Até nos domínios da arbitragem ela mostrou o seu "talento"...
No ante-25 de Abril fui vítima (mais do que uma vez) desta malfadada instituição. Preferi continuar "pé-descalço" e "pé rapado" do que ter de fazer o papel sabujo, a servil bajulação a quem exercitava o poder. Conheci um indivíduo na instituição militar que tinha um irmão padre e que me afirmou várias vezes ter resolvido problemas seus e de amigos à custa da Igreja. O próprio cardeal Cerejeira (muito amigo seu) prestava-se a pequenos "jeitos" que mais não eram que cunhas abertas e nada camufladas. Outro, sobrinho de um general, tinha todas as facilidades e sentia-se como que intocável na instituição militar. Ai de quem lhe tocasse!!!
O ante-25 de Abril, com a PIDE/DGS a controlar tudo e todos (o Big Brother de então), era certo e sabido que quem fosse "sem-abrigo" (leia-se : não tivesse um "padrinho"...) estava amarrado de pés e mãos... Senti isso demasiadas vezes. Nalguns casos, só soube a sua real dimensão depois do 25 de Abril. Mas já era tarde demais...
Nunca gostei de usar a cunha. O saber que o mérito próprio não bastava, era preciso algo mais, de cunho político, de carácter religioso (aqueles cursilhos de cristandade foram trampolim profissional para muita gente, menos para mim, que abominava essa metodologia), era deprimente. A capacidade intelectual, a idoneidade, a assiduidade, o trabalho efectivo sempre subalternizados quando entra em cena a malfadada cunha...
Veio o 25 de Abril e... espanto meu, a CUNHA continuou, impávida e serena, a fazer valer a sua força, o seu poder persuasivo; o que se passa nalguns sítios é alarmante; é a refascização do regime; é, de facto a prova de que Abril foi apenas... ilusões mil!
Há de facto alguns cargos que não são de nomeação directa, resultam do sufrágio popular, mas a praxis desses eleitos, no dia a dia, é típica do "antigamente", alguns são mais salazaróides que o próprio Salazar (esse não enriqueceu... limitou-se a deixar que os aparelhistas o fizessem...).
Recordo uma cena que me marcou profundamente. Ia fazer um teste psicotécnico numa empresa de grande dimensão para ocupar um lugar de reduzida importância. No café ao lado do gabinete psicotécnico, um colega chamou-me de parte. Disse-me que iria ser ele o "escolhido" , até me deu o nome da pessoa que já lhe prometera o "tacho". De facto, o teste foi mero proforma. Tudo se processou como ele dissera...
Qual foi o objectivo da "confissão"?
Julgo (presumo apenas, como é óbvio...) que tinha duas finalidades. A primeira era meter-me no "esquema". Ou seja, ficando a saber quem decidia, quem detinha de facto o poder, devia ir lá, ao "beija-mão", prestar vassalagem, para, na próxima...
Segundo objectivo: saber se eu alinhava ou denunciava a situação. Para agirem em conformidade. Traduzindo para linguagem mais transparente. Se eu me calasse e "alinhasse" passava a ser "cliente" e entraria em todos os "jogos" de sedução dali para a frente pois não teria moral para verberar nada. Se não alinhasse e denunciasse, passaria a ser alvo a abater...
Como não fiz uma coisa nem outra (não tinha provas concretas da "confissão"...) fiquei sempre num estádio estilo "corpo estranho" ao sistema; é assim este universo onde a cunha impera e dita leis.
Mas o que é curioso é que quem usa este "modus operandi" está farto de usar e abusar dos termos "Abril", "democracia" , "liberdade"... Estranha ironia...
Abril ainda não chegou. Há sede de Abril em muitas almas que se sentem reprimidas, usadas, amesquinhadas por um regime que prometeu igualdade de oportunidades, respeito, democracia plena e, de facto, existem ditadurazinhas municipais, máfias empresariais, enfim, Estados paralelos adentro do próprio Estado.
Há tanto "apito dourado" por esse país fora: na saúde, na justiça, no fisco, na própria Igreja... nas câmaras, nas escolas...
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