quinta-feira, junho 26, 2008

Interrogações...

Sandra Bullock enquanto mais jovem...

A Ilha Deserta...


Sarkozy e Carla...





__Às vezes pergunto a mim próprio se terá sido possível uma revolução democrática em Portugal? Não porque os portugueses o não sejam, mas porque os militares que conheci (os de carreira, do quadro permanente) eram quase todos de um sacrossanto culto ao poder instalado, eram sacerdotes zelotas do templo fascista.
__ Podes crer que é verdade. Foram militares de um posto intermédio: os capitães de Abril, como ficaram para a História. É conhecida como a revolução dos cravos, por causa de ter sido uma revolução de flores e não de tiros, as armas quase não dispararam...
_Mas, minha cara Sandra __ disse com ênfase__ as frases que eu mais ouvia eram: «és pago para obedecer, não para pensar! Há quem pense por nós!» O militar português que eu conheci em Angola era acima de tudo um cego cultor do regime. Tinham sentimentos de «casta», alguns oficiais do quadro permanente. Quase odiavam os milicianos. Ainda recordo o sargento Abecassis a ser punido quando deveria ter sido condecorado. Teve que aterrar de emergência numa clareira da floresta por causa de uma tempestade súbita; ficou a guardar o helicóptero de arma na mão, toda a noite, ao frio e à chuva torrencial e... foi punido!
__Tens razão, talvez fossem os milicianos a influenciarem os do quadro permanente. A situação era de molde a essa colonização cultural, digamos assim. A universidade deu um empurrão...
__Ainda me lembro de ter falado na Convenção de Genebra, de forma inocente, e um oficial superior me ter atirado logo à cara, estilo argumento idiota: «Você é dos que andava nas manifestações na universidade, não era?!» Ainda recordo a forma como esse mesmo oficial se referiu ao papa Paulo VI quando recebeu os líderes do PAIGC, do MPLA e da Frelimo! «O papa é um cretino, um traidor, um monte de bosta!» Quem admitisse a hipótese de uma solução negociada com as forças rebeldes era considerado estúpido, capitulacionista, traidor! Lembro-me bem do que diziam do Manuel Alegre!
A conversa ia decorrendo enquanto se ia degustando o lauto banquete: peixe e mais peixe cru...
O sol ia aquecendo e os mergulhos sucediam-se.
__Preciso de ir ao cabeleireiro, podes -me fazer o favor de chamar um táxi?!__Sandra não perdia o sentido de humor. Mas reconheço que o moral ia descendo com o prolongar desta incursão forçada nos domínios da Mãe-Natureza!
__Logo à noite vamos à ópera! Veste a tua túnica azul, vamos ter que ir bem aperaltados!
A conversa debruçou-se sobre outro tema. Tínhamos avistado uma cobra gigantesca e estávamos a preparar uma estratégia para a capturar. Pensei em fazer uma salgadeira para a conservar em bom estado depois de morta. O sal começou a ser extraído numas salinas improvisadas. O calor era muito e com a evaporação alguma água que guardámos num reservatório de latão abandonado, havia começado a dar à luz o famigerado sal. A desidratação começava a amolecer o corpo, era preciso ter cuidado. O sal seria para salgar a dita cuja... e para nos fortalecer também, pois a desidratação era constante.
Antes de ir para Angola tive um curso de sobreviência na Ota (base aérea perto de Alenquer), dado por um oficial general americano que tinha estado na guerra do Vietename. Aprendi a cozinhar cobra e gostei. Aquela cobra gigante não me iria escapar...
Sandra falou de Marcelo Caetano, o «último imperador» do regime...
_Parece que era um homem inteligente e até da ala esquerdizante, mas depois foi capturado pela extrema-direita. Dizem que foi ameaçado de substituição... __ garantiu Sandra. __ Foi obrigado a ir para o Brasil... depois do golpe de «25 de Abril», claro!
__Recordo Caetano e recordo Salazar. Este morreu em Julho de 1970, caíu de uma cadeira...
Marcelo fora seu discípulo, mas houve entre eles algum atrito. Marcelo fez um discurso de esperança para uma hipotética democracia. Dizia-se que fez um «sinal à esquerda». Contudo, passado algum tempo, virou completamente à direita, por motivos relacionados com a clique económica dominante. Problemas de «trânsito» mental!
Enquanto o mar brilhava e o sol tisnava os nossos cabelos desgrenhados, Elvis Presley, fazendo lembrar o «Sexta-feira» de Robinson Crusoe, ia fazendo companhia; agora trazia companhia também: começou a cantar o «love me, love me tender!» e arranjou uma parceira! Linda, linda de morrer!
Ao longe, no ramo de uma árvore frondosa, um casal de papagaios roçava a cabeça como que a sentir os efeitos da música... Sandra comentou: «Parece o Sarkozy e a Carla Bruni!»
__Não sei como se chama esta ilha _disse Sandra__ mas se pudesse baptizá-la seria: Ilha do Amor Permanente!»
A água estava deliciosa, fomos retemperar energias e mergulhar...

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