terça-feira, fevereiro 10, 2009

A D. Verdade, a proscrita!

A Verdade, nua e crua, pedindo para a levarem ao «Correntes d'Escritas...»


Vinha eu, meditabundo, vagueando pelas ruas da Póvoa de Varzim, quando, de repente, fui surpreendido por uma visão. A Verdade, ela própria, numa varanda, pedia a quem passava:
__Por favor, leve-me ao «Correntes d'Escritas»!...
Olhei, meditei e disse com os meus botões: «Estava tão bem nos braços do Eça de Queiroz!»

Continuei o meu trajecto. Mas ela insistia. Então parei e fui falar directamente com ela.

__Hoje em dia tu não és bem vista. A tua prima, a Mentira, essa sim é que se impõe. Olha, vai ali à frente com aquele casal tão prendado. São a D. Fantasia e o marido, o Manto Diáfano...

A Verdade replicou, com energia:

__Rouxinol, estamos em democracia. Há lugar para todos!
__Como tu te enganas__ disse-lhe com um sorriso de comiseração. __Portugal atravessa uma grave crise e a maior é a democrática. Há um défice enorme, maior do que o défice orçamental. Aqui na Póvoa quem mais ordena são mulheres como aquela que ali vês à frente, bem acompanhada, com um colar de pérolas ao pescoço...
__Quem é?! __interrogou intrigada...
__Olha é a D. Opacidade, a pessoa mais importante aqui da Póvoa.
__Mas, será a mulher do presidente da câmara?
__Não, não. Essa é séria e bem formada. Esta talvez seja concubina ou similar...
Então, ela fez-me uma revelação surpreendente.

__Pois eu julguei que a amante dele era outra. Ele diz que dorme sempre com ela... e não sendo a esposa...

Fiquei intrigado. Quem seria? Como quem tira nabos da púcara, fui conduzindo a minha conversa para saber de quem se tratava. A Verdade ia contornando a resposta, com subtileza. Era compreensível, pois poderia causar problemas familiares. Uma amante é sempre uma mancha na reputação, quanto mais de um político. Mas se ele próprio afirmava que dormia sempre com ela. Era como se fosse uma coisa oficializada. Talvez uma amante consentida. Quem sabe?

Não resisti à tentação e fui incisivo:

_Então quem é essa galdéria com quem o presidente da câmara dorme, todos os dias, sem que a legítima esposa se importe?

A resposta foi de caixão à cova:

__Olha rouxinol, é o presidente que o afirma constantemente: «Eu durmo com a Consciência Tranquila, todos os dias!»

Será ela, a amante, a Consciência Tranquila, a vencedora do Prémio Literário?!

Os candidatos são muitos: O Salamaleque, a Cunha, o Politicamente Grato, a Salta Pocinhas, o Rasputine, a Mordomia, a Sinecura... a Meia-Verdade, o Curvado, a Genuflexão... e tutti quanti...

5 comentários:

Dimas Maio disse...

De que raio de anedota se havia de lembrar este maldoso Rouxinol...

Esta estibe boa! Piramidal!

Manuel CD Figueiredo disse...

Um dos melhores textos que o Rouxinol "assobiou"!
A oportunidade do "Correntes" inspirou-o a um retrato perfeito, com alta definição...

Dimas Maio disse...

Não há duvida. Ele tem uma criativíssima imaginação!... Inspirado na alegoria do Eça veja-se a que raio de burlesca metáfora ele chegou. E ninguém tem motivo para se ofender. Penso eu de que... é só para rir. Riamos para esquecer a crise !

Rosani disse...

Olá!rouxinol de Bernardim

Eu vim de agradecer sua visita no meu cantinho, e chego aqui fico supresa com tamanha criatividade nos seus textos, e alias no meu País não está muito diferente em relação a crise...rs
beijos perfumados

Anônimo disse...

Pequeno Rouxinol, que bom falarmos a mesma língua. =)
Muito criativos seus textos!
Obrigada pela singela visita.

Carinhosamente,
Sara Albuquerque.