Na galeria de Abril vemos amiúde figuras- padrão que são estandardizadas e englobam perfis bem demarcados. Ao analisarmos um , somos capazes de , por extrapolação psicológica, avaliarmos o seu comportamento face a determinados circunstancialismos. São protótipos.
O chicoesperto, o cristão-novo, o populista, enfim há toda uma parafernália de tipicismos que importa equacionar e escalpelizar com minúcia. Há-os para todos os gostos.
O arrivista é uma dessas aves raras que nos surgem de rompante, cheias de optimismo forçado, arreganhando os dentes de forma triunfalista, prometendo amanhãs que cantam com a prosápia de um vendedor de ilusões que se preze.
Ele não olha a meios para atingir os seus fins. Calca tudo e todos para atingir o topo. Lambe as botas aos que estão acima e pontapeia todos os que estão abaixo numa suposta hierarquia que ele cria na sua volúpia trepadora. É o alpinista hierárquico por excelência. Sabujo, servil, sujeita-se a figuras caricatas para atropelar mesmo aqueles a quem declara ser «preclaro amigo»...
Gosta de aparecer na rádio, nos jornais, dá tudo para uma entrevista nem que seja no boletim da paróquia, o que é preciso é protagonismo, para ser falado, ser fonte de admiração...
Usa termos rebuscados, quando bota faladura na rádio, nem parece o mesmo do café, do clube, da rua. Gosta de evidenciar a sua fabulosa cultura, as suas viagens aos confins do mundo, a sua verborreia assume contornos patológicos.
Põe-se em bicos de pés por tudo e por nada. Fala sobre todos os temas com a eloquência de um lente, de um erudito pau para toda a colher: música, filmografia, literatura, enfim, de tudo é perito, especialista nato. Um generalista por excelência e especialista no que calhar...
Tem pena dos outros: dos que nada sabem, dos ignaros parceiros de café com quem é obrigado a conviver...dos que não estão à altura da sua tertúlia cheia de «nível»...
O arrivista sabe tudo e conhece toda a gente, os seus pecados, as suas frustrações, as suas motivações profundas. Aos mais velhos chama caducos, senis, ou como tendo o prazo de validade nos limites, enfim, uns trapos que nem para limpar o pó servem. Ele sim, é a jovialidade e o dinamismo em pessoa. Um portento de juventude e de optimismo. O sorriso sempre afivelado dá-lhe um ar patético, artificial, idiota, mas julga-se o maior, o mais popular, o mais-que-tudo. Os outros são impotentes, medíocres, cinzentos, ele não, é o clímax , a eloquência, o brilhantismo em pessoa...
Ele anda por aí, anda a prometer coisas que não pode dar, mas nem olha para os telhados de vidro que tem e que poderão fazer ruir o castelo megalómano que foi engendrando nos interstícios do seu super-avantajado ego. Ele não sabe que há muita gente que sabe mais do que ele alguma vez imaginou ser possível saber-se...
Enfim, uma rã que quer ser boi... mais uma a ter o destino das que o antecederam... tão bom em tudo... menos em humildade! que pena!
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