Foi de uma eloquência digna de louvor. Foi perseguido, espezinhado, torturado. A tudo resistiu com a coragem dos verdadeiros resilientes. O poder, esse ninho de lacraus onde se acoitam os fracos, os corruptos, os fariseus, foi sempre pouco pródigo para com ele. Chegou a estar preso. Chegou a ter a proibição de pregar. A famigerada Inquisição prendeu-o (1665) com acusações idiotas...
Em 1675 haveria de ser reabilitado pelo papa. Foi ilibado de todas as falsas acusações imputadas pela Inquisição. Absolvido com todo o mérito. O seu livro«Esperança de Portugal» fora o leit-motiv da perseguição desencadeada pelo Santo Ofício.
No Brasil apoiou os índios (os tupi chamavam-lhe «Paiaçu», «Grande Pai», no seu dialecto). Foi pioneiro na abiolição da escravatura, o que lhe haveria de causar graves problemas com os colonos. O poder, sempre o poder, a amesquinhá-lo, a tentar denegri-lo.
O autor do célebre «Sermão aos Peixes» verberou os padres da sua época, acomodados ao poder, resignados aos arbítrios dos senhores, olhando sem intervir, os grandes comendo os pequenos... Tal qual agora se vai passando...
Quantos Vieiras vemos hoje em dia?
Muito poucos. Vimos o padre Abel Varzim, o padre Américo, o padre Cruz. Vimos D. António Ferreira Gomes, vimos D. Manuel Maria Martins. Vemos D. Januário Torgal Ferreira, uma das poucas honrosas excepções no meio de um mar de acomodados, de serventuários, de cúmplices com um poder mais virado para explorar do que para libertar ou emancipar os opimidos.
Daí que, este meu testemunho seja uma homenagem a quem soube lutar contra o arbítrio, a corrupção, o poder mais abjecto, sofrendo no corpo e no espírito as consequências dessa lealdade pura ao povo e aos princípios libertadores. Coerência não dá prebendas, não dá prémios literários, não dá sinecuras. Dá prejuízos e sacrifícios. Dá embates com a justiça, dá perseguições e calúnias das mais torpes.
Ele sofreu isso tudo, e, sem tergiversar, sem vacilar, acabaria por ser absolvido e louvado. Honra lhe seja feita.
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