O médico estava siderado com o doente. Bem ilustre por sinal, mas muito doente. Desempenhava um elevado cargo mas reagia muito mal a certos condicionalismos. Deixara de ter certezas absolutas (também excessivas) e dera em desconfiar de tudo e de todos...
__Imagine, senhor doutor__ dizia a ilustre criatura__ lá na Madeira, sentou-se na minha mesa sem ter sido convidado, se calhar ouviu todas aquelas pilhérias que eu disse sobre o Sócrates. E eu, a pensar que estava «em família»...
__Não se preocupe com essas minudências__replicou o psiquiatra.__O homem tinha um só objectivo, matar a fome. Nada mais. Não imagine coisas. Está com delírios persecutórios, meu caro, e, no elevado cargo que ocupa, pode ser muito mau para o país. Tenha moderação nos comentários públicos. Além do mais, ser vigiado, para quem tem a consciência tranquila, não deve ser motivo de preocupação. Eu, desde novo me habituei a ser vigiado e sei que o sou constantemente...
Será que o médico é ele próprio paranóico? Isto pensou o doente, lá com os seus botões. Por isso interrogou-o, curioso:
__O senhor anda a ser espiado há muito?__perguntou o doente ao médico.
__Desde que nasci até hoje!
O doente fez questão de se levantar. O médico era louco, de certeza, só assim podia fazer aquele comentário. Antes de se despedir quis tirar uma dúvida. Inquiriu-o assim:
__O senhor doutor anda a ser espiado por quem?
__Olhe, senhor professor__ gargalhou o médico com um sorriso largo__ nós, os católicos, sabemos que Deus nos vigia constantemente, por isso só praticamos o bem, sabemos que Ele nos observa e nos irá julgar. Faça como eu, admita sempre que está a ser espiado e nunca cometa erros ou faça comentários que poderão ser inconvenioentes. É bom para si e para todos nós!
Um comentário:
Tá boa.
Afinal o rapaz era um gorducho e todos sabem que os gorditos são bonacheirões e amigos do convívio. bfds
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