Exmo Senhor Primeiro Ministro
Excelência:
Com o devido respeito e tendo como único fito dar-lhe algumas dicas na condução da nau lusitana enfrentando alguns perigos neste mar encapelado de polémicas e acusações ferozes, com ventos recessivos no horizonte e nuvens negras prenunciando borrasca iminente, estou a dirigir-me a si; sei bem que V. Exa é piloto exímio, tem o norte sempre no pensamento e não o perde com facilidade, mas receio que esteja a leste de certos factos que poderão conduzir a nau lusitana a águas traiçoeiras.
Não, não lhe vou falar das suas peripécias no início de carreira, como vem fazendo o Público e alguns bloguistas quiçá bem intencionados mas usando uma linguagem rançosa que tem sabor a ressabiamento e a mesquinhez. Naquele período era prática corrente (e legal) tais expedientes, daí o meu prudente silêncio de Conrado.
Vou falar-lhe de coordenação. Sim, isso mesmo. Foi por falta dela (dentre outros factores não menos despiciendos) que o Dr Santana Lopes foi libertado da pesada responsabilidade de pilotar a nau lusa. Era timoneiro mais dado a coordenar o seu tempo com mundanismos estéreis, deixando o barco se não à deriva, pelo menos à mercê de correntes pouco éticas e nada consentâneas com uma pilotagem segura, austera, com um rumo flexível mas com rota segura.
Essa coordenação é imprescindível para que a tripulação cumpra com zelo o seu míster e o trabalho de pilotagem seja mais objectivo e mais orientado para tarefas superiores e de grande alcance nacional.
Sei bem que no horizonte médio há escolhos iminentes a que importa dar resposta. Há submarinos no horizonte, não para afundar, como é óbvio, mas para LIQUIDAR!
Essa tarefa hercúlea vai buscar quase 0.5 % ao PIB e há que tomar desde já medidas atempadas e não demagógicas a fim de não haver sobressaltos na hora da verdade. Há escolhos diversos que vão surgindo inopinadamente. Há riscos de navegação que importa acautelar com a prudência e a mestria que só a experiência ministra. Não sou muito mais experiente que V. Excelência mas devo dizer que sei dos mares e das correntes aquilo que é imprescindível, conheço dos ventos e das nuvens aquilo que se deve saber para não deixar ir por água abaixo o que tanto custou a ganhar e que por vezes é fruto de gerações. O povo português, este povo sacrificado e austero , precisa de ser acarinhado e ouvido. Não quer vendedores de ilusões.
Há sereias no horizonte clamando por «desmantelamentos» como panaceias para a cura de todos os males. Cuidado com elas. Há que pôr cera nos ouvidos pois são contraditórias, populistas, pregam à segunda uma coisa e à terça o seu contrário com uma desfaçatez sem nome.
Há que repartir a austeridade por todos os membros da tripulação com equidade, bom senso, sem se sobrecarregar uns em detrimento de outros. Vemos os «calafates da banca» a criar «buracos» de todo o tamanho contemplando familiares e amigos, enquanto que outros marinheiros vão sofrendo na pele os juros altíssimos, sendo os burros de carga do sistema. Há que ir ao cerne da questão. Já ouviu falar no sapateiro de Braga? esse mesmo, o que dizia «ou há moralidade ou comem todos!» Cada vez faz mais falta!
Há que repartir os sacrifícios pela marinhagem (ou o mal pelas aldeias...) de forma equilibrada e sensata. Quando a saúde se desunha num afã economicista de criar suspeição, era bom que a rede de transportes fosse ampliada e renovada (INEM e afins) de molde a corresponder à nova conjuntura em que a macrocefalia traz benefícios (economia de escala) mas acarreta custos para todos os cidadãos, que importa acautelar. Quando se fiscaliza a restauração há que fazê-lo com pedagogia e não com ares furibundos de um Silva Pais zelozo e sem escrúpulos... Sancionar sim, mas a pedagogia sempre no horizonte.
Quando o fisco aperta o cerco é preciso que o faça com equidade e não fazer vista grossa aos grandes e gordos e penalizar os fracos e magros. Sei bem que um piloto de uma grande nau não pode estar omnipresente mas tem que ter delegações de competência. Não, não pretendo «bufaria» para delatar, mas sim marinhagem atenta aos buracos e às derrapagens que vão surgindo no porão ou na casa das máquinas com frequência desusada.
Quanto à coordenação estrutural não queria deixar de dar uma palavra de estímulo àqueles que se vão da lei do desânimo libertando, e, sempre atentos ao rumo, sempre olhando os céus e as águas, vão zelando para que esse adamastorzinho chamado corrupção não lance os seus tentáculos e procure alcançar o hélice ou manietar o leme, pois aí lá ficará a barca lusíada em águas cada vez mais inseguras. Creio que não se amedrontar (fascinar?) manietar por ele, embora desde já lhe avise que a sua força é imensa, o seu fascínio gigantesco, e tem a protecção de alguns deuses na comunicação social, nos grandes grupos económicos e até nos paços episcopais.
Que consiga, contra ventos e marés, resistir às sereias, aos adamastores, aos ventos e aos escolhos ocultos, são os votos deste passarinho sempre atento aos perigos da navegação marítima. Bem haja e que a bom porto aporte, são os meus votos sinceros.
rouxinol de Bernardim
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