Faleceu em 20 de Agosto de 1964. Em Novembro de 1994 um presidente da República atribuíu-lhe a título póstumo a Ordem da Liberdade!
Ostracizado pelo antigo regime, pouco amparado pela própria Igreja católica, viria a passar os seus últimos dias na terra natal: Cristelo (concelho de Barcelos).
Frequentou a universidade de Lovaina e aí ficou couraçado contra os abusos e as tentações/seduções do poder. Era um poder arbitrário, que hostilizava os pobres, os carenciados, os defensores da igualdade perante a lei. Era um poder que incentivava toda a gente ao seu culto, à sua bajulação, sob pena de discriminar quem o não fizesse. Enfim, muito semelhante ao que hoje se passa em muitos locais deste país, verdade seja dita...
E não teve a ajuda da comunidade clerical, que o deixou "caír" sem dó nem piedade. O mesmo se passou com D. António Ferreira Gomes, expulso do país por Salazar, e impedido de exercer o seu múnus de bispo do Porto.
Era então perigoso apoiar quem não comungasse da ideologia dominante - como hoje por vezes acontece, nalguns locais. Era mais cómodo estar sempre a cantar hossanas e tecer panegíricos aos tenentes do poder. Era mais "prudente" calar, silenciar os arbítrios, as prepotências, as mentiras, do que verberar e dizer "basta!"; mas ele teve a dignidade de o fazer, sem escândalos, sem parangonas nos jornais, mas no seu quotidiano, ajudando os operários, os estudantes, as prostitutas em recuperação. À sua volta nasceu uma aura de prestígio que o poder procurou ofuscar...
Foi alvo de calúnias sem conta, foi perseguido, vilipendiado, como ainda hoje acontece nalguns locais a quem não vergar ao «ideólogo» dominante, ao poder sectário vigente...
Demorou a ser reconhecida a sua perseverança, a sua conduta irrepreensível, mas foi um presidente laico e republicano que teve a coragem de relevar a sua postura perante os humilhados e ofendidos, perante os reprimidos e marginalizados pelo poder vigente. Foi Mário Soares que condecorou o padre Abel Varzim com a Ordem da Liberdade!
O movimento Católico Operário Cristão deve-lhe muito. A Igreja, que o deixou fragilizado perante as ignomínias da prepotência vigente, esteve sempre ao lado do poder, ao lado dos tiranos, ao lado do arbítrio. Mas, tal como D. António Ferreira Gomes (outro grande expoente da cultura e da cidadania), o padre Abel Varzim perdurará na memória das gentes como um exemplo a seguir, como um cidadão íntegro e impoluto, enquanto que alguns dos seus perseguidores cairão no olvido para sempre. Ou serão recordados como facínoras e tiranos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário