Estava às portas do FMI. Pediam-me a password. Digitei: «Estou à rasca». As portas abriram-se. Duas hospedeiras com um scaner verificaram o meu nível de radioactividade, pesquisaram as minhas motivações anímicas, o meu índice de agressividade. Tudo bem. Mandaram-me entrar.
Era ali o centro de pesquisas, o QG mais sofisticado.
Fui levado para o gabinete de observações. Disse-lhes que queria relatar o meu sonho estranho sobre Portugal.
Ao falar de Portugal, injectaram-me um produto e disseram-me :«é para o descontaminar»...
Fui colocado num auditório onde estavam os cientistas. Ao fundo um écran gigante. Eu colocado dentro de uma máquina com vários sensores ligados à cabeça.
No écran começaram a ser projectadas imagens. Primeiro, do consciente. Depois, do sub-consciente. Finalmente, do inconsciente.
O meu trajeto onírico foi ali passado a pente fino. O sonho mais recente ali estava e eu a vê-lo também no écran gigante.
Era um barco enorme, já velho, no meio da tempestade. Ondas alterosas, a tripulação à rasca...
Duas espécies de tripulantes: otários e chico-espertos...
Os primeiros tapavam os buracos abertos pelos segundos. Era o barco-Portugal!
Havia rombos enormes no casco. Zonas específicas eram bem indicadas: na justiça, no futebol, nas autarquias, na saúde...os chico-espertos eram autênticos piratas a bordo ...
No fato dos chico-espertos podia ler-se: «roubar é legal!»
No outro, no dos otários, lia-se:«roubar é crime!»
O barco ia vogando ao sabor dos ventos, mas sempre comandado por chico-espertos. Um deles, de ar boçal, cabelos desgrenhados e olhar alucinado exclamava: «não liguem aos otários, são um bando de loucos!»
Um, mais parecendo um pirata, era o chico-esperto da banca, só exclamava: «eu durmo com a consciência tranquila»; saíra da prisão e estava em prisão domiciliária...
Enfim, cenário dantesco.
Os cientistas do FMI estavam abismados. O presidente, mandou parar, retirou-se, supõe-se que foi ao WC vomitar.
Mandou uma mensagem urgente para Portugal:«Suspendam de imediato os trabalhos. Regressem à base.Antes de injetar qualquer auxílio há que calafetar o barco e retirar os chico-espertos da torre de comando»...
6 comentários:
excelente post
Um sonho que daria um filme: Alegoria de uma Bancarrota. Infelizmente nós,sem culpas no cartório, ou talvez tenhamos algumas,pois Sócrates está no segundo mandato do seu governo,não estávamos livres de ser os figurantes porque somos, de facto, as verdadeiras vítimas deste naufrágio. Entre vivos e mortos, diz o povo, alguém se há-de salvar mas o meu cepticismo é tal que não creio que melhores tempos venham antes de quinze a vinte anos. O sistema capitalista tal como o conhecemos está em colapso e não há salvadores munidos de poderes especiais que injectem outros compostos para solucionar a situação que não os do sacrifício duro e puro.
Belo post!
Bem-hajas, Rouxinol!
Beijinhos
Isamar:
Oxalá bancarrota ainda não venha...
Temos a bancarrota cívica, ética, moral... e basta!
Bravo, belo texto!
Apresentado de forma irónica e bem
representado, no palco da vida...
Se ficou dormindo, à sombra dos Descobrimentos... Geração à Rasca -
os mais novos, os mais velhos, todos nós.
obrigada por me escrever.
Maria luísa
Eheheheeh...mas que sonho amigo...então e não é que o teu sonho foi assim...digamos...bem verdadeiro...! eheh espectáculo de sonho...já agora tenta sonhar também algo de bom e avisa.
Feliz Páscoa com muito amoe, alegria e PAZ.
Beijinho lá da minha Lua
SOL
Maria Luisa e Lua:
Páscoa Feliz e bons sonhos!
Já basta o pesadelo nacional!
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