É triste dizer isto mas é um facto verdadeiro: em períodos de decadência e de adulteração de valores a Igreja Católica encosta-se frequentemente ao poder; não se apercebe da instrumentalização de que é alvo. Foi assim no declinar da monarquia, é assim hoje, talvez o canto do cisne deste abrilismo que tanto prometeu e que se deixou afundar no abastardamento.
Soube-se que na freguesia de Pedroso (V. N. de Gaia) o presidente da câmara foi na própria igreja divulgar obras aos frequentadores da missa. Que de abuso de autoridade, que de ostentação abusiva, como é possível usar o templo sagrado para fazer propaganda?
Imagine-se o precedente criado. Se algum cidadão presente na missa quisesse usar da palavra para contestar o abuso, ela ser-lhe-ia negada? Com que direito?
Que consequências poderão advir desta prática? Se todos os partidos políticos têm no seu seio crentes, não terão a mesma oportunidade? Se no próximo domingo, no final da missa, um comunista quiser dar conhecimento de hipotéticas obras que pretenda realizar a nível paroquial, se ganhar as eleições, não terá esse direito? Com que critério moral (ou cívico) lhe será vedado?
Não está em causa o partido nem a pessoa que cometeu o abuso, está isso sim, o princípio de autonomia e respeito que deve existir entre os poderes. Não será isto aproveitamento político, demagogia pré-eleitoral? Caciquismo?
É triste verificar que a situação está muito similar ao que se verificava no término da monarquia: uma promiscuidade e uma venalidade totais entre a Igreja e o Estado. Talvez essa tenha sido a razão principal do anti-clericalismo da I República.
Era bom que o senhor Cardeal Patriarca não deixasse passar em claro este abuso. É que há precedentes que se poderão pagar bem caro!...
4 comentários:
Diz-se que foi o pároco a convidar o piedoso autarca a anunciar a boa nova dos investimentos, o que faz aumentar a entrada da "porca política" na Igreja. E os fieis bateram palmas: às tantas já não sabem a quem agradecer as benesses que recebem nesta vida, se a Deus se ao autarca!
Já testemunhei casos vergonhosos deste teor, e não me refiro aos tempos de eleições. Por este andar ainda vamos ter comícios políticos "abençoados".
Concordo com a ideia do Cardeal Patriarca aproveitar esta ocorrência para pôr ordem na Igreja, e pôr os senhores padres na ordem.
Meu caro:
Isto poderá estar a passar-se em vários municípios e envolvendo diversas forças partidárias. É a adulteração total de valores, o mimetismo promíscuo entre o poder político e o religioso, essa mistura venal e «porca» que emporcalha ambos...
Nós, os que não temos ambições políticas, temos o dever/dever de denunciar este aviltamento dos ideais de Abril e de Cristo!
Não dizia ele: «fora os vendilhões do templo!? »
Não é isto o vender a banha de cobra partidária no templo?!
Se há Juntas de Freguesia a pagar300 euro por uma missa pelas almas da freguesia é de esperar que os padres se sintam agradecidos. Na Madeira os comportamentes deste género não são excentricidades e o elemento da oposição que discorde de tal comportamento na privacidade de uma reunião da Assembleia de Freguesia vê logo o seu nome cair nas bocas do mundo! Aliás, pela boca do padre e em plena missa! Na generalidade as pessoas não condenam esta simbiose entre Poder local e Igreja!
Meu caro amsf:
É uma vergonha, isso sim. O poder político a «seduzir» o poder clerical à custa do dinheiro dos contribuintes!
Mas o dador-mor faz autênticas hipérboles de generosidade interesseira com o JM!... O exemplo (mau) vem de cima!
Será que a cegueira popular não vislumbra onde se quer chegar?!
Isto é a antecâmara da venalidade mais torpe, é tempo de ser denunciada a quem de direito...
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