segunda-feira, julho 09, 2007

A RELÍQUIA - I PARTE

«O sexo é poder e manipulação"

Soraia Chaves

A RELÍQUIA (conto moderno)

PARTE I


Ela parecia eufórica. Começou a despir-se com classe, de forma estudada, calculando o efeito provocado; o "strip-tease" era um dos seus trunfos na arte do engate; a pose sensual, os seus atributos naturais, as sua curvas explosivas, o seu talento, enfim...

E ele?! Nunca sonhara ter tanto êxito junto das mulheres, nunca pensara chegar tão longe na arte da sedução; era um mundo novo, uma sensação de triunfo mal contida; a sorte, essa megera que sempre o abandonara, passara-se definitivamente para o seu lado. Galanteador com provas dadas, enfim, o clímax!

E tudo se desenrolara tão vertiginosamente! Desde que fora eleito presidente de câmara, lá, numa terra litorânea do norte de Portugal! A roda da vida começara a rodar para o seu lado...

A vida, outrora cinzenta e triste, ganhara outras cores, outros horizontes, outras cambiantes. Agora era um "senhor"! O mundo olhava-o com outros olhos. O povo, o povão, o populacho, sabia que ali, dentro daquele físico insípido e sem encantos, morava um autarca, um homem capaz de decidir o futuro de pessoas, de empreendimentos, de gerar fortunas do pé prá mão!...

Agora ali, naquele Brasil tão convidativo, cheio de encantos mil, naquela terra irmã, com aquela loura tão generosa, tão cativante, tão cheia de eroticidade, ele via-se num céu, num paraíso terreal sem similares!... Enfim, era a "cereja em cima do bolo", o êxito completo!!!

A esposa, essa ficara em casa a tomar conta dos filhos; talvez mais tarde a trouxesse, se não causasse problemas com este "affaire" tão delicioso, se não fosse um "empecilho"... Agora era preciso dar vazão àquela ânsia de conquista, àquele hedonismo tão arrebatador mais parecendo uma "dádiva dos deuses", um "presente do olimpo"! O seu ego inchou, inchou, parecia a rã da fábula!...

__ Querido, estás a gostar?__ disse Katia, sorridente, com olhar malicioso, lançando ao ar a última peça íntima que lhe tapava as "vergonhas"... Ele viu, então, com olhar esbugalhado, aqueles seios fartos e generosos, bem tostados pelo sol tropical e talvez recheados de algum silicone, mas com conta peso e medida...

__ Sim, boneca __ disse o presidente da câmara, ainda meio abalado pela visão tão exuberante e tão capitosa... __Tu és Vénus no seu apogeu! Eu sinto-me um simples mortal ainda mal refeito desta súbita entrada no paraíso!

O azul eléctrico da lingerie era uma coisa linda, deslumbrante, erotizante! Lembrava-lhe o glorioso F. C. do Porto que tantas noites de glória tinha dado, com vitórias dignas de um Marte dos relvados, de um esplendor inigualável!

Quando ela se despiu totalmente, ele constatou que era, de facto, um mulherão com M maiúsculo! Uma estátua grega moldada em mármore de Carrara, com a perícia de um deus!

Não se conteve e lançou-se no seu colo convidativo com a volúpuia de um leão sobre a gazela mais tenra da savana africana! Era um mar erógeno por ele nunca dantes navegado!!!

Aqueles mamilos rijos e carnudos, que ela tão habilmente fazia sobressaír, debaixo da túnica transparente (pois tivera o cuidado de perfurar o soutien, para isso mesmo...), eram agora o alvo predilecto da sua gulodice, da sua perdição, diria até, da sua alienação momentânea...

Enfim, o Brasil, esse sortilégio verde-e-amarelo, esse mundo novo, cheio de oportunidades, abria-se de par em par (tal como as pernas de Katia...) para um simples "portuga", um autarca ainda sem curriculum, no dealbar de uma carreira, sem cotação visível, sem carisma, sem perfil nem estatura intelectual que se visse...

O sexo, esse maná, essa vertigem quase alucinante, era (pensava ele...) o corolário lógico do seu trajecto vencedor! Mal tinha chegado ao Brasil, a convite de um empresário amigo, e logo aprisionara sob a asa sedutora do fascínio, aquela doce pantera, aquele naco açucarado com sabor a Eros... Sentia-se como o leão, abocanhando a zebra suculenta...

Ela, a fogosa Katia, parecia "derrerter-se" toda perante as suas investidas ingénuas. Voltou a repetir a dose musical com que dera início a este "tango" de volúpia e de arrebatamento: "Je t'aime, moi non plus" de Jane Birkin e Serge Gainsbourg. O seu efeito afrodisíaco comprovava-se mais uma vez, no terreno erógeno.Ela, perita no assunto, sabia-o bem...

A noitada prosseguiu, a um ritmo mais suave, pois a capacidade do autarca ia esmorecendo com o passar das horas. Ela, a capitosa Katia, de rosto angélico, níveas mãos, busto hiper-generoso, era como uma vela ardente no altar da volúpia, uma candeia acesa indicando o caminho de Eros ...

Ele, ingénuo e simplório, pasmado com aquele busto soberbo, com aquelas curvas tão exuberantes, aquele perfume tão arrebatador, julgava-se um Casanova, um galã de alto gabarito! Até quis dar-lhe uma prenda, mas ela, calculisticamente, recusou tudo! "Era só por amor, por paixão pura!" disse até, para melhor o convencer:

__ Meu doce maracotão, tu és um vesúvio, um Eros com lava incandescente, um diamante do mais puro quilate!!!

Ele replicou-lhe:

__Tu és a Vénus mais radiosa que já contemplei! O meu magma há-de ficar indelevelmente gravado no teu coração! O Amor puro ainda existe, graças a Deus!

(Fim da Parte I)


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