quarta-feira, junho 03, 2009

IGREJA CULTUA O PODER?

«Ajoelhar só perante Deus, nunca perante os homens
D. António Ferreira Gomes , o vertical bispo do Porto, referindo-se a Salazar...




Em tempos escrevi um post (clicar aqui) sobre este tema. A humanidade regista coisas absurdas, nojentas mesmo. Desde bispos e padres tentando influenciar o poder (desde aquele que berrava no púlpito ameaçando excomungar quem votasse em Sampaio por não ser casado pela Igreja, até ao outro que dizia que Macedo Vieira era péssimo por não ter casado pela Igreja).
Misturar as duas entidades, procurando colher dividendos, é lamentável, oportunista, merecedor de censura pública.

É de censurar quem se aproveita dos padres e bispos ingénuos (ou ganaciosos) como quem se aproveita dos políticos também oportunistas e lambebotas ao clero. O pecado é igual em ambos os agregados...

Conheço um indivíduo que deixou de ir a procissões porque uma vez foi «impedido» de figurar numa festa à Senhora da Saúde porque houve um lacaio do presidente da câmara que se interpôs impedindo tal presença. Inadmissível, cobardia atroz, pulhice mesmo!

As procissões assumem um papel tantas vezes mais folclórico e exibicionista (um exibicionismo ostentatório de um sinal exterior de fé que repugna) do que espiritual e religioso no sentido profundo e intrínseco do termo.

Feira de vaidades mundanas, palco de exibicionismos com intuitos mediáticos, farisaismo pacóvio e hipertrofiado atingindo as raias do caricato. Li há tempos um artigo do jornalista José Azevedo (comércio da póvoa) que parodiava de forma hilariante toda a entourage de uma procissão ao S. Pedro, na Póvoa de Varzim. Digno de uma divina comédia!!!

Padres sabujos e hipereverenciadores ao poder político prestam-se a papéis servis, nada conformes ao ideário e ao espírito que deve presidir ao seu múnus espiritual. Descem ao inferno da dignidade, rastejam no limiar da pobreza mental...

O padre que foi condenado à prisão perpétua na Argentina foi apenas mais um caso de servilismo ao poder, violando o segredo da confissão e atirando para a tortura e para a morte cidadãos que professavam ideologias não conformes ao poder instalado.

Quando vemos agora padres rastejando servilmente ao poder instalado, fazem-no com igual ou maior ostentação (para colherem os pratos de lentilhas da praxe: aparecer no jornal oficial, ser citado nalgum discurso do presidente...) do que o faziam antigamente, no tempo do Estado Novo.
Enfim, a filosofia do Estado Novo continua em muitas facetas do quotidiano. Nos empregos a imperiosa necessidade de uma cunha para singrar, na política, o apadrinhamento de um caudilho qualquer, até nos percursos académicos há muletas obscuras de índole política que são visíveis a olho nu. As «pressões» exigem-no. Carneiros obedientes não reagindo nem tendo coragem de denunciar as pressões é o que há mais. Alguns até parece que consideram as críticas ao poder arbitrário como ofensas ao clero, dada a promíscua osmose existente!!!

Valha-nos Deus tanta pouca vergonha!

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