terça-feira, janeiro 27, 2009

A «excelência» do jornalismo totó...



Um novo olhar sobre o jornalismo. Será que «totó» é suficiente?!
Há dias, ao contemplar o jornalismo insípido, sabujo e servil, que foi o encontro com A.J. Jardim, na Madeira, sem uma réplica condigna, sem um contraponto minimamente objectivo (um jornalista a sério deve ser o porta-voz de todos os segmentos da opinião pública), fiquei elucidado sobre o carácter e a capacidade de um jornalista. É tido na conta de «guru», de «eminência» (ainda que parda...), de «opinon maker»... Mas aquela entrevista mostrou a face salamaleque e mesuras de um jornalismo de sacristia, de culto de personalidade, de genuflexão bacoca ao poder instalado. Sem o questionar, sem o pôr em xeque, sem o interrogar com boa fé... sem o olhar de frente, olhos nos olhos, com a espinha direita e vertical!!!
Agora, cúmulo dos cúmulos, em artigo no JN, esta quintessência da mediocracia, vai ao clímax mais pacóvio, atinge o limiar da senilidade precoce, com um descabelado discurso onde a isenção, o rigor, a honestidade intelectual , andam a milhas de distância!...
Analise-se com imparcialidade:
«Em política, ao nível a que José Sócrates chegou pura e simplesmente não há presunção de inocência quando há indícios insofismáveis».
Enfim, o supra-sumo, o decretar definitivo de uma sentença: o fim da presunção de inocência!
E porquê? Por causa do «nível a que José Sócrates chegou»!...
Como é possível tanta cegueira, tanto vinagre, tanta falta de escrúpulo, tanto arbítrio! Num Estado de Direito todos têm direito à presunção de inocência até trânsito em julgado de sentença condenatória! Mas esta criatura num rasgo de eloquência espantoso, num golpe de asa surrealista e patético, retira-lhe essa presunção de inocência por causa do «nível a que José Sócrates chegou»!
E eu, acreditando piamente que todos éramos iguais perante a Lei, até ler estou doutíssimo tratado de eloquência crassa, parido nos interstícios de uma meninge brilhantíssima, refulgindo sapiência e fulgor por todos os lados!!!
Mais à frente, pontifica de novo, com uma argúcia lucilando fulgor divinal:
«José Sócrates devia sujeitar-se ao julgamento popular que vem com o voto e aí saber se Portugal acredita na sua boa-fé...»
Então este jornalista de eleição não actredita na justiça actualmente vigente, no Estado de Direito, vai direitinho para a «justiça popular», para o linchamento na praça pública com janela aberta para o referendo eleitoral?
Imagine-se (por hipótese meramente académica, sublinho) que José Sócrates é culpado...
O que pretende o excelso jornalista iria de encontro aos objectivos de quem ambicionaria fugir às malhas da justiça optando pela via do sufrágio antecipado! Era ouro sobre azul!
Ainda há bem pouco, Marcelo Rebelo de Sousa refutando uma análise espúria de Santana Lopes, que alvitrava que o parecer discordante de Sócrates no tocante ao Estatuto dos Açores, com o PR , seria uma forma hábil de criar eleições antecipadas, reconheceu que não é útil aos oponentes de Sócrates irem a eleições antecipadas pois a vitimização daria azo a uma vitória folgada (como aconteceu com Jardim, com Cavaco Silva no tempo do PRD...) de Sócrates...
Enfim, tanta falta de rigor, de isenção e até de meridiana inteligência, num artiguelho que deveria ser utilizado nas universidades para mostrar o baixo nível de jornalismo que de quando em vez se vai praticando cá no burgo... E é pena, o país merecia melhor jornalismo!
Será que o termo «totó» é suficientemente incisivo para catalogar esta porcaria?!

3 comentários:

Dimas Maio disse...

Caro Rouxinol:
Bela Canora, assim é que se canta!
Notas certas e tom na altura perfeita!
Por isso é que não podes viver engaiolada.
Louvo a teu livre canto!

amsf disse...

O Crespo e o Jardim parecem ter mais uma coisa em comum. A opinião de que os políticos são julgados pelo eleitorado e que tal julgamento é suficiente. O povo parece ser bom juiz, veja-se o caso dos três ou quatro autarcas reeleitos apesar de tudo! Este processo kafkiano movido contra o Sócrates por certa comunicação social deve ir até o fim, e o fim não significa apenas a ilibação do acusado caso não se encontre provas mas o desmascarar de certos lobbys que procuram outra coisa que não a justiça. Quando há uma acusação veemente devia haver sempre um culpado, o acusado ou o(s) acusador(es)!

MMV disse...

Então queria que ele crucifica-se o Messias de todos os Madeirenses?!