quarta-feira, março 28, 2007

O PAPÃO













Atrás da porta, erecto e rígido, presente,

Ele espera-me! E por isso eu me atrapalho

E vou pisar, exactamente,

A sombra d'Ele no soalho!




__ "Senhor Papão!

(Gaguejo eu)

«Deixe-me ir dar a minha lição!

Sou professor no liceu...»




Mas o seu hálito

Marcou-me, frio como o frio duma espada.

E eu saio pálido,

Com a garganta fechada.




Perguntam-me, lá fora: __ «Estás doente?»

__«Não! (grito-lhes)... porquê?! » E falo e rio, divertindo-me.

Ora o pior é que há palavras em que eu páro, de repente,

E que me doem, doem, doem, prolongando-se e ferindo-me...




Então, no ar,

Levitando-se, enorme, e subvertendo tudo,

Ele faz frio e lua como um luar...

E eu ouço-lhe o riso mudo!




__«Senhor Papão!

(Gaguejo eu) por quem é,

Deixe-me estar aqui, nesta reunião,

Sentadinho, a tomar o meu café!...»


José Régio

Nenhum comentário: