Graças ao seu romance « o remorso de baltazar serapião» publicado em 2006 (Edições Quidnovi) este escritor venceu o prémio José Saramago.
Obra de fôlego, uma metáfora original onde se procura anatematizar certo machismo lusitano de contornos medievais, o escritor procura centrar-se numa Idade Média onde a miséria e o subdesenvolvimento são os pais de comportamentos aviltantes sobre a mulher; utiliza uma linguagem inovadora e prenhe de terminologias adequadas ao contexto temporal então vigente, zurzindo no machismo lusitano sem dó nem piedade.
Para alguns leigos poderá ser um livro pouco tragável, mas, para quem tem um mínimo de conhecimentos sobre a problemática literária, é uma obra recheada de imagens um tanto ao quanto metafóricas, quiçá hiperbólicas, mas imbuída de uma criatividade fecunda dando uma imagem poética (embora em prosa) sobre uma época onde imperava a bruxaria e o temor pelas coisas do Além. A violência sobre as mulheres adentro do universo familiar e no contexto medieval (com senhores e vassalos...) está bem retratada e as cores mórbidas sobressaem com eloquência.
Este pintor de paisagens humanas usa tintas sombrias em dosagens suficientemente fortes e ousadas para atingir um único desiderato: denunciar a prepotência sobre a mulher, ao longo de um período histórico demarcado, mas que, ainda hoje (embora em graus bem menos acentuados), tem sido um denominador comum nesta lusitana terrinha, de brandos costumes e de odiosas perseguições.
Não merecerá o agrado geral, é óbvio, mas tem aquele toque de singularidade que faz a diferença. Não houve favor na atribuição do galardão, houve, isso sim, reconhecimento pelo cunho inovador. Inovar não é tudo, mas é um caminho que poderá merecer contestação, muito embora só a coragem para o trilhar já mereça encómios.
Parabéns, e que o futuro seja uma lufada de ar puro no cinzentismo em que estamos mergulhados.
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