Com rigorosa independência aqui vai a desgarrada entre Sócrates e Alegre. No íntimo creio bem que tudo não passa de uma coisa passageira, um arrufo sem nada de concreto no futuro. Nem Manuel Alegre vai deixar-se colonizar pela sereia Louçã nem entrará em ruptura com o «pai»(PS) ao fim de tantos anos de militância. Fundar um novo partido em tempos de crise não está fácil, Jardim que o diga... De facto, Sócrates diz que actua com coragem, rigor, para levar a cabo a reforma estrutural que o país precisa. Há sacrifícios que têm de ser feitos. Alegre diz que esses sacrifícios são demasiados para os mais desfavorecidos e que os responsáveis pelo estado a que se chegou estão a ser recompensados injustamente. Duas verdades distintas cada qual com um substrato lógico incontestável. Eu, imparcial, acima dos partidos e das sensibilidades, limito-me a registar.
Sócrates:
Vê lá, não sejas traidor
E a ti próprio não mintas
A rosa é a tua flor
Não sejas um troca-tintas!...
Alegre:
Troca-tintas é quem diz
Uma coisa e faz o oposto
A mim não cresce o nariz
Sou poeta de um só rosto!
Sócrates:
Ó ovelha tresmalhada
Pensa antes de ir embora
O Louçã não vale nada
Vai usar-te e... deitar fora!...
Alegre:
Sou pastor de ideias novas
E tenho um milhão de ovelhas
Tu, vê lá se te renovas
És pastor de ideias velhas!
Sócrates:
Vais perder muito, te juro,
Vais passar um mau bocado
Eu é que sou o futuro
Levas contigo o passado...
Alegre:
Sou a voz dos descontentes
Humilhados e ofendidos
Trago comigo... as sementes
Tu... frutos apodrecidos!...
Sócrates:
A crise sopra ambições
Surge o vento aventureiro
E até... sebastiões
À sombra do nevoeiro!
Alegre:
À sombra do nevoeiro
Também medram... corrupções
Tu, és useiro e vezeiro
Em dar milho aos pardalões!...
Sócrates.
Não te fies no milhão
Pardalão sempre a piar
As aves de arribação
São como as ondas do mar...
Alegre:
Sinto estar em maré alta
Tu, estás na baixa-mar
Nesta hora o que faz falta
É nova malta a mandar!...
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