Meu caro Mestre:
Sempre me falou de si com respeito e admiração o Dr Orlando Taipa, um homem que passou em Vila do Conde momentos desagradáveis por causa da política. Contou-me que passou alguns agradáveis momentos consigo e com José Régio, no Diana Bar na Póvoa de Varzim, sobretudo.
Dizia-me, sobre si mais ou menos isto: para ser como Régio, no cinema, precisa de uma obra que o imortalize, um golpe de asa, uma obra capaz de ser um ícone do cinema.
Enfim, respeitava-o e apreciava-o, mas sentia que lhe faltava qualquer coisa. Eu também concordo. Falam mais de si pela sua provecta idade do que pela qualidade intrínseca do seu talento. Os seus filmes são um pouco monótonos e rotineiros. Falta-lhe a pimenta, a ousadia, não a pornografia futil, essa não enobrece ninguém Mas a sátira social, a crítica mordaz aos costumes, a catilinária ao modus vivendi actual, essa sim. Essa imortalizou Camilo, celebrizou Eça.
Enfim, resumindo e concluindo, vou aos «finalmentes»: por que não imortalizar na tela essa figura multifacetada, excêntrica, ambígua, capaz de todos os excessos mas de um coração generoso, capaz de amar a música e a poesia, com igual intensidade com que odeia (adversários) também. Por que a vida é isso mesmo: amor e ódio!
Homem culto, adora animais, sobretudo cães e «gatinhas»...
Ele merece ser aprofundado pela pena de um Eça, diria mais até, de um Jorge Amado lusitano. E não vejo ninguém capaz de o fazer com isenção, desassombro, imaginação e graça.
Eu ajudo a elaborar o guião. Há que imortalizar este homem que personifica um pouco o que há de mais genuíno no Norte. Impregnado de virtudes (mas também de defeitos, ou «vícios»...), figura altamente polémica, capaz de arrebatar paixões exacerbadas, é o protótipo do herói a imortalizar. Não branqueando a sua imagem, mas expondo-a assim a nu, com todas as tonalidades de uma personalidade multifacetada, riquíssima de conteúdos, polémica q.b. para fazer do seu filme uma obra digna de antologia. E imortal, uma «Dolce Vita», lusa...
Refiro-me como é óbvio ao simpático dono do cão «Dragão», esse apreciador de «Lolitas», esse homem de fé, que é capaz de tudo por amor...e também por ódio!
Pode crer que faz falta uma obra destas. Sátira realista, enaltecendo as virtualidades do protagonista e não escamoteando os «malabarismos » de que é capaz, também.
Título?
«Mergulhando no calor da noite!»
2 comentários:
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de noite e de dia,
pai nosso
e
avé maria !
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aquele abraço,
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Também passei grandes momentos no Diana Bar, mas era ali para os lados da Av. da Liberdade.
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