sábado, março 12, 2011

Sobressalto Cívico! __ O discurso improvável!

O discurso improvável (obviamente ficcionado...) do economista sério, honesto chamado Aníbal Cavaco.

Portuguesas
Portugueses:

É hoje um fato incontroverso que o país está de tanga, como nunca esteve. Este sobressalto cívico desta geração que se afoga na precariedade e no desemprego forçado é legítima, é pedagógica até. Os que agora fazem erguer a sua voz nas ruas não têm acesso à comunicação social, não têm poder de decisão, não têm capacidade financeira para encetar projetos, mas têm potencialidades adormecidas que importa reconhecer. Há que olhar com atenção para as suas reivindicações legítimas.
A culpa do actual status quo não é da exclusiva responsabilidade do contexto internacional, é também dos decisores políticos indígenas que têm contribuído para a actual situação. E muito, diga-se em abono da verdade mais genuína.
O político Cavaco Silva (que é meu parente mas com o qual não partilho afinidades cívicas nem princípios éticos... é bom que se diga frontalmente), é também um dos responsáveis remotos do actual caos. O progenitor do monstro despesista foi ele, como disse e muito bem um conhecido economista poveiro.
Ele sabia, e não podia alegar ignorância, que é nos ciclos de pujança económica e financeira que se preparam as reformas estruturais para enfrentar situações de crise, de ciclo negativo, de recessão. Mas não o fez como seria imperioso. Deixou-se caír no engodo populista e permitiu que a função pública crescesse em demasia, desafiou os alertas salutares do Tribunal de Contas, do Provedor de Justiça__ a quem apodou de «forças de bloqueio»...) e de alguns pensadores prudentes e clarividentes a quem acoimou de profetas da desgraça e aves agoirentas... permitindo um crescimento desmesurado do aparelho de Estado com todas as cargas negativas daí advenientes. E deu no que deu...
Não foi só ele, é justo sublinhá-lo. Guterres, Barroso e Sócrates também contribuíram, cada qual a seu modo, para o perfil que se vislumbra no rosto da Pátria. Ela está anémica, esfarrapada, subnutrida e desmotivada. Anda pelas ruas da amargura, bem sabemos. Todos são culpados, que ninguém se possa eximir às suas responsabilidades.
Portugal é hoje, a par da Grécia e da Irlanda, muito embora em menor escala, um paradigma de irracionalidade económica, de despesismo galopante, de negação a todos os níveis.
Falta de planeamento, falta de supervisão, falta de carácter também da parte de alguns decisores políticos. A corrupção emerge como um tsunami de gigantescas proporções, ameaçando fazer ruir os alicerces desta Pátria multi-secular.
Estas novas gerações têm o futuro hipotecado. Por nós, os que estivemos ao leme, os que tivemos cargos de responsabilidade. Ignorámos os avisos à navegação feitos por alguns opositores a quem apodámos de «radicais», anatematizando desta forma as suas visões justas, os seus raciocínios atentos, as suas análises sensatas. Há que mudar radicalmente. Há que seguir outro rumo!
«Radicais», «forças de bloqueio», «profetas da desgraça», eis alguns mimos lançados a pessoas judiciosas, equilibradas, prudentes. O país deve meditar nestas minhas palavras.

Como economista, sei o que é o «over-trading», que nas empresas pode ter efeitos nefastos, levando-as à falência. Os países também podem ser vítimas de uma espécie de «over-trading» criando estruturas gigantescas num dado contexto de prosperidade, mas que serão desastrosas quando a actividade económica diminuír.
O populismo e o desejo de ganhar eleições a qualquer preço, os fins justificando os meios, enfim a demagogia que norteou os destinos da Pátria e está na génese, na patogénese da enfermidade que ora se deteta. A culpa não deve morrer solteira: casa-se bem com todos os líderes que cá fizeram figura bem triste.
Governos, autarquias, governos regionais, grandes empresas públicas ou semi-públicas, parcerias público-privadas, todos com a sua quota-parte de culpas no cartório. Mordomias e sinecuras sem conta atulharam o país de lés a lés.
O próprio presidente da República foi agente passivo e permissivo. Nunca verberou publicamente os desmandos na banca (onde tinha e tem alicerces eleitoralistas), nunca fustigou como se impunha a corrupção reinante.
A justiça é um fator de desmotivação para o investimento estrangeiro. É até um factor de descrédito nacional tantos e tão deprimentes são os casos que têm vindo a lume e que não são nada abonatórios para os seus agentes. O país merece outra geração de políticos, estes estão no limiar da putrefação. O lodo invadiu as instituições que deveriam ser pilares da honra. O vil metal tudo comanda, tudo controla, tudo subjuga. Dizem que é como o azeite: por onde passa, amolece... tudo e todos! Todos se vergam a ele, depudorada e ignominiosamente!
As eleições são tudo menos pedagogia, esclarecimento, elucidação. Folclore, circo, palhaçadas sem conta. A democracia que hoje impera em Portugal é uma caricatura. As leis, longe de incentivarem a práticas decentes e honestas, são uma alavanca potenciadora de fraudes, de evasões, de malabarismos de todo o jaez. Portugal definha. A economia está de rastos. O país está de tanga.

PEC's e mais PEC's só contribuem para a definhar ainda mais, os juros altíssimos que pagamos vão fazer aumentar ainda mais a precária situação que já perdeu sustentabilidade.
Que fazer?
Os políticos podem limpar as mãos à parede. O país agradece a substituição rápida destas criaturas de cera que passam a vida a sorrir, a manifestar euforias hipócritas, quando o povo não sorri, o povo não anda eufórico, o povo não se dá ares de triunfador. O povo sai à rua e ergue a sua voz.
O povo sai à rua manifestando a sua ira, o seu desconforto, a sua dor por ter ao leme da nau tão maus pilotos.

4 comentários:

Pena disse...

Estimado Amigo Precioso de Excelência:
Uma bela análise socio-política do estado da nossa Nação.
Feita pelo ser prodigioso e fantástico que é o meu amigo ilustre nestas mágicas reflexões que fazem reflectir profundamente.
Estou totalmente de acordo, o Presidente podia ir um pouco mais longe.
Continuaremos sempre na luta árdua contra o poder estabelecido que não satisfaz ninguém.
Abraço amigo ao seu génio e talento fabulosos e de pasmar pelo brilhantismo de si e do que concebe com notabilidade que transcende e preenche por completo.
Grato pela simpatia da sua visita.
Abraço amigo de respeito.
Sempre a admirá-lo e ao seu excelente sentir a vida e o mundo complexos mas imensos e plenos em que temos de viver.

pena

É perfeito e divinal.
Bem-Haja, inconfundível amigo sensível e fantástico.
É sublime, sabia?

José Leite disse...

Meu caro Pena:

Muito embora o seu estilo hiperbólico seja peculiar, agradeço os termos encomiásticos pois sei que também comunga deste sentimento de distanciamento face ao eclodir de alguns fenómenos que roçam a patologia social e a asfixia democrática a todos os níveis.
Bem haja meu bom amigo de excelência.
Sei que há quem tenha medo de se pronunciar e compreendo perfeitamente essa cautela. Andam por aí jagunços encapotados a mando de eminências pardas a tentar silenciar quem é vertical quem não compactua com o lodo reinante.

Graça Sampaio disse...

Pois! Mas o "Pguesidente" havia de sair também... Ou ele não teve qualquer responsabilidade no estado das coisas? O que fez ele, enquanto PM, quando o dinheirinho corria a rodos da UE? Aumentou desmedidamente os funcionários públicos, criou serviços inúteis a dar com um pau, satisfez as suas clientelas, não soube acautelar o futuro, não teve visão de nenhuma ordem. E agora canta de cantareira?
Não me parece que tenha grande autoridade para ofazer.

José Leite disse...

carol:

Não deixa de ter carradas de razão...