
Um blogue plurifacetado procurando abordar questões de interesse sob perspectivas diversificadas. A independência sim, mas sempre subordinada a parâmetros de bom senso, de optimismo e de realismo. O mundo e a sociedade sob o olhar atento e desassombrado de um cineasta do quotidiano, um iconoclasta moderno, sem peias, sem tabus, sem preconceitos.
domingo, junho 29, 2008
O tesouro escondido!

sexta-feira, junho 27, 2008
Ovos alienígenas!...

Spildeberg responde a Sandra Bullock:
Isto aqui numa ilha deserta é bem duro e não dá descanso! Se fosse como nos filmes, onde os actores andam sempre bem dispostos e bem barbeados, onde se arranjam sempre materiais para trabalhar barcos abandonados ou aviões, onde há mecânicos e peças sempre disponíveis, ainda vá que não vá, mas agora para nós, isto fia mesmo muito fino! Nem um canivete temos, nem sequer um isqueiro, nem tesouras para cortar a barba, aparar o cabelo ou as unhas. Não existe um prego, um martelo, uma chave de fendas nem um parafuso. Nem uma arma, nem um machado, nem uma fisga!...
Isto aqui é mesmo a selva a sério! Só dá para comer umas frutas selvagens e uns peixes crus, que apesar de tudo nos sabem que nem lagosta suada! Ainda ontem a Sandra Bullock, ao saborear um naco de gibóia, comentava com ironia: «É melhor que lampreia!»
«A necessidade aguça o engenho!» dizia o grande Camões. De facto, temos que nos adaptar a tudo sem tugir nem mugir. Ainda bem que temos água com fartura, para tomar banho, para beber, para nos divertirmos.
Hoje de manhã cedinho lá fomos junto das pirâmides para observarmos o que os alienígenas tinham escondido e que não pudemos analisar na altura. Passámos por vários castores fazendo mini-barragens, sempre num labor intenso. Olhando para um deles, Sandra comentou em tom jocoso: «Aquele é o Bill Clinton!»
E explicou-me que era um presidente dos EUA que comia madeira! Gostava tanto de madeira que até comeu uma secretária!...
__Mas, como foi possível, foi na Sala Oval da Casa Branca ?
__Sim, foi. Mas era uma secretária estagiária de nome Mónica!...__riu Sandra, com aquele sorriso gostoso que dava para todo o mundo ficar bem disposto.
Caminhámos longamente até à zona das pirâmides. Ali procurámos o sítio onde os extra-terrestres tinham escondido uns volumes semelhantes a marmitas de alumínio. Seria algum tesouro?
Sandra ainda alvitrou:
__Podem ser as fezes geradas durante a viagem!...
Eu até me arrepiei só de pressentir o cheiro. Mas, com coragem e confiança, lá fui avançando. Era preciso investigar desse por onde desse!...
E assim foi.
Quando ao fim de longos esforços lá conseguimos desenterrar as embalagens, deparámos com uma grande surpresa. Dentro de cada embalagem e no meio de um líquido viscoso estava um ovo! Um ovo em cada embalagem!
A imaginação fervilhava! Que seria? Ovos de extraterrestres? Ovos de algum réptil alienígena que viesse para nos atacar e dar o planeta aos estranhos?
Enfim, tudo perpassava nas nossas mentes inquietas e preocupadas. Sandra desabafou:
_Quem me dera ter aqui o Steven Spildeberg. Talvez ele pudesse desencadear uma investigação profunda e se chegasse a alguma pista credível. Receio que possa estar aqui o princípio de uma nova era... e talvez o extermínio de uma outra...
«MUGABE» foi morto, esquartejado!!!


quinta-feira, junho 26, 2008
Interrogações...


A Ilha Deserta...
Sarkozy e Carla...

quarta-feira, junho 25, 2008
Acabou o isqueiro!...

Sandra interrogava-se sobre a origem dos Ovnis. Viriam de algum lugar da Terra, de Marte, de Júpiter? De alguma galáxia distante?
Uma estranha sensação de alívio se apoderou de nós depois da debandada dos estranhos seres. Já nem pensávamos nas dificuldades, nos pequenos desconfortos e nas grandes frustrações; era preciso olhar em frente e ter espírito positivo.
O isqueiro, finalmente, dera o último suspiro. Ainda pensámos em fazer uma fogueira permanente, mas não dava. Era preciso uma atenção constante para não propagar incêndios.
Decidimos pescar e pôr os peixes ao sol, em estacas, para os comermos e conservarmos secos.
Entretanto a conversa ia ocupando e fazendo matar o tempo.
_Olha, Roux__ disse Sandra, apontando as nuvens__ será que esta zona é interdita a voos, nunca se vê passar aviões? Barcos também parece difícil. Mas mesmo que apareçam não teremos grandes hipóteses de sinalizar a nossa presença com fumo.
__Entretanto a nossa ausência será notada certamente. Alguém há-de procurar por estas paragens. O teu paquete dará o alarme.
__Oxalá que seja como dizes. Eu tenho sempre esperança. Quanto mais não seja esta experiência vai enriquecer o meu curriculum de realizadora de cinema. Há coisas que só vividas!
__Sandra, fala-me do ano de 2008, dos acontecimentos mais recentes!
__Olha o teu país é protagonista de um caso polémico. Por lá têm passado voos da CIA transportando prisioneiros para a prisão de Guntánamo (Cuba). No entanto o vosso governo disse desconhecer tal tráfego. Mesmo a eurodeputada Ana Gomes, não querendo enterrar a cabeça na areia, afrontou o governo da sua área política (socialista) e foi muito maltratada. Agora, com provas concludentes, o governo já admite qualquer coisa...
__O que é isso de Guantánamo?!
__Olha, o assunto é muito complexo. Dantes havia a União Soviética e os EUA que eram os polícias do universo. Agora tal papel cabe quase em exclusivo aos EUA, e posso ter que dar a mão à palmatória. O terrorismo da Al-Qaeda, a organização de Bin Laden, a que fez derrubar as Torres Gémeas do World Trade Center, é algo de muito preocupante. Recorrem aos suicidas para provocar danos incalculáveis. Será lícito combater o terrorismo com o terrorismo de Estado? A ONU decididamente não está à altura das circunstâncias. A invasão do Iraque foi feita porque a ONU demorou a actuar, os direitos de veto de alguns países tornam-na inoperante.
__Mas Portugal está a combater o terrorismo permitindo que sejam usadas bases suas?
__Na base das Lajes, Açores, têm passado muitos aviões da CIA carregados de prisioneiros suspeitos de serem terroristas. O problema é que tudo é feito à revelia da justiça. Podem ser acusados cidadãos que nada têm a ver com o terrorismo (como já aconteceu) e ninguém é penalizado por tais abusos. Eu não sei se Portugal (o governo) sabe ou não; pode haver um acordo tácito; julgo que o há. Mas isto é algo de muito polémico em termos jurídicos e pode descambar em perseguições e injustiças de toda a ordem.
__Mas a ONU não tem poderes?
__A ONU está paralizada e refém de muitos empecilhos. É uma espécie de figura decorativa. O mundo precisa de uma nova ordem internacional. Precisa de uma entidade supra-nacional que intervenha activamente em casos de abuso de poder flagrante, de genocídios, de falta de respeito flagrante pelos direitos humanos. Contudo em todo o lado há isso. A anarquia reina. A própria democracia é um conceito que é bastante maltratado a ponto de se poder dizer que sob a bandeira da democracia se acobertam muitas ditaduras. Mesmo no meu país e no teu, aparentemente democráticos. Os poderes económicos abastardam e corrompem os alicerces da democracia. Dizem que o Grupo Bildebergue funciona como um areópago onde se acoitam os grandes corruptores, onde se conjecturam estratégias que conduzem à asfixia da própria democracia subjugada pelo poder desses grandes grupos económico-financeiros.
__Não estarás a ser pessimista?
__Mais tarde ou mais cedo isto será ensinado nos manuais escolares. Olha o caso Watergate no meu país, em que um presidente (Nixon) foi retirado do cargo por mentir sobre uma devassa ao partido adversário (Democrata). Dois repórters do Washington Post (Carl Bernstein e Robert Woodward - sei os nomes de cor por que foi feito um filme de enorme impacto) desvendaram o mistério e destruiram toda a credibilidade do presidente. O teu governo, neste momento, é uma espécie de Nixon e Ana Gomes faz o papel dos dois jornalistas. Simplesmente agora já não se liga ao mentir, a mentira está tão institucionalizada que só quem fala verdade é que é penalizado. Ana Gomes vai ser votada ao ostracismo no seu próprio partido. A verdade é mal vista nesta caricatura de democracia. A mentira é que triunfa. George Orwell escreveu um livro que está cada vez mais actual:« O Triunfo dos Porcos!». Eu diria mais: «O Triunfo dos Mentirosos!» é que está a dar!...
__Mas então a democracia portuguesa não tinha ganho credibilidade com o tal «25 de Abril»?
__Lá isso ganhou. Mas foi sol de pouca dura. Agora, uma nova ditadura está emergindo embora com rótulo democrático: a cultura, o jornalismo, o poder local, os tráficos de influência em quase todas as esferas sensíveis da sociedade estão minando a pureza democrática. Tal como no meu país: Bush não é mais que um fantoche nas mãos dos grandes grupos económicos ligados ao armamento, ao petróleo, à banca, às construtoras...
__Será que o mundo precisa de um novo e autêntico «25 de Abril?»
Finalmente, os Ovnis!


terça-feira, junho 24, 2008
O calendário de Sandra!
__Hoje são 24 de Junho de 2008! _ explicou-me olhando para uma correnteza de pedras que tinha alinhado junto à lagoa onde temos a cabana.
Eu olhei aquelas pedras todas e imaginei o sofrimento dela, a angústia da solidão. Agora já me tinha a mim e ao «Elvis» para tagarelar e poder rir até... quando lhe contava algumas anedotas ela mostrava aqueles dentes brancos e sedutores e dava gargalhadas sem fim!
Disse-lhe, então:
__Lá na minha terra em Portugal é dia de S. João, é uma festa onde toda a gente confraterniza e vem cantar e passear na rua durante toda a noite. Come-se sardinha assada e bebe-se vinho e cerveja até fartar!
__Vocês os portugueses são bem dispostos. Agora, com um português a presidir à União Europeia até devem sentir-se mais orgulhosos?!
__União Europeia, o que é isso?
__É uma espécie de Estados Unidos da Europa. O português Durão Barroso é o presidente!
__Não acredito Sandra! De Portugal só se fala no Eusébio e na Amália para dizer bem; e do Salazar e do Alves dos Reis para dizer mal! Será possível que tenhamos subido tanto na cotação do mundo?
__Depois da revolução dos cravos em 25 de Abril de 1974 Portugal passou a ser conhecido por outros motivos, bem melhores, por sinal. Mas ainda têm Alves dos Reis, isso têm. O actual chama-se Vale e Azevedo e foi presidente do Benfica, o clube do Eusébio, suponho eu. Vigarizou o clube a que presidia e vigarizava os clientes. Anda neste momento fugido à justiça!
Falámos sobre o S. João, sobre as quadras populares, sobre os alhos e os balões, as fogueiras e os bailes... enfim, ela delirou ao saber de tudo isto! Pediu-me até, com um sorriso largo estampado no rosto meigo e simpático:
__ Roux, faz uma quadra dedicada a mim, tendo por tema esse contexto do S. João!
Quando ela me tratava por Roux (diminuitivo de Rouxinol), com aquela voz doce e tão suave, eu não resistia. Lá alinhavei uma quadra e li-lha, primeiro em português, depois em inglês, e até em francês, pois o meu inglês não é muito fluente e às vezes tenho que recorrer ao idioma de Victor Hugo para ser mais explícito. A quadra para Sandra era muito simples:
Ó S. João tens um stock
De moças apaixonadas
Eu tenho a Sandra Bullock
A melhor das namoradas!
Quando falei em francês ela percebeu melhor e soltou uma sonora gargalhada. Não rimava, mas dizia a verdade e ela compreendeu a «essência da coisa»...
Falámos muito sobre Salazar. Eu disse-lhe que as anedotas sobre ele eram imensas e que reflectiam uma certa animosidade popular sobre a sua pessoa. Era um ditador muito ligado às coisas da Igreja e tinha nela um suporte muito importante.
Por falar em quadras, citei uma de que se falava muito na época.
O Xá da Pérsia tinha tido finalmente um filho e fez uma festa de arromba. Salazar continuava solteiro e sem soluções hereditárias à vista... Por isso o povo, com a sua sabedoria poética, fez parir a seguinte quadra:
Se uma queca lá na Pérsia
Tanta alegria veio dar
Lamentamos a inércia
Da "gaita" do Salazar!!!
Quando ela percebeu o que era uma "queca" e uma "gaita" não se conteve e riu a bandeiras despregadas... Até o Elvis entoou a sua canção preferida: «Love me tender... love me...»
segunda-feira, junho 23, 2008

__ Quem me dera ter aqui um telemóvel! __ disse ela com ar sofrido...
__O que é um telemóvel?!__ Inquiri, surpreso.
Ela, com a sua bonomia, compreendendo a minha amnésia lacunar (fiquei sem memória dos anos 70 até 2008!), lá me foi explicando tudo: telemóveis, faxes, conferências audiovisuais, CDs, etrc., etc.
Uma coisa que eu estranhava é que não se viam aviões no ceu durante o dia, mas durante a noite estranhos objectos circulavam a grande velocidade. Seriam discos voadores? A interrogação pairava no ar...
Apanhámos muito peixe com facilidade. Um esquilo caíu na armadilha improvisada e comêmo-lo com muito apetite. Eu às vezes gostaria de ter um telemóvel para encomendar um leitão lá no Pedro (será que ainda existirá em 2008?); será que ainda existe o Ponderosa? e o Galeto, em Lisboa?
Estes pensamentos faziam-me crescer água na boca. Sandra também tinha saudades de ir ao cabeleireiro, assistir a galas, de frequentar os restaurantes de Hollywood, enfim, no meio daquela ilha deserta começaram a vir ao de cima as solicitações da vida mundana, da tentação da cidade...
Ela lembrou que o isqueiro estava quase a acabar... dentro em pouco teríamos que comer a comida crua... que pesadelo, pensava eu com os meus botões... maldita ilha deserta!!!
Mas Sandra Bullock nunca perdia optimismo. Ela acrescentava até: «Vocês em Portugal têm um ditado que reza assim:´"há males que vêm por bem!", espero bem que este seja um deles. Ainda vou fazer um filme com o relato dos acontecimentos aqui passados até ao nosso achamento!»
Eu, para passar o tempo, perguntava-lhe coisas sobre os acontecimentos mais recentes. Ela contava-mne tudo sobre a Guerra do Golfo, a do Afeganistão, sobre o Iraque, as Torres Gémeas e o Bin Laden... Eu, mal podia acreditar no que ela me ia contando.
__Como épossível isso dos suicidas ter voltado? Regressámos à Idade Média!
A surpresa!!!

Sandra nadou, nadou e mostrou-me todos os recantos daquele mar paradisíaco. Os corais lindíssimos, os peixes coloridos como que convivendo connosco sem alarmes, sem preocupações de qualquer espécie. Depois, deitou-se na areia quente e olhando fixamente para mim disse:
__Há uma semana aqui sozinha, desesperada, agarrei-me às orações que já não rezava desde miúda. Pedi a Deus uma companhia, alguém que me pudesse ajudar a partilhar esta solidão imensa e a desfrutar o que de bom até poderá ter esta ilha tão bela. Vieste tu, foi uma resposta às minhas preces!
__Como é possível? Eu estava na guerra em Angola, tinha ido executar uma missão por ordem do capitão Estevens, o comandante de esquadra, lá na Base aérea número nove, em Luanda. Fui abatido por um míssil e o avião caíu tendo eu saltado em pára-quedas...
__Tu estás enganado! __ disse ela com ênfase. __ Estamos em 2008, a guerra em Angola já acabou há muitos anos. Angola é independente!
__Não é possível!!! Ainda ontem tive uma discussão com o Catalão, o sobrinho do general Simão Portugal, eu dizia que a independência de Angola era uma opção válida e uma forma de evitar o prolongamento da guerra. Ele dizia que era impossível a independência de Angola. Até nos chateámos por causa disso! Ele quase que me chamou comunista!
Sandra contou-me tudo desde o ano de 1970 até ao ano de 2008. Eu quase nem acreditei! A revolução de Abril, o fim de guerra do Vietename, a guerra do Golfo, a guerra do Iraque, toda uma série de acontecimentos que eu desconhecia por completo!
Disse-me que tinha sido realizadora de cinema e que adoraria contar esta aventura que estava a partilhar comigo. Pediu-me dados sobre a guerra de Angola, sobre as motivações, as dúvidas, os conflitos geracionais, enfim, todo um conjunto de dados importantes para se enquadrar melhor naquele cenário bélico.
Na medida das minhas possibilidades fui-lhe fornecendo a minha perspectiva. A posição do general Norton de Matos, o papel de Manuel Alegre, a censura e a PIDE/DGS actuando como guarda pretoriana do regime. O papel ambíguo dos EUA apoiando Portugal na ONU mas dando também apoio bélico aos movimentos de libertação (UNITA de Savimbi e FNLA de Holden Roberto). Ela não ficou espantada. Contou-me que situação igual se tinha passado com a guerra Irão - Iraque em que os EUA apoiaram o Iraque, mas, por questões comerciais, também apoiaram o Irão...
Passámos noites a conversar, a desfrutar aquele calor tórrido mas retemperador. Ela era fogosa e tagarela, eu, mais comedido, mais calmo, ia a reboque das sua investidas... Tive que a compensar dos longos momentos de solidão que foi obrigada a passar antes da minha chegada...
Construímos um abrigo feito de folhas de palmeira e troncos de bambu. As lianas foram usadas como fio de ligação, à falta de pregos.
Nos intervalos das conversas nadávamos, nadávamos. Peixes em abundância, a fome nunca foi problema. A pescar era o nosso passatempo favorito. Às vezes, para me animar, ela sorria e dizia com ar voluptuoso: «Tu Tarzan, mim Jane!»
Eu não sorria. Estava à espera de ser considerado desertor da guerra colonial. De ter uma brigada da PIDE a entrar por aquele imenso areal e dizer assim: «Está preso por ter desertado!»
Mas, como ela afiançava que já estávamos em 2008...
(Continua)
O pesadelo e... a cura!

Sandra, a estrela de Hollywood, curou-me completamente. Vou seguir os seus sábios conselhos...
Aconteceu, e foi algo de inexplicável. Nós, os militares que estivemos no ultramar, temos ou podemos ter a chamada psicose de guerra. É algo de devastador. Cria mecanismos psíquicos terríveis. Tudo começou quando utilizei uma máquina de cortar silvas; daquelas com disco e com motor. Ao fim de alguns dias comecei a ter pesadelos. Via-me de metralhadora empunhada e capaz de matar quem aparecesse pela frente. Era um Rambo completamente enlouquecido.
Fui consultar um psiquiatra. Este, experiente na matéria, já com provas dadas neste domínio específico, além de medicação apropriada, deu-me algumas dicas para ultrapassar a crise.
Remédio santo. Deixei de ter pesadelos e passei a ter sonhos cor-de-rosa... A cura foi milagrosa...
Num desses sonhos apareceu-me a artista cinematográfica Sandra Bullock numa ilha deserta. Foramos parar lá depois de um naufrágio. Não, não fora o Titanic. Tinha sido algo mais surrealista.
Ela caíra de um paquete de luxo, estando em férias, quando se debruçara imprudentemente...
Eu saltara de pára-quedas depois de um avião ter sido abatido. Sem fósforos, sem alimentos, sem nenhum suporte logístico. Apareceu-me ela, sozinha, completamente esfarrapada, carente.
Ela tinha fósforos, tinha um refúgio, tinha uma rede para pescar. Foi o meu anjo da guarda. Perguntou-me de onde vinha. «Sei lá, estava na guerra e fui abatido», respondi-lhe de chofre.
«Sabes nadar?!» perguntou-me com ar ansioso.
«Desde os sete anos», respondi com entusiasmo. «Então anda-me acompanhar!» pegando-me na mão, apontou o mar, de um azul tão cálido, de um turqueza tão ameno, que fazia crescer água na boca...
(Continua)
sábado, junho 21, 2008
Um Homem que não ajoelhou a Salazar

Tal como D. António Ferreira Gomes, bispo de Porto, e durante muitos anos exilado político, que nunca vergou perante o ditador Salazar, Aristides Sousa Mendes, então cônsul de Portugal em Bordéus (a 16 de Junho de 1940 tomou a decisão de passar 30.000 vistos a judeus perseguidos pelo nazismo), sabia que enfrentava uma tempestade política. Ao desobedecer às ordens de Salazar arriscava (como veio a acontecer) a sua carreira diplomática e o seu futuro profissional (foi até impedido de exercer advocacia), mas, indiferente ao risco, colocando acima de tudo a sua consciência, a sua integridade, optou pela ruptura, pelo afrontamento.
Não foi fácil ser reabilitado (a título póstumo) pois o seu acto tinha contornos que poderiam ser considerados lesivos para a economia nacional, para o interesse nacional, e deveria ser punido exemplarmente, para se evitarem situações similares. Contudo, o carácter excepcional desta conduta, num contexto de demência anti-semita, foi enaltecido e louvado, ainda que muito à posteriori...
A ele, ao seu exemplo humanitário, a nossa homenagem. O nosso respeito pela coragem, mesmo sabendo que iria sofrer danos irreparáveis. Aristides Sousa Mendes, o nosso Schindler, o tal da «lista» que o cinema imortalizou...
Quando imperava o terror
e toda a gente vergava
ao jugo do ditador
ele ousou ser um «traidor»,
Salazar desafiava.
Ser vertical é servir
a causa da consciência,
ao ódio nunca anuír,
saber sempre transgredir
quando impera a prepotência.
A suástica ditava
a morte ao povo judeu,
Aristides conspirava,
ordens vis não respeitava,
então, desobedeceu.
Não vergou. Foi castigado,
Salazar não perdoou,
ao ostracismo votado,
perseguido e molestado
não fugiu nem ajoelhou.
Seu gesto de rebeldia
a gente jamais esquece
a coragem e a ousadia
merecem a simpatia
do mundo, que lhe agradece.
A Família JUNQUEIRA, no Brasil
A esta Família que tem a sua génese na minha terra natal, a minha modesta homenagem com este poema.
A SAGA DA FAMÍLIA JUNQUEIRA
No Brasil se enraizou
esta Família Junqueira,
cresceu e frutificou
todo o mundo cativou
e se expandiu, altaneira,
levando a lusa mensagem
a terras de Vera Cruz,
uma lição de coragem
desta gente de linhagem
que nos encanta e seduz!
Junqueira se espraia então
pelo Brasil inteirinho
da capital ao sertão
sangue puro, sangue são,
como se fora bom vinho,
desta cepa de Camões
vinho de luso sabor,
que faz vibrar corações
congregando gerações
na senda da Paz e Amor!
sexta-feira, junho 20, 2008
Milagre! A Senhora falou!!!

Mal chegou ao hotel recolheu-se em frente da imagem da Senhora de Caravaggio e desabafou assim:
«Senhora, como foi possível teres-me desamparado nesta hora difícil? Tanto tenho implorado, tanto tenho pedido a Vossa protecção e aconteceu aquilo? Uma equipa medíocre, só meia-bola-e-força, só altura e força bruta, a ganhar aos meus mininos, aos meus artistas, aos meus geniozinhos? Como foi possível o árbitro não ter visto aquele empurrão do Balack antes do terceiro golo, como foi possível o João Moutinho ter metido a coxa quando era de meter a cabeça, à peixe, para um golo sensacional? Como foi possível o Pepe ter metido a nuca e levado a bola a subir por cima da trave quando era tão simples fazer como eu lhe ensinei: uma testada de cima para baixo? Como foi possível o Ricardo ter saído daquela forma amalucada, com os olhos fechados, meio tonto, quando poderia estar quieto entre os postes e defender nas calmas? Onde estavas Vós, Virgem Santa?!»
As lamúrias, quase sempre sem resposta, desta vez fizeram com que a Senhora levantasse a cabeça e dissesse alto e bom som:
«Scolari já te dei muitas alegrias, muitas vitórias imerecidas, já te fiz muitos favores. Arranjei-te aquele contrato milionário com o Chelsea, tiveste contratos publicitários com diversos bancos, mordomias e sinecuras sem conta, ainda queres mais?! Tudo tem o seu limite. Basta de pedinchar, basta de te pendurares nas asas da minha prodigalidade. Olha, agora atendi o pedido do papa, que, coitado, quer aumentar a popularidade da religião católica na Alemanha onde os protestantes imperam. Ele acha que se a Alemanha ganhar o euro, a religião católica poderá ter
um novo élan, uma nova oportunidade, pelo menos foi o que me pediu. Fui eu que tolhi a visão ao Ricardo, fui eu que atrapalhei o Pepe e o João Moutinho quando o mais difícil era não marcar. Já estou farta de te dar empurrões para a fama e para a glória.»
Então, de repente, senti um empurrão e caí abaixo da cama. Era a minha esposa que acabara de ter mais um pesadelo. Esqueceu-se de tomar os soporíferos...
O Papa rende-se ao encanto de Portugal!

Iberismo salutar

Esta jangada ibérica zarpando
Rumo ao porto de abrigo europeísta
Nova afectividade vai ganhando
Sob o impulso do vento futurista.
Não mais Aljubarrota ou Tordesilhas,
Não mais vis chauvinismos do passado,
Não mais impérios, nem reles partilhas,
Partilhemos progresso lado a lado.
Iberismo sadio, com respeito,
De laços ancestrais, igual matriz,
Dois rios caudalosos num só leito...
Saibamos prosseguir rumo feliz,
Cada qual ao seu ritmo, ao seu jeito,
Sendo o sucesso a vera directriz.
quinta-feira, junho 19, 2008
José Régio, à janela da saudade.

Nasceu um santo: S. João do Apito Dourado!

quarta-feira, junho 18, 2008
O prometido é devido...

terça-feira, junho 17, 2008
União Europeia: um elefante branco?!
Na Irlanda (e é crível que neste momento em Portugal se houvesse referendo ele seria negativo) há uma predisposição para encarar o Tratado de Lisboa como algo de maléfico e incompatível com a idiossincrasia indígena. Questões como o aborto, aparentemente irrelevantes, poderão estar na génese do «Não», bem assim como o actual panorama no tocante a subida de preço dos combustíveis e de bens alimentares.
Como descalçar esta «bota»?
De duas uma: ou a Irlanda faz novo referendo e vota «Sim» ou afasta-se da eurolândia.
Até lá há que meditar muito... Será que se vai esperar muito por uma decisão?!
segunda-feira, junho 16, 2008
António Vieira, um remador contra a corrente.

O padre António Vieira não foi apenas um grande escritor, um exímio cultor das letras, um burilador do verbo na mais elevada expressão. Foi também, e acima de tudo, um combatente da cidadania, um cultor dos valores cívicos, um expoente da libertação. Isso acarretou-lhe dissabores dentre os colonos exploradores da mão-de-obra escrava, isso trouxe-lhe perseguições políticas. A Inquisição, mais ao serviço de poderes terrenos do que da causa da fé, saíu-lhe ao encalço e procurou exterminá-lo. Não o conseguiu totalmente, mas tentou amordaçá-lo.
Hoje em dia quando vemos alguma Igreja (nem toda, há que o reconhecer) apostada em prestar culto aos poderes políticos (o caso da Madeira ultrapassa o mero servilismo e atinge o patamar da obscenidade), há que prestar homenagem a este Homem que soube ser firme e erecto num tempo em que custava bem caro, por vezes a própria vida.
Olhando com olhar sério o passado
Mergulhando na era esclavagista
Vieira foi proscrito, censurado,
Mal-amado por ser um futurista.
Quem ousa ver futuro no presente,
Plasmando novos rumos no pensar,
Quem lança com coragem a semente
Futurista, um risco vai arcar.
E Vieira enfrentou a Inquisição
Braço indigno da Igreja prepotente,
Pecou por caminhar no tempo à frente.
Hoje, somos Vieira em embrião,
Enfrentando esta Igreja-Situação
Incapaz de lutar contra a corrente.
A Era Fernando Pessoa começou há 120 anos...

Vem ver agora o meu país que já
não tem Camões nem Índias para achar
só tem Pessoa e o império que não há
sentado à mesa como em alto mar.
A viagem que faz é só por dentro
e escreviver-se a única aventura.
No pensamento é que lhe dá o vento
ele é sozinho uma literatura.
Eis a vida vidinha cega e surda
ditadura do não só do pouco.
Ser homem (diz Pessoa) é ser-se louco.
Heteronimismo de si na hora absurda
viajando no sentir escreve sentado.
E é Pessoa: "futuro do passado".
Nota: Homenagem de Manuel Alegre ao poeta dos heterónimos.
domingo, junho 15, 2008
Inês de Portugal!

sábado, junho 14, 2008
Eça de Queiroz sempre actual...

Para minorar os seus efeitos (não acredito na erradicação definitiva), a receita é a mesma de sempre: os políticos e as fraldas devem mudar-se com frequência e a motivação é a mesma..."»
Petróleo, novo-deus no horizonte?!

quinta-feira, junho 12, 2008
Portugal:alicerces do passado, horizontes do f uturo
de gastronomia boa
do castelo de Almourol
das colinas de Lisboa
do Marão e do Gerês
da Madeira e dos Açores
Portugal será talvez
memorial de valores
santuário de heroísmos
um retiro de fadistas
onde imperam fatalismos
sopram ventos saudosistas
mas há crença no futuro
há crianças sorridentes
que são Portugal mais puro
promessas tão refulgentes
de progresso inovador
de sã criatividade
afã regenerador
humana maturidade
capaz de nos elevar
ao sonho da perfeição
ao esperado patamar
digno da nossa ambição
um Portugal progressivo
respirando liberdade
um Portugal construtivo
com asas-modernidade!
Mãe
que me ensinaste a escrever
só terá valido a pena
se te souber merecer.
No teu regaço aprendi
a palavra humildade
por isso sempre fugi
da ostentação da vaidade.
No teu olhar há bonança
e brilha a força da fé
cais onde se esconde a esperança
ao abrigo da maré.
O sentimento mais nobre
que de ti, por certo, herdei
foi tratar o rico e o pobre
como a ti sempre tratei.
quarta-feira, junho 11, 2008
Entrevista com Camões...

segunda-feira, junho 09, 2008
Camões, as musas e os tempos...


Às ninfas quero e voto o meu afecto
Tantas nereides enchem o meu ser,
Meu ego marciano está repleto
De tágides, de Vénus, podem crer!
Mas Portugal me inflama o coração
Me veste de coragem e moral,
A alma carregada de emoção!
Ninfas, nereides, «doping» sem igual,
Frenesim, pundonor, motivação,
Enfim, todo o esplendor de Portugal!!!
1) Tágides, ninfas do Tejo; nereides, ninfas do oceano, filhas de Nereu e de Dóris.
sábado, junho 07, 2008
Ó Senhora de Caravaggio!!!


De Caravaggio, Senhora,
Ó Excelsa Criatura!
O povo crente te implora
Orações belas decora
Reza com fé, com fervura!
Será fervura demais?!
Tenho medo do fracasso
Vós, que por nós bem cuidais,
Senhora, vede os jornais:
Só triunfalismo crasso!!!
Vão flasfemando p'raí
Que «até Deus é português!»
Tal loucura jamais vi,
Deus dirá de Si para Si:
«Imbecil embriaguês!»
É um escape o futebol!
A crise nos mata e esfola!
Governo é conversa mole
Julga que nos tapa o sol
Com a «peneira» da bola!!!
terça-feira, junho 03, 2008
Petróleo a duzentos dólares o barril...
Vamos continuar a dizer: é o mercado! há que aguentar!
Imagine-se os pescadores condicionados por tantos factores aleatórios (estado do tempo, abundância ou escassez de peixe) a serem ainda mais fustigados pela subida em flecha deste factor de produção. Os salários, os juros, ainda vá que não vá, lá vão oscilando adentro de parâmetros mais ou menos racionais, contudo o petróleo é algo de incontrolável, de imprevisível, de mirabolante.
Há que pensar nesta problemática em termos europeus. A Europa tem que encarar a situação como se de uma catástrofe, de uma calamidade se tratasse. Há factores que de tão imponderáveis, de tão aleatórios, de tão aberrantes, que só uma solução de emergência e de excepcionalidade é admissível.
Dizer-se que «é o mercado a funcionar» é algo de redutor, de pouco profundo, de ridículo.
Há que encarar a sério e de forma excepcional esta situação. Mesmo a descida do imposto sobre os produtos petrolíferos poderá não ser o único expediente; a Europa terá que encarar esta situação de forma extrordinária e pragmática. Exige-o o mais elementar sentimento europeista.
domingo, junho 01, 2008
A ONU e o direito de veto.
Vimos ainda agora em Nyanmar a China usar esse direito para impedir a entrada de forças humanitárias aquando da catástrofe recente. No Zimbawe, ao que vão noticiando os jornais, a China está a fornecer armamento que visará (tudo o indica) intimidar a oposição na segunda volta das eleições presidenciais perdidas por Robert Mugabe, dando azo a que, se for necessária uma intervenção humanitária (se a situação degenerar) talvez a China use o seu direito de veto para proteger o aliado.
Com o Iraque, a Rússia usou esse direito, gerando situações pouco transparentes e quase «legitimando» a invasão por parte dos americanos, à revelia do direito internacional.
A continuar assim, o direito de veto torna-se um factor de belicismo e de falta de democraticidade notório. Há que substituír este mecanismo sob pena de continuarem as atrocidades perpetradas pelos vendedores de armamentos.
A SENHORA DA HORA!
