sábado, fevereiro 02, 2008

«Lealdade política», variações sobre o tema...




O tema tem pano para mangas. Quando alguém o invoca normalmente procura tirar dividendos, chamar outrem «à pedra», por se sentir lesado.



Quando os intervenientes são de partidos diferentes não há lugar à chamada «lealdade partidária» (de conotações corporativas) mas sim à lealdade perante o povo, perante as instituições, perante compromissos assumidos.



Ora, quando alguém jura lealdade na sua função e ela é fiscalizar o executivo, não se deve confundir com lealdade a quem está no executivo. Seria uma submissão ilógica, seria uma trela sem sentido. Um contra-senso idiota (cego, estulto).



Mas há quem assim o não entenda. Há quem pense que a lealdade é unívoca. Há quem pense que os outros lhe devem ser leais a ele , e ele, mesmo usando termos ofensivos, não deve lealdade a ninguém.



Sejamos leais connosco próprios. Quando alguém diz que os adversários têm «comportamentos esquizofrénicos», mesmo sabendo que não é verdade, mesmo por formação académica, sabendo que está a laborar numa perversão analítica destinada a apoucar adversários incómodos, que dizer sobre a ética, a deontologia profissional, sobre a honra de quem assim acusa de forma infamante um adversário? Que de lealdade, que de estofo moral, que de aprumo cívico?



Ele não têm da decência a justa noção, não tem da dignidade o correcto alcance, ele não possui da lealdade a mínima percepção. Enfim, é um desastre em termos morais, é um zero em termos de carácter, é uma nulidade em questões de combate político lúcido e saudável.



Vem agora perorar nos areópagos judiciais sobre questões de lealdade como se fosse o paladino-mor, o supra-sumo, o detentor de todas as virtudes. E estabelece, ele próprio, as balizas, ao seu livre arbítrio, à sua própria análise, ao seu exclusivo critério... enfim, o dono da moral, o dono da verdade! enfim, supremo juiz em causa própria!!!



Santa paciência para aturar este tipo de vendilhões do templo democrático que pretendem dar lições de lealdade, querendo ser mais papistas que o papa mas cerceando-lhes a força moral para isso pelo seu próprio comportamento provocatório «ex-ante», pela sua atrabiliária conduta, pela linguagem desbragada, pelo constante e pouco edificante recurso a termos como «maledicência», «despudor», «mediocridade», e tantos outros no cardápio já rançoso e bolorento...

E, suprema ironia, acha que «tentáculos» é gravíssimo, insinua «tráfico de influências» e coisas similares que não são de consumo corrente lá em casa, muito pelo contrário. Mas há quem não pense assim ao olhar para os vencedores de concursos para admissão de pessoal ou para empreitadas e formecimentos. E pensar ainda é livre, que se saiba, que me conste. Ainda não li hoje o DR mas não creio que já tenha saído algum decreto a proibir o livre pensamento...

Meu caro Ilídio Pereira, bem préga Frei Tomás!...

Alguns bem precisariam se uma dose de humildade (será que já se vende nas farmácias?) democrática para saberem que a lealdade é algo que se deve ao povo, àqueles que sofrem e labutam para chegar ao fim do mês sem grandes sufocos. A crise de valores é grande, a euforia que se apodera de quem tomou o cavalo do poder e segue a todo o galope, sem olhar para os outros, sem ver a paisagem humana que o rodeia, é algo que entra nos domínios da psicanálise, no âmbito da psicopatologia social.

E mais não digo por lealdade a mim próprio que sei demais..

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