quinta-feira, dezembro 04, 2008

O DILEMA DE SÓCRATES

Faça o que fizer, terei gregos ou troianos à perna...


Ele deitou-se tarde. A preocupação era latente no seu rosto. Como era difícil ser primeiro ministro!...
De tarde tinha ido à bruxa e ela fora inconclusiva. A questão era candente, obsessiva, de capital importância. O país estava pendente da sua decisão!
Então lá caíu nos braços de Morfeu, ia adiantada a madrugada.
Um sonho começou a apoderar-se dele. Estava em plena selva. Atravessava um desfiladeiro numa corda improvisada. Ia-se equilibrando com um ramo tosco de bambu. Lá ao fundo, de um lado e do outro do desfiladeiro, os caldeirões ferviam e os canibais só aguardavam que ele caísse para o devorarem.
Enfim, os suores frios eram abundantes. O seu estilo de animal feroz, de sobrevivente na selva da política estava a ser posto à prova. Quer à direita quer à esquerda não tinha escapatória: seria devorado pela certa!
Recordava-se de em tempos dizerem: «É preciso desmantelar o Estado, é preciso reduzi-lo ao mínimo, emagrecê-lo. A iniciativa privada tem que ter liberdade total para assumir os riscos...»
Agora, aqueles canibais famintos já diziam o contrário: «É preciso salvar o BPP! o Estado tem que intervir pois há risco sistémico! é o bom nome do país que está em causa!»
Do outro lado do desfiladeiro (o lado esquerdo) gritava-se: «Os ricos que paguem a crise que criaram! Foram jogar na roleta do casino e agora querem que seja o povo a pagar o vicio? Malandros, vão trabalhar! Vão para as minas de Aljustrel que bem precisam de recursos! Dar dinheiro ou mesmo só dar-lhes aval é traír os trabalhadores, é roubar os contribuintes, é traír quem paga impostos!»
Enfim, estava quase a atingir o muro final. Já via luz ao fundo do túnel de desespero. Era a salvação!
Só então reparou que esse muro estava também ocupado por canibais! A pintar em vários paineis! enfim, até na selva se viam painéis e mais painéis!...
Um painel dizia SIC. O outro dizia EXPRESSO. O líder dos canibais era Balsemão!
Que estava escrito nesses painéis?
Simplesmente isto: «ESTADO SÓ HÁ UM O ESTADO-PROVIDÊNCIA E MAIS NENHUM!»
Então Sócrates acabou a travessia do desfiladeiro e pôs-se a bater palmas aos pintores! Estava salvo! Aceitou as ordens dos canibais!
E também foi salvo o BPP! Fez o milagre da multiplicação dos avales!
Deus, lá no seu gabinete celestial, qual Big Brother do universo, soltou uma sonora gargalhada e
deixou-se caír nos braços de Morfeu!...

Um comentário:

Dimas Maio disse...

Caro Rouxinol.

Quão fértil e rica é a sua imaginação !

dimas maio