quinta-feira, janeiro 22, 2009

PS: a bifurcação iminente?

Tal como o PSD também o PS apresenta contestação interna. Sobretudo pela voz de Manuel Alegre essa contestação organizada e por vezes turbulenta, tem feito sentir os seus efeitos.

Será que irá degenerar em ruptura interna? Será que os arrufos de Alegre com o BE irão redundar em «casamento»?

Creio que há dois planos que importa equacionar:

I - No plano ideológico há muita similitude argumentativa entre Alegre e a maioria dos militantes do BE. Simplesmente vir para a praça pública bolçar slogans e verberar a política de austeridade do governo, contemporizando com certo populismo demagógico, não fica bem a quem deve solidariedade a um partido de que é fundador e que tanto lhe deu ao longo dos tempos.

Que o BE o faça, é natural, está-lhe na massa do sangue. Agora esta aliança contra-natura não fica bem em termos éticos, não se enquadra num espírito gregário e solidário (em termos de espírito de grupo, entenda-se). Isto é «traição» ao espírito gregário que deve ser apanagio de um partido, por mais liberal e pluralista que se afirme. Há limites para tudo!

Ficava melhor uma ruptura franca e aberta. Agora, vir dizer que tudo é possível, está tudo em aberto, não sabe o que vai fazer, é só nevoeiro no seu espírito, então será que pretende surgir, alguma manhã de nevoeiro mais intenso, como o D. Sebastião salvador?

Desde o «Messias » da Madeira, ao de Gaia, o país vai assistindo ao desfilar pírrico de alguns figurantes capazes de ombrearem com figuras saídas da pena de Jorge Amado; já estamos fartos de figuras providenciais que se acham predestinadas para o olimpo. Não queira Manuel Alegre fazer esse papel sempre de contornos semi-hilariantes...

O governo tem cometido erros, mas também tem perseguido metas que de há muito eram almejadas (redução do défice, reformas nalguns sectores que geraram resistências várias por força dos interesses corporativos beliscados...) e muito embora os circunstancialismos do momento possam augurar um derrapar acentuado, não deixa de ser também digno enaltecer a forma expedita e dinâmica como tem sido gerida a actual conjuntura.


2- No plano pragmático há que apontar o dedo a certas limitações de Alegre nos domínios concretos da governação. Aí, entre Alegre e Louçã há uma diferença abissal. Este tem ido ao concreto, tem apontado algumas feridas com certa lucidez e discernimento, diga-se em abono da verdade. Daí que a pergunta que se deve fazer é esta: Manuel Alegre irá liderar o tal projecto-surpresa ou, a contrario sensu, deixar-se-á abrigar pela asa protectora deste actual compagnon de route?!

A dar-se a primeira circunstância, o país não olhará para ele com a sensação de ver o líder capaz, competente e idóneo para pôr em prática um projecto exequível, uma vez que lhe falta arcaboiço tecnológico para o materializar.

A dar-se a segunda hipótese, quedar-se-á por um lugar subalterno, apagado e facilmente trucidado pelo fulgor mediático de que Louçã é capaz, e já deu provas disso, precisando apenas de votos para corporizar as suas legítimas ânsias de governação. Será que Manuel Alegre tem a noção de que não passará de um trampolim de Louçã? Logo de seguida lançado às urtigas do ostracismo...

Será que Alegre quer ter uma espécie de PRD de sabor eanista? Será uma bolha que rebentará com facilidade ao primeiro esboço de conflitualidade interna, dada a volatilidade ideológica que subjaz a este tipo de partidos-proveta.

Face ao acima exposto, julgo que Manuel Alegre não é tolo e não se deixará caír no laço com que o querem aprisionar! Mas compete-lhe a ele decidir se quer continuar como o tal indeciso no meio da ponte...

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