Guerra Junqueiro
Ele vem aí. Há que o benzer para o libertar dos pecados originais. Nada melhor do que recordar o imortal Guerra Junquero. O tempo é de profunda meditação. Até porque já temos o padre Maçarico que com a sua bênção (qual vacina celestial...) cura a Gripe A!
A propósito, a senhora ministra da saúde já o contactou para administrar bênçãos em vez de se gastar uma fortuna em vacinas polémicas, com efeitos secundários tenebrosos?!
Se ainda o não fez, está a dar razão àquelas vozes que dizem ser este governo « o da oportunidade perdida!»
GUERRA JUNQUEIRO, regressa, o país precisa da tua sábia eloquência, do teu acendrado amor ao chiste, do teu apego à saborosa sátira, mais saborosa ainda que uma sardinha assada em cima de um naco de broa, lá pelo S. Pedro, na praia da Póvoa de Varzim!
A BENÇÃO DA LOCOMOTIVA
A obra está completa. A máquina flameja,
Desenrolando fumo em ondas pelos ares
Mas, antes de partir, mandem chamar a Igreja,
Que é preciso que um bispo a venha baptizar.
Como ela é concerteza o fruto de Caim,
A filha da razão, da independência humana,
Batam-lhe na fornalha uns trechos em latim
E convertam-na à fé católica romana!
Devem nela existir diabólicos pecados,
Porque é feita de cobre e ferro; e estes metais
Saem da natureza, ímpios, excomungados,
Como saímos nós, dos ventres maternais!
Vamos esconjurar-lhe o demo que ela encerra
Extraír a heresia ao aço lampejante!
Ela acaba de vir das forjas de Inglaterra,
E há-de ser, com certeza um pouco protestante!
Para que o monstro corra em férvido galope
Como um sonho febril, num doido turbilhão,
Além do maquinista é necessário o hissope
E muita teologia... além de algum carvão.
Atirem-lhe uma hóstia à boca fumarenta
Preguem-lhe alguns sermões, ensinem-lhe a rezar,
E lancem nas caldeiras um jorro de água benta
Que com a água do céu talvez não possa andar!
Guerra Junqueiro
Nota: o padre Maçarico será capaz de benzer o futuro TGV e erradicar-lhe os pecados originais?!
Se for, não duvido das suas potencialidades transcendentais, há que o contratar já! a empreitada ficará mais barata, não haverá derrapagens e o próprio Tribunal de Contas congratular-se-á com os resultados finais!
9 comentários:
Não conhecia o Guerra Junqueiro.
Nada como visitar os blogs e aprender.
beijos
Não sou completamente contra o TGV, sou mais contra as coisas que se não fazem. Aquelas se fazem, de uma maneira ou outra, apesar dos pecados, sempre servem para algo ou servem algo. O problema está depois naqueles que estão por detrás dessas obras, que esbanjam dinheiro público a torto e a direito sem regras algumas. Esses sim são os maiores pecados das nossas obras públicas.
Um abraço
Victor Gil
Mariana.
Ainda bem que assim acha. A cultura está onde menos se espera... Há blogs pra tudo...
Victor Gil:
De facto as derrapagens são o grande pecado destas coisas...
Que bom que é "ver" Guerra Junqueiro", é um colírio para os olhos.
Bem-haja por o relembrar!
Bj
maria teresa:
Essa do «colírio» está muito original. Os olhos bem precisam, por este mundo fora vemos cada coisa, que até ficamos de olhos em bico...
1 bj
Fantástico e actualissimo este nosso Guerra..que tão bem nos descreve na sua Pátria...ahahahah
«Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (…)
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida intima, descambam na vida publica em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na politica portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (…)
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do pais, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre, - como da roda duma lotaria.
A justiça ao arbítrio da Politica, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas; (…)
Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)»
Um abraço
Marieke:
De facto esse texto é INTEMPORAL!
Grande Guerra Junqueiro que se imortaliza todos os dias!
Mariazita:
Bom fim de semana e boa praia por essas bandas... que inveja, o sol tropical sempre me seduziu... com uma caipirinha e uma tolha estendida, um sol!!!
Postar um comentário