sexta-feira, julho 04, 2008

«GOD SAVE AMERICA!!!»,



O dia 4 de Julho acordou ventoso e ensolarado como de costume. Elvis Presley, a linda catatua, tinha sido treinada para dizer hoje o conhecido estribilho: «God Save America!». Sandra, com um enlevo patriótico e uma dedicação aos animais muito acentuada, caprichou nas aulas. O aluno atroou os ares com a nova melodia...
__Gostava de ir hoje ao cinema. Quem me dera ver de novo aquele filme do Oliver Stone «Nascido a 4 de Julho» em que o Tom Cruise faz um papel brilhantíssimo, como mutilado de guerra. Mas já que não vou, resta-me apenas usar o trajo de gala...
Ao dizer isto apareceu com o vestido que lhe restava ainda, aquele que disse iria usar se fosse ao Casino Estoril ouvir uma sessão de fado. Então, com ar emocionado, cantou, o hino nacional americano para eu ouvir. Filha de uma cantora de ópera (a alemã Helga Meyer), ela fez jus ao ditado português:«filho de peixe sabe nadar»...
E nadou tão bem, tão bem, que até eu fiquei petrificado de emoção. «The Star Spangled Banner» nunca foi entoado com tanta fibra, tanto ardor, tanta garra! Ai se na América estivessem a ouvi-la, a esta hora da manhã, não restaria ninguém na cama!
«Oh, say, can you see by the dawn's early light
What so proudly we hailed at the twilight's last gleaming...»
E foi por ali fora, como uma maratonista da musicalidade, uma diva do belcanto, uma Maria Callas no esplendor, no auge da sua perfomance!
Nesta era da globalização, ser assim patriótica, amar assim a pátria, é lindo, lindo...
Embora ache a letra um pouco belicista (como também o é «A Portuguesa») gostei tanto, tanto que não me contive a bater palmas, interminavelmente...
Ela acrescentou, semi-ofegante, com muito orgulho: «sou americana até de baixo de água?»
«sou americana até em Neptuno ou em Marte!»
__Ai se a América te ouvisse agora __ disse eu, com ênfase__ não restaria nenhum americano sentado, nem os deficientes ficariam nas suas cadeiras!...
Estava a referir-me ao Tom Cruise, o excelente intérprete de «Nascido a 4 de Julho» um filme inolvidável onde se contesta a guerra do Vietename, mas em que o orgulho americano está latente ao longo de toda a trama.
__Para não ficarmos paralizados, vamos dar uma corrida pela areia da praia?
O seu pedido era uma ordem. Depois de ter feito alguns minutos de ginástica sueca, como é meu hábito matinal, para manter a linha e evitar as oxidações pouco salutares, lá fui, pé ante pé, acompanhando a diva que me saíu neste desterro tão dramático.
Os pés iam-se enterrando aqui e ali na areia virgem. De repente reparei em pegadas! Pegadas humanas!
__Tu tens razão, andamos a ser espiados! Olha para estas pegadas, vão conduzindo para aquela clareira! __disse eu com o coração aos saltos!
Caminhámos um pouco, embrenhámo-nos na clareira e... espanto dos espantos, uma bandeira americana espetada no chão!
Ao seu lado, uma embalagem de plástico, enorme, com os dizeres: «Uncle Sam»!!!
Abrimos o fecho éclair e... várias garrafas de vinho da Madeira e vinho do Porto!!! Latas de cerveja americana em abundância! Latas de sardinhas portuguesas!!! Latas de conservas americanas também!...
Seria um prémio para este dia tão especial? Estaríamos a ser filmados ou fotografados por alguém ? Com que intuitos? Por que não nos iam buscar aquele degredo?
Estas interrogações fervilhavam a nossa mente e Sandra foi ao cerne da questão:
_Estamos a ser usados por alguém! Oxalá seja amigo e não inimigo!
Quem será?

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