Jorge Costa, o "outro Bicho",
um símbolo de raça e de
pundonor, na defesa do F.C. do Porto - um dos meus jogadores preferidos.
Ao lado direito, o outro "Bicho"
quando prestava serviço militar.
Só jogava futebol de salão mas dava sempre o "litro", como o Jorge Costa sempre fazia dentro do campo.
Tinha eu dezasseis anos e fui treinar ao Varzim . Era ainda início da temporada e estava-se em fase de pré-selecção. Treinava lá o Justino, ex-guarda-redes.
Os treinos eram no antigo hipódromo e no campo anexo ao estádio (pelado).
Tempos difíceis aqueles. Eu morava na aldeia, a cerca de oito quilómetros, ia e vinha de bicicleta. Dava para um bom aquecimento...
Recordo com saudade o seccionista: o senhor Mesquita, sempre sorridente, sempre bom companheiro, um "pai" para todos nós. Ainda me lembro quando fui tirar as medidas para as chuteiras à sapataria Mesquita.
- Calças quarenta e quatro?! É quase tanto como o Hoss Cartwright (o bom gigante da Série Bonanza, então em voga na TV)!
Quanto ao treinador, o Justino, confesso que me surpreendeu pela positiva. Embora sendio guarda-redes (de origem), percebia da poda. Até na preparação física dava cartas. Gostei imenso. Colocou-me a "quarto-defesa", ao lado do defesa central. Com 1m:80 e 60 Kg de peso, era uma "vara" muito flexível e cheio de força. Ia à frente e por vezes fazia golos...
Calharam-me uns calções muito largos, de um defesa chamado "Bicho"; tinha esse nome bordado da parte da frente dos calções e era sempre esses que eu escolhia. Como era da aldeia e pouco conhecido dos "craques", tratavam-me simplesmente por "Bicho", e eu gostava do epíteto...
Ainda recordo um golo que marquei naqueles tempos de juventude. O treino já estava quase no fim. Senti-me inspirado, vi terreno livre e arranquei por ali fora. Tudo se afastava à minha passagem, driblei meio-mundo e centrei para o extremo-esquerdo. Este viu-me em boa posição e retribuíu o passe. De costas para a baliza enviei um pontapé-de-bicicleta monumental e ... foi um golão!!!
"Mister" Justino, estupefacto, gritou:
- Grande Bicho! como esse nem o Di Stéfano!
A malta sorriu e até bateu palmas! O treino já estava no fim, e eu, modesto e tímido, boiando dentro daqueles calções enormes, senti algo de estranho cá dentro...
Não pude prosseguir. O meu pai não me autorizou. O estudo (no Porto) estava em primeiro lugar. Mas, ainda hoje, recordo com saudade esse curto período de "estágio" na "cantera varzinista"... Ao "mister" Justino e ao senhor Mesquita que guardo ainda no coração, o meu obrigado!
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