segunda-feira, julho 09, 2007

A RELÍQUIA - PARTE II

Antes de ser presidente da câmara ele fora bastante crítico em relação aos temas religiosos, dando uma imagem de ateu esclarecido e nada tendo de "rato de sacristia", muito pelo contrário, marxista-leninista convicto, dizia que a religião era um "ópio" e uma "muleta do poder" (sic).

Enfim, um ateu militante, e até capaz de gerar atritos familiares e situações desagradáveis para o resto da família, muito católica; contudo, depois de assumir a presidência da câmara, mudou radicalmente: tornou-se um vero "cristão-novo" na acepção mais hipócrita e farisaica do termo!...

Anda sempre rodeado de padres, sempre a consultá-los para isto e para aquilo, cheio de mesuras e de salamaleques, enfim, um nojo! Alguns, por ironia, já lhe chamam o "cónego" ou o "monsenhor!"...

O seu empenhamento nas coisas clericais é directamente proporcional ao empenhamento político-partidário de alguns padres, diga-se por elementar justiça. Amor com amor se paga...

Há uma cumplicidade, um conúbio flagrante e total. Às vezes, por piada, ele próprio ironiza:

__ Afinal andamos todos ao mesmo!__ diz ele depois de alguns copos, junto dos padres mais íntimos. __Vocês "capturam" almas para o redil sagrado, "pescam" as almas tal e qual o pescador no alto mar a pescar sardinha, no seu ganha-pão quotidiano; e eu, não faço mais que "pescar" votos, que "caçar coelhos votantes"...

Enfim, lá terá as suas razões. O certo é que os padres simpatizam com ele, sorriem, são cúmplices até ao limite do caricato. São "unha e carne" como soe dizer-se...

Como parte mais visível dessa cumplicidade são notórias as facilidades camarárias no que concerne a apoios a festividades religiosas, procissões e coisas similares. Elas assumem, quase sempre, um notório cunho político, fruto desse casamento de interesse, corolário dessa lógica de cumplicidade à outrance!

Há funcionários que são pagos (com horas extra) para colaborarem em assuntos paroquiais e recebem prebendas por essa dedicação. Os adros das igrejas, os cemitérios, tudo sempre impecável, tudo sempre um luxo!

O presidente passa graxa com profusão e, nas homilias dominicais e nos púlpitos, os padres-escova retribuem na mesma moeda. Enfim, dir-se-ia que ninguém dá ponto sem nó...

Nos períodos eleitorais vinha ao de cima essa notória promiscuidade, esse abuso ostensivo e quase chocante para as pessoas com respeito pelos valores da cidadania e da isenção. Padres com zelo político e políticos com zelo religioso, faz com que sejam "zelotes" na pior acepção da palavra. Enfim, dir-se-ia uma osmose perfeita entre os comissários políticos clericais e o afã religioso do autarca! Nunca tal se vira, em moldes tão exacerbados...


Até que um dia... desmoronou-se tudo, como um baralho de cartas levado pela fúria do vento.

Entrou em cena a fogosa Katia!

Afinal, chamava-se Gracinda Cardozo, era apenas uma "garota de programa" contratada por um conhecido "patrão" luso-brasileiro! Juizes, senadores, governadores de Estado, ela os seduzia a mando do referido "patrão", filmava os encontros sexuais e entregava a cassete ao seu mandante! Enfim, quando pensavam estar a seduzir uma ingénua donzela, cândida e pura, estavam a ser apanhados pelo "laço", estavam a ser "comidos" quando julgavam estar a "comer"... Paradoxos dignos de uma divina comédia!...

A cassete, a tal "relíquia", como dizia o tal "patrão", era uma espécie de "caução" que poderia ser usada como chantagem, como forma de submeter as vítimas aos seus caprichos corruptores, aos seus desígnios maquiavélicos.

Ora acontece que o autarca sempre cumpriu à risca (com zelo desmedido, até) as instruções do "patrão", diga-se em abono da verdade. Permitiu que fossem exorbitados certos parâmetros, como cérceas, e a volumetria disparou gerando lucros sem conta. Outras facilidades ("jeitos") foram concedidas sem que se vislumbrasse o motivo, sem razão aparente... Era a tal "relíquia" a funcionar, o tal elemento chantageador que poderia entrar em cena a qualquer momento. O autarca não sabia de toda a engrenagem mas começou a suspeitar quando tinha "dúvidas" no concernente a certas facilidades que demoravam a surgir e impacientavam o tal "patrão"...

Entrementes, oh ironia das ironias, a jovem Katia (Gracinda Cardozo), fartou-se de ser "pau-mandado" e, insatisfeita com os seus ganhos, comparados com os fabulosos lucros do seu mandante, resolveu trabalhar por conta própria. Tornou-se empresária... da chantagem!

Já fartinha de vender o corpo por 250 míseros reais, num rasgo de auto-estima, decidiu usar os duplicados das cassetes que ficaram em seu poder, e meteu pés ao caminho. Enveredou por ser empresária da chantagem!... Como dizia aos amigos, "agora quero fazer render os meus talentos"!

E assim foi. Juizes, políticos, empresários, começaram a ser assediados por gente sem escrúpulos que ameaçava divulgar cassetes de encontros íntimos! É claro que ela se rodeou da máxima segurança, tinha vários intermediários, normalmente advogados, que faziam o trabalho sujo. Ela, princesa das princesas, limitava-se a colher os frutos de tão laboriosa pescaria. Os políticos "pescavam" votos, ela..." pescava" patos!

Desde que veio para Portugal já fez alguns estragos. Mora actualmente na Suíça, vive com um ex-pugilista do F.C. do Porto. Em Lausanne, próximo do Museu Olímpico, montou o seu quartel-general. Os próximos capítulos prometem ser apaixonantes. Quando se aproximarem as campanhas eleitorais ela entrará em cena e... se não colher os frutos que pretende, vai oferecer os seus "méritos" às oposições...

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