sábado, janeiro 03, 2009

Portugueses!...

Portugueses!

No dealbar deste ano de 2009 quero dirigir-me a vós com verdade, com rigor, sem artificialismos demagógicos. Este ano vai ser difícil, a crise galopa infrene acentuando os desníveis sociais, agravando o défice, pauperizando cada vez mais a grande maioria e infernizando a vida dos desempregados, dos marginalizados. Há que ter maior coesão, mais disponibilidade para atender aos que são lançados borda fora sem uma âncora de esperança no seu olhar.
Há que lançar bóias e congregar esforços no sentido de auxiliar os que perderam lugar no barco da dignidade, os que estão abaixo do limiar da pobreza, os que foram vitimizados pelo tsunami económico e pelo tufão financeiro.
Mas antes de perguntarmos ao país o que pode fazer por nós, interroguemo-nos, a nós próprios, sobre o que poderemos fazer por ele também. Uma avalancha de laxismo e de impunidade grassa a vários níveis. Falemos dos desfavorecidos sim, mas falemos também dos favorecidos!
Desses que à custa de malabarismos de uma engenharia financeira mais digna de Satã, têm afundado a nossa economia, têm dado cabo da credibilidade das instituições, têm sugado o erário público até ao tutano! Falemos desses, que fruto de uma supervisão medíocre, de uma fiscalização adormecida ou aliciada, têm enriquecido fabulosamente à custa do esforço colectivo, têm depauperado as instituições e desviado para fora do país autênticas pilhagens. Sim, são eles os piratas que dão cabo da nossa estrutura financeira, em vez de dinamizarem a economia, parasitam-na, vivem à custa dela. São os vermes que vivem à custa do hospedeiro-Estado. E, pior ainda, o Estado protege-os quando em crise...
Depois, «investem» nas campanhas eleitorais para as autarquias, para os governos regionais, para conseguirem colocar em postos chave os seus capitães da areia, os seus pontas de lança, as suas gazuas... na esperança (tantas vezes concretizada, diga-se sem eufemismos...) de obterem empreitadas sem concurso público, fornecimentos de favor, mordomias de toda a ordem, prebendas e sinecuras sociais, comendas com sabor a «pagamentos de facturas»...

Portugueses!

É tempo de abrir os olhos. É hora de escolher um presidente da República que não venha com banalidades tentando tapar o sol da corrupção com a peneira da falta de competitividade ou da falta de empenhamento dos trabalhadores. É tempo de dizer que o sistema já deu o que tinha a dar. É preciso criar um novo paradigma: baseado na transparência, na frontalidade, na lisura de processos. O governo tem que deixar de favorecer os lóbis amigos que abocanham grandes obras só porque têm na administração o senhor X, antigo ministro, ou ex-dirigente partidário. Há que agir com isenção e transparência totais.

Portugueses!

O pecado original do sistema começa logo no processo eleitoral: gastos loucos em propaganda, talvez suportados por dinheiros sujos de candidatos a prebendas futuras, talvez alicerçados em promessas espúrias, em cumplicidades contra-natura em termos de democracia autêntica!

Vede, Portugueses!

A qualidade da democracia é paupérrima, o défice democrático é a génese dos outros défices: o moral, o institucional, o politico, o económico, o cultural.

É tempo de mudança! É tempo de lançar borda fora os corruptos e os vendedores de ilusões que têm abocanhado cargos, não pela sua honestidade, não pela sua força de carácter, não pela verdade autêntica, mas, a contrario, pela mentira sistemática, pelo compulsivo ocultar da realidade, pela opacidade doentia, pelo aliciamento de poderes que deveriam ser imparciais e isentos e amiudadas vezes o não são. Esses poderes que todos conhecem, que deveriam ser os alicerces da democracia deixam-se «capturar» pelos detentores do poder económico, pelos agentes do poder político, numa promiscuidade sem limites, num atoleiro de venalidades sem conta. O país precisa de mudar de rumo. Assim, gastando mais do que produz, sendo quase sempre os mesmos os gastadores, não vai a porto seguro. Que 2009 nos traga a transparência, o castigo dos corruptos, o restaurar da dignidade, o reerguer do orgulho nacional. Que os benefícios eventualmente advenientes dessa nova postura sejam distribuídos equitativamente pelos que mais têm sofrido, pelas vítimas do actual status quo.

Nota: Este era o discurso que eu gostaria de ouvir a um PR autêntico, a um provedor de todos os portugueses, a um garante da justiça social, a um paladino da transparência democrática. Mas, ele não existe. Há que criar um novo paradigma presidencial. Os discursos insuflados de banalidades e de superficialidades, não indo ao âmago dos problemas, não atacando a génese da doença que nos vai minando a todos, são dispiciendos.

Nota final: é preciso ter um pouco de espírito de humor para saber ler também nas entrelinhas... que dizem mais que as próprias linhas...

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