sexta-feira, julho 11, 2008

Marinho Pinto, um «general sem medo»!

Quando a víbora fascista está emergindo, subreptícia e paulatinamente, há alguém que resiste, que vê aquilo que todos vêem mas têm medo de afirmar alto e bom som, e diz aquilo que muitos pensam, mas não têm a coragem de dizer.
É preciso ter coragem e frontalidade para afirmar verdades num contexto de corrupção generalizada, de instrumentalização de órgãos que deveriam ser isentos, estar acima de qualquer suspeita, mas que não estão.
Tiro o meu chapéu ao Dr Marinho Pinto, bastonário da ordem dos advogados, pois tem sido uma voz isolada a bradar no deserto. Quando o país está de cócoras, quando os jornais estão amordaçados, quando a própria AR não é capaz de ir mais longe no combate à corrupção instalada, é de louvar este cidadão que não deixa por mãos alheias o que tem a dizer.
Agora, é acusado de «paranóia»!!!!
Este termo já foi usado contra tanta gente que nem sei o que dizer. Recordo Leopold Senghor a verberar a invasão de Conakri pelas tropas portuguesas (Alpoim Calvão a liderar o bem sucedido golpe...) e a ser vilipendiado de forma miserável pelo director do Diário de Notícias de então. Todos sabíamos que era verdade, que tinha sido um golpe feito pelos militares portugueses para libertar prisioneiros de guerra. Acção brilhante, meritória, que encheu de orgulho todos os militares de então. Eu inclusive.
Mas a «inteligência» da época dizia o contrário. Senghor era um pobre paranóico, inventara tudo aquilo para se armar em vítima. Basta ler o DN daquela época para se aquilatar da instrumentalização do regime. Um director de um jornal a papaguear mentiras, a fazer diagnósticos, a ser um pau-mandado sem escrúpulos... Hoje há tantos assim!...
Marinho Pinto tem posto o dedo em muitas feridas. É um «louco», um «paranóico», um «fora-da-lei»! O que diriam de algum juiz que na Alemanha nazi se recusasse a cumprir as directivas do nazismo?! Certamente o mesmo que dizem agora de Marinho Pinto!!! O que disseram então de Aristides Sousa Mendes?
Comigo já se passaram cenas similares.
Já pedi a exoneração do senhor Alto Comissário Contra a Corrupção ao então presidente da República. Caíu o Carmo e a Trindade!
Eu pedi ao Sr Alto Comissário uma informação sobre quem teria violado o dever de sigilo a que esta entidade estaria sujeita. Não me respondeu por escrito, mas pediu-me para lhe telefonar!
Eu, achando estranho este comportamento, fi-lo, na presença de diversas testemunhas.
Este, respondeu-me que não fora ele a violar o sigilo mas sim uma entidade hierarquicamente superior. Perguntei-lhe o nome, para a processar. Disse-me que não podia dizer pois era obrigado a sigilo!
Perante isto, requeri ao Senhor Presidente da República (general Eanes) a investigação do caso para eventual exoneração do titular do cargo pois estaria em causa o regular funcionamento das instituições!
Fui atacado de diversas formas, de forma subtil e pouco ética. O próprio alto comissário, depois de saber o teor do requerimento que fizera a sua Excelência o PR, teve a «amabilidade» de me escrever reiterando o seu dever de sigilo! Que nada me poderia dizer sobre o assunto!
Os factos que denunciei eram verdadeiros mas os adjectivos utilizados foram considerados ofensivos! Fui alvo de retaliação pelo visado. Acusações como «onde pára o dinheiro», ou «repressão sindical fascizante», «crimes de lesa-economia», foram considerados altamente ofensivas, «crimes» muito graves, e fui condenado pelos tribunais.
Agora pergunto a mim próprio qual o papel de certas entidades no germinar da corrupção e no alastrar das ilegalidades? Sim, qual o seu papel nesta promiscuidade?
Marinho Pinto tem carradas de razão. Há juízes que são culpados pelo estado a que se chegou. A justiça é injusta para o pobre, para o não detentor de poderes, para o economicamente débil. Pelo contrário, para o ricaço, para o detentor de poder, ela é servil, submissa, cúmplice. Tem dois pesos e duas medidas.
Mas admito que há algumas honrosas excepções! Sempre as houve e haverá. Os que remam contra a corrente.
Forte perante os fracos e fraca perante os fortes é o que ela é. Enfim, Marinho Pinto merece ir mais longe do que simples bastonário. Talvez a Presidência da República lhe assentasse bem. O País precisa de gente com coluna vertebral, com coragem, com capacidade de decisão.
Ao analisar retrospectivamente a triste figura do actual Presidente na Madeira, aquando do «bando de loucos» (como AJJ etiquetou a ARM), e perante o silêncio (cúmplice?) do PR , eu pergunto a mim próprio se Marinho Pinto estivesse no lugar de Cavaco se se calaria perante aquela desfaçatez? Creio bem que não!
Perguntar não ofende!... Até ver!...

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