Embora ainda pouco conhecido em Portugal este conceituado cineasta judeu já é autor de uma vasta obra. Agora, de passagem para a Madeira, pudemos conversar um pouco com ele. É de uma capacidade dialogante fora do comum, para mais, anda empenhado em aprofundar a história recente do nosso país a fim de enriquecer o seu já vasto currículum.
R. de B. __ Então como se vai chamar o seu próximo trabalho?
J. S. __ Sabes, Rouxinol, a minha vida é ela própria um filme. Fui vítima do nazismo, perseguido e maldito lá nos States, tento fazer emergir na tela a minha sensibilidade, a minha experiência, para que através de hipérboles cinematográficas, a humanidade possa colher lições, possa aprofundar melhor as raízes dos totalitarismos... assim, o meu próximo filme intitular-se-á «A Paranóia de Maquiavel das Ponchas» e será feito na Ilha da Madeira.
R. de B.- Qual é o guião, ou a essência desse trabalho?
J.S. __ É um trabalho que aprofunda a mente, os labirintos quase insondáveis da patologia de um ditador. Tal como Hitler, que foi um cidadão respeitável até certo ponto do seu trajecto político, este «Maquiavel das Ponchas» começou muito civilizado, muito temente a Deus, muito "missas e ladainhas", mas depois degenerou... Passou a ver perseguições em tudo, passou a ter medo da própria sombra... Fazia o mal e a caramunha, tinha tiques totalitários profundamente coléricos, azedava com frequência...
R. de B. __ Tem similitudes com alguém em particular? Extraíu dados de algum líder conhecido?
J.S.- Não, nada disso. Ele é, ou melhor personifica, todo um conjunto de políticos que se servem da capacidade arregimentadora de populações ingénuas e timoratas para as condicionar. Ele agita espantalhos e provoca uma adesão espontânea, usando essa adesão para os seus propósitos menos lícitos e bem venais... Como ele há muitos, infelizmente, não só em Portugal... não se pode dizer que seja produto localizado no tempo e/ou no espaço...
R. de B. - Qual é a trama, a tecitura principal, o fio condutor da história?
J. S. - É óbvio que não lhe irei revelar tudo. Direi apenas que é um homem que é obcecado com a «Autonomia». Até chega ao ponto de a levar para a cama!...
R. B. - Tem pesadelos com ela?! É ela a causa da sua paranóia?!
J.S.- Nada disso. Ele tinha uma empregada doméstica que descobriu no seu quarto, em local bem escondido, uma boneca insuflável. Era linda, tão linda como uma Vénus. Tinha um nome: «Autonomia»! Tinha com ela umas «escapadelas» bem doentias...
R. B.- E então que fez a empregada doméstica?!
J. S. - Ela começou a fazer chantagem com ele. Ameaçou denunciar essa tara na praça pública, ameaçou divulgar tal fetiche na comunicação social, fazendo-o caír em descrédito perante a Igreja que era o seu sustentáculo político por excelência... a coisa complicou-se de tal sorte que não teve outra solução senão seduzir a empregada doméstica!
R. B. - E ela então calou-se?
J. S. - A encruzilhada final é quando a sua esposa, a legítima, descobre a dupla traição! Aí é que a porca torce o rabo!!!
R. de B. - O final é feliz ou dramático?!
J. S. - O final é hilariante e satisfaz todas as partes interessadas pois ele era capaz de «comprar» todas as consciências... Usou a poncha para fins eventualmente chocantes e foi-se safando... Até que um dia, um padre amigo, ao entrar em sua casa, descobriu toda a marosca. Aí, a «autonomia» foi finalmente desmascarada e ele caíu em desgraça. Foi a «queda de um anjo»!
Não foi possível colher mais dados sobre o filme que promete ser um èxito de bilheteira, tais os condimentos erótico-político-filosóficos subjacentes. Há que aguardar...
2 comentários:
Penso que o (futuro) Cine-Teatro Garrett vai ter cinema. Sugiro a apresentação deste filme, que promete, na abertura daquela sebastiânica sala de espectáculos.
Se o écran funcionar como espelho, será lindo...
De facto os Maquiavéis multiplicam-se como as cerejas... e há-os todo o ano...
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