Carolina Salgado contemplando o céu, onde se passam estas cenas que irão pôr o País em estado de choque!!!
Quando a fui entrevistar ela estava deslumbrante. Com aquele robe de cetim vermelho dourado, deixando vislumbrar os seus argumentos lácteos sempre a apontar para o alto, firmes e hirtos que nem pudins tentadores, ela fazia-me lembrar aquela Catherine Zeta Jones que me aparece às vezes em sonhos eróticos, toda deslumbrante, com ar saciado, a deusa do amor, pelo menos nas minhas divagações oníricas. Enfim, uma brasa incandescente no esplendor da juventude!
Perguntei-lhe:
__D. Carolina para quando o seu próximo livro? O país já está ansioso!
_Olha rouxinol__ disse ela entreabrindo ligeiramente o robe, de forma a que a cidade de Belo Horizonte se aproximasse de Mato Grosso sem nunca chegar a Minas Gerais...__eu estava à tua espera para me dares umas dicas. Sei que és de longe o melhor escritor da actualidade, pese embora o Lobo Antunes ser muito mais conhecido, mas isso vai mudar a curto prazo. Se me ajudares no meu próximo livro, ajudar-te-ei a catapultar-te para o galarim da fama.
Era a fome junta às vontade de comer!... Respirei fundo e comecei a contar-lhe, tim- tim- por- tim-tim, a minha mais recente aventura no céu. Ela ia entrando nas nuvens, cada vez mais embriagada pelo êxito da obra que será certamente o seu (nosso) próximo livro.
Eu começo pelo princípio:
Pinto Monteiro, o todo poderoso homem da Justiça (PGR) andava preocupado com a imagem externa da nossa justiça. Pôs um anúncio a requisitar um «agente transcendental». Fiz provas e os meus conhecimentos esotéricos, a minha capacidade física e intelectual vieram ao de cima. Para pilotar e saber os segredos do universo, é comigo. Sem falsas modéstias, os primeiros lugares são meus em tudo! Dei um banho nos quinhentos e tal candidatos... o meu super-QI foi determinante! Pinto Monteiro disse-me até meio perplexo com os valores alcançados:«Você será deste mundo ou criatura do Além?»
Minha primeira missão de «agente transcendental 008 de Portugal»? Ir ao céu, consultar a cinemateca...
O problema era grave. Mentia-se muito em tribunal e não havia provas. Ora, os indícios por vezes eram insuficientes. Fui ao céu, directamente à cinemateca onde Deus arquiva os filmes da vida de cada um de nós para serem exibidos no dia do julgamento final. À cautela, levei telemóvel para filmar tudo. S. Pedro recebeu-me com deferência e disse:
_«Agente oo8 de Portugal», és recebido por que o Santo Condestável intercedeu por ti. Deves-lhe esse favor. __Eu já vinha prevenido com prendas para dar a quem fosse necessário, a ele, Santo Condestável, dei-lhe um pipo de ovos moles de Aveiro que ele apreciou de tal jeito que não se conteve que não exclamasse:
__Isto sim, «OO8 de Portugal», é divinal! quando cá vieres para a próxima traz-me um milhar deles pois tenho uns amigos aqui no céu que contribuiram para a minha nomeação e quero agradecer-lhes... Sabes como é, favor com favor se paga!
Mas, reatando o fio à meada. Era preciso saber se o filme de Pinto da Costa estaria disponível na cinemateca. Ele é tão influente, tem tantos «contactos», tem tantos «tentáculos» que era suposto tivesse já feito desviar o filme para Deus não o condenar mais tarde. Contudo, o meu receio não se concretizou. Estava lá, inteirinho da silva, pronto a ser visualizado.
Começámos pelos primórdios em que se vê aquele jogador de futebol lá nas Caldinhas a dizer: __Ó Jorge Nuno, tu deves ser o mais nabo dentre nós, só na baliza é que te aceitamos, pois tu deitas tudo a perder!
E fomos prosseguinho, caminhando no tempo, vendo as suas peripécias lá no colégio dos jesuítas, até atingir um estatuto de maioral, quando roubou ao Américo de Sá o seu homem de mão, e fez com que se bandeasse para o seu lado...
Ao meu lado, bem juntinha a mim, delirando com tudo o que ia presenciando, fascinada e ainda incrédula com as cenas tão picarescas, Carolina ia contemplando o filme com sofreguidão evidente. A sua ânsia reflectia-se no respirar arfante, fazendo realçar aquele par de rolinhas mansas, tão meigas, tão fofinhas, mendigando carinhos. Contive-me e não correspondi aos seus apelos...
Queria ver as cenas de assédio por ele protagonizadas, em que lhe deu com os pés inicialmente, para se fazer cara, e depois, já mais submissa, aceitando a troco de muitas e valiosas prendas, __ como é óbvio, pois tal criatura só com isso consegue algo, é o seu «talento»__ser cortejada pelo macho completamente rendido e obcecado ... tinha valido a pena aquele curso intensivo e a leitura do livro:«Como domesticar um velho rico e sacar-lhe tudo num abrir e fechar de olhos!» Fora o amigo João Malheiro que lho oferecera, numa ida ao «Calor da Noite» ...
No céu tive dificuldades em filmar tudo. Resumi o essencial. Mas deu para ver aquele diálogo com o guarda Abel. Referia-se ao Jorge de Brito, presidente do Benfica, então no estádio das Antas...
__Bate-lhe forte e feio, ele, além de ser mouro é da maçonaria... não gosto desses gajos, pá...__disse o Maquiavel das Antas, com ar fero e espírito canino...
__E se o Dr Guilherme Aguiar disser algo? Ele anda com ele! vão quase de mão dada...
__Aqui neste clube, quem manda sou eu, o resto são zeros à esquerda, incluindo esse merdas pretensioso e lambebotas. Diz-lhe que são ordens do Intendente, do engenheiro-chefe, ou do padre das Antas, que ele também conhece... diz-lhe para ir ter com o Gerente do Caixa, o Papa-Lorpas!...
O guarda Abel lá seguiu para a sua espinhosa missão. Ao longe ainda foi mimoseado com este apelo de última hora:
__Se der para o torto, eu não sei de nada, não tenho conhecimento de nada, nunca disse nada, não fiz nada, como de costume, bem sabes...
Mais à frente, vê-se ele a criticar o governo quando houve a penhora das retretes do estádio das Antas. Vociferava entredentes:
__Nas retretes vou metê-los eu na próxima campanha eleitoral; eu dou ordens ao rebanho para não votarem neles e o rebanho obedece cegamente como de costume. Isto é tudo uma carneirada medíocre e submissa. Irão todos para a retrete, garanto-vos eu...
O caso da fruta e dos quinhentinhos está lá bem explícito. Não há dúvidas. Fruta é gajas. Quinhentinhos são os 2500 euros (cinquenta notas de cinquenta euros, novinhas em folha), tudo nos trinques, o céu é a prova irrefutável.
Depois, a presença do árbitro em casa de Carolina. Ela abre-lhe a porta. Ele pergunta pelo Engenheiro Chefe. Ela diz que está com problemas de gases, na casa de banho, mas que regressa dentro em pouco. O árbitro senta-se a ler uma revista Playboy. Ela faz um café. Ele chega e até exclama:«quando é que vocês baixam a tarifa dos quinhentinhos?», mais à frente, «o negócio está mau, os patos são cada vez mais caros, temos que tentar negociar novas tarifas como fazem na TAP»...
O árbitro replicou: «isto é muito arriscado», «o meu pai quando vai a Lisboa até diz que parece ir ao quartel general da máfia»,«os riscos são cada vez maiores, sabe-se lá se a bófia já contratou aquele agente 008 de que tanto se fala por aí!»
Ele, o Engenheiro-Chefe, riu-se e gozou assim:
__Isso do agente 008 é como a história do homem do saco que se contava às criancinhas. Eu não tenho medo de nada. Tenho lá dentro cães grandes que me informam de tudo. Ai deles, fui eu que com a minha influência os lá coloquei. São como peças desta máquina gigantesca que é a minha honorabilidade, o meu prestígio, a minha aura de santidade que o padre Jorge garante me dará entrada no céu e pela porta grande. Ai dele!, se falhar, nunca mais vai de borla ver os jogos do glorioso no estrangeiro! Nem jamais irei ao seu aniversário... não terá a visibilidade mediática que consegue com a minha presença...
Nota: isto é tudo ficcionado e nada tem a ver com a nua e crua realidade que é totalmente diferente!
Pensamento: havia uma mulher que vivia com um homem que tinha carradas de ternura pelos cães... ela, mais tarde, trocou-o por outro que tinha toneladas de ternura... por ratas!...
5 comentários:
Bom, esta história dava para novo filme. Por acaso vi o outro (Corrupção). Não gostei. Era por demais evidente.
O que eu me rio é das constantes alusões ao SLB. Nem as suas vitórias o calam. Bem, as vitórias, essas são efémeras. O que é preciso é destruir o inimigo principal. E depois tenho pena da "felicidade" dos seus cães de fila. Coitados.
Um abraço
Ele tem um séquito de cães de fila postados nos mais altos cargos... essa rede (para lhe chamar assim, de modo eufemístico) é que dá as vitórias... é essa «rede» que tem que ser desmontada... ninguém duvide...
Reconheço que nalguns casos os atletas ganharam bem. Há alguns com mérito e capacidade indiscutíveis, mas há muito de engenharia artificial...
A badalada Carolina Salgado devia homenageá-lo. Sublime.
Bem-Haja, pela poderosa criatividade fabulosa e uma narração admirável que se segue perfeitamente.
Abraço amigo...
Parabéns sinceros.
Um post fantástico.
pena
Meu caro Pena!
Se houver uma EDITORA que tenha a coragem de publicar estes nacos de prosa onde impera a ultra-LUCIDEZ creio que Carolina subirá ao podium como merece. Este "varão assinalável" é bem melhor do que os "varões" lá do "calor da noite" onde o Papa-Lorpas se babava todo...
Creio que isto será uma DIVINA COMÉDIA digna de um Dante da nova vaga!
Deus me perdoe se peco, mas o pecado não mora aqui!
Fiz as «cinco primeiras sexta-feiras» do mês com confissão e comunhão e garantiram-me o céu!
Sinto que não me venderam gato por lebre! Aquilo é gente de palavra!
Quem sabe se não alcançarei o «céu das Letras»?
Circula na net umas belas fotos de Corolina comendo iogurte, e não é da embalagem. Grande escritora lusa!!!
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