leva a fazer um travão a essa euforia, um apelo à serenidade, à lucidez, ao pensamento mais profundo!

Quando ouço pessoas a descreverem o milagre do sol e falam em dança acentuada, em flores caindo do céu, eu fico sempre de pé atrás. E interrogo-me, como o fez um irmão da Lúcia, que abertamente proclamava que só lá foi com medo que lhe batessem... ficou a cerca de cem metros do local e honestamente diz que nada viu e nada ouviu: nem sol a girar, nem nuvem com a Senhora, nem luminosidades fora do comum! nada!

A Igreja investiga um possível milagre. Prudentemente recua. Não aceita, para já, a hipótese de cura miraculosa. A lucidez e o bom senso a imperar.

Pergunto a mim próprio se alguma vez a Igreja se deu ao cuidado de investigar o tal milagre do sol?! Se o fez, a que conclusões chegou? Qual o grau de visibilidade do alegado fenómeno?

A fé é uma dádiva divina. Mas o bom senso, a lucidez também.

Era bom que se aprofundassem, com sentido clarificador e pedagógico (erradicando-se visões distorcidas ou facciosas de uma realidade eventualmente não devidamente explanada) todo o fenómeno adjacente ao chamado milagre do sol.

Era bom que fossem convidados especialistas em psiquiatria, medicina, psicologia e outras ciências afins , para se aprofundar a temática e todos as possíveis causas do extraordinário evento. A teoria de fenómeno extra-terrestre (ainda que um pouco leviana, quanto a mim...) também deverá ser equacionada.

Sempre fui a favor do aprofundamento da fé. Sempre defendi que se expurgasse (como muito bem tem feito a Igreja, só que tarde e a más horas...) tudo o que é supérfluo e pouco digno de crédito, a fim de dar mais força ao que importa relevar, de facto. A ingenuidade e a boa fé, quando excessivas, podem ser aliads da má fé. Sei bem que há fenómenos paranormais que, amiúde, não passam de manifestações do próprio espírito, como a auto-sugestão, certo misticismo patológico, certa histeria de pendor psíquico.

Conheço bem as malfeitorias de alguns políticos que, querendo fazer-se passar por "santos", não perdem uma oportunidade para se "colarem" oportunisticamente a tudo o que é sacro, com um afã sacralizador digno de estudo científico! Quem diz políticos diz dirigentes desportivos ou outros agentes sempre à cata de mediatismo fácil. Desses é que eu tenho medo; não temor, como é óbvio, mas receio que se sirvam da crença e do frenesim gerado pelo fenómeno religioso para colherem dividendos de diversa índole, para se alcandorarem ao coração das gentes à custa da partilha (muitas vezes hipertrofiada) de sentimentos tão ricos e imbuídos de ingenuidade pura.

O fenómeno Fátima merece profundo respeito. Mas também profunda investigação. A Igreja, principal interessada, deveria investigar a fundo toda a problemática do milagre do sol e emitir uma opinião abalizada. Deus não pune o pensar, o investigar, o aprofundar a fé. Só pensar o contrário é sintoma de má-fé.

De má-fé está o mundo mediático cheio. Mas tenho fé que a desmistificação (do que for desmistificável) surja, para reforço da verdadeira fé.

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