R. de B. e S. S.
«Meu caro Spielberg, que acha do Festival de Curtas Metragens de Vila do Conde?»
«Fiquei fascinado! Para o ano cá estarei de novo e trarei um filme para ser exibido!»
Ele passou quase despercebido. Modesto, simples, sem se mostrar perante os holofotes da comunicação social, Spieldberg esteve em Vila do Conde e deu uma entrevista. Rouxinol de Bernardim, dá conta da sua presença.
R.B.- Como teve conhecimento deste certame?
S.S. - Olhe Rouxinol, este Festival sempre esteve debaixo de olho, só agora cá pude vir porque juntei o útil ao agradável...
R.B.-?!
S.S.- Vou fazer uma curta-metragem de propósito para ser exibida aqui. Quero ver a adesão que vai ter! Será um teste para a minha criatividade...
R.B. -Mas aqui é para os novos, os que estão em princípio de carreira, não para os consagrados!
S.S.- Quero sujeitar-me a um teste. Quero saber também a capacidade crítica e o potencial dos que fazem de «examinadores»... quero saber se tenho «talento»!...
R.B.- Já tem título a obra?
S.s.- Sim, já tenho tudo mais ou menos alinhavado. Vai chamar-se : «A noite submersa!»
R.B.- Não tem similitudes com a «Manhã submersa» de Lauro António?
S.S.- Conheço bem Lauro António e o seu trabalho baseado na obra de Vergílio Ferreira, que muito apreciei. Isto é diferente. É uma divagação sobre a noite e os seus meandros...
R.B. - Vai falar sobre clubes nocturnos?
S.S.- Não, vou falar sobre a influência da noite no dia-a-dia, no tráfico de influências, na capacidade interventiva no poder decisório. Trata-se de uma mulher que seduz um autarca e o seu rival numa autarquia portuguesa. Depois, essa «Mata Hari» faz tudo o que quer à custa da sua capacidade de se insinuar...Ela é a charneira erótica num triângulo amoroso!...
R.B.- Já tem nomes em mente para as principais personagens?
S.S.- Olhe Rouxinol, já pensei na Carla Matadinho e no Joaquim de Almeida. Ela a sedutora, ele o presidente de câmara seduzido. Quanto ao outro interveniente no triângulo amoroso estou a pensar convidar o Vítor Norte ou o até o João Malheiro, uma espécie de Dr Mundinho do Jorge Amado na Gabriela Cravo e Canela.
R. B.- E quanto ao cenário?
S.S.- Já escolhi Vila do Conde como o palco principal. Mas Póvoa de Varzim, Porto e Lisboa serão também locais muito emblemáticos. Já tenho uma ideia muito bem elaborada sobre tudo. Há uma cena em que intervém um fantasma, essa será rodada naquele edifício da av. Júlio Graça em Vila do Conde (o hotel antigo). Trata-se de uma «femme fatale» que ressurge do Além para lançar a sua teia sedutora sobre alguns incautos. Ela, Bianchi Apolloni, é uma italiana ninfomaníaca que não tem descanso e surge com frequência para atormentar a vida dos galãs mais empedernidos...
R.B.- Não é uma crítica a alguns portugueses da actualidade?
S.S.- Nada disso. É pura ficção. Não contém críticas políticas aos governantes ou autarcas actuais. Pelo que sei o ambiente é demasiado taciturno para merecer honras cinematográficas. Em Vila do Conde e na Póvoa de Varzim tudo se resume a mandar para tribunal os opositores por alegados insultos e pouco mais. É um ambiente muito pobre em termos factuais. Talvez Kafka tivesse aqui pano para mangas. Eu não. Agora os cenários naturais são lindos: o mosteiro de Santa Clara, as paisagens envolventes ao rio Ave, Laundos, Aguçadoura, Rates, A-ver-o-mar, Bagunte, Azurara, Junqueira, Mindelo, são locais maravilhosos que darão um enquadramento magnífico ao filme.
R.B.- É uma tragédia ou comédia?
S.S.- Nem uma coisa nem outra. É uma ficção que procura dar ênfase à paisagem natural, aos talentos das principais personagens e a uma certa idiossincrasia lusitana que sempre me fascinou. Vi há tempos o «Call Girl» de António Pedro de Vasconcelos e fiquei impressionado! O cinema português precisa de maior visibilidade. Talvez faça um filme sobre Aristides Sousa Mendes, outro sobre o jornalista desportivo Cândido de Oliveira, são duas personagens históricas que muito admiro. Talvez eu ainda venha a reescrever a História de Portugal pois os portugueses nem sabem o valor dela! Há um ditado muito lusitano que reza mais ou menos assim: «Santos da casa não fazem milagres!», é preciso vir alguém de fora enaltecer as virtualidades portuguesas, para que os indígenas se apercebam delas!... Mas o mal é geral!
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